A música daquele novo anúncio que passa na rádio não lhe sai da cabeça? Até nem gosta do Tony
Carreira, mas não consegue parar de assobiar os “Sonhos de Menino”? Relaxe! Não está sozinho: a
ciência tem uma explicação.
Frequentemente, acordamos de manhã e damos por nós a trautear uma melodia, por vezes sem
sabermos sequer a sua origem – sem o conseguir evitar, passamos o resto do dia, ou até da semana,
com essa música na cabeça. Intitulado pela ciência de Involuntary Musical Imagery (INMI) ou Stuck
Song Syndrome (SSS), e mais vulgarmente conhecido por earworm (em português “minhoca do
ouvido”), este fenómeno é na verdade bastante frequente e consiste numa música ou trecho musical
que é constantemente relembrado e repetido mentalmente.
De uma forma geral, são canções fáceis de memorizar, que poderão surgir espontaneamente ou ser
desencadeadas, por exemplo, por algum tipo de emoção associada.
Num estudo publicado em 2016
na revista da American Psychological Association, os investigadores chegaram à conclusão de que
existem certos fatores preditores da possibilidade de uma música se vir a tornar num earworm,
avançando que estas são normalmente mais rápidas e simples em termos melódicos.
James Kellaris, da Universidade de Cincinnati, descreve este fenómeno como uma “comichão
cognitiva” (do inglês cognitive itch): certas músicas funcionam como picadas de mosquito, criando
uma “comichão” que apenas pode ser “coçada” pelo próprio reproduzir da música na cabeça –
quanto mais o cérebro “coçar”, pior a “comichão” irá ficar.
De uma forma geral, o fenómeno das
“minhocas do ouvido” não apresenta qualquer tipo de problema, mas ainda assim, em alguns casos
não tão frequentes, poderá causar perturbações desde distração a ansiedade, sendo que indivíduos
que o experienciem como algo extremamente desagradável e stressante estão mais sujeitos a
apresentar sintomas de perturbação obsessivo-compulsiva.
O que é certo é que quanto mais tentamos suprimir a canção, mais o seu ímpeto aumenta, num
processo mental conhecido como “efeito de ricochete”, desenvolvido pelo psicólogo americano
Daniel Wegner. Desta forma, ao tentarmos ver-nos livres destas “minhocas”, parece que o melhor será
não tentar bloqueá-las de uma forma ativa, mas sim tentar empreender noutro tipo de atividades
distratoras, como por exemplo praticar atividade física, ouvir diferentes tipos de música, ou até
mesmo mastigar pastilha elástica.
Na Internet é possível encontrar listas intermináveis de soluções
para todos os gostos.
Um grupo de investigadores da University of St Andrews na Escócia desenvolveu uma fórmula
matemática que pode ser aplicada na explicação deste fenómeno. Segundo estes investigadores,
aqui fica a lista do top20 de algumas das mais famosas “minhocas de ouvido” de sempre:
1) Queen – ‘We Will Rock You’
2) Pharrell Williams – ‘Happy’
3) Queen – ‘We Are The Champions’
4) The Proclaimers – ‘I’m Gonna Be (500 Miles)’
5) The Village People – ‘YMCA’
6) Queen – ‘Bohemian Rhapsody’
7) Europe – ‘The Final Countdown’
8) Bon Jovi – ‘Livin’ On A Prayer’
9) James Pierpoint – ‘Jingle Bells’
10) Baha Men – ‘Who Let The Dogs Out?’
11) Psy – ‘Gangnam Style’
12) Rick Astley – ‘Never Gonna Give You Up’
13) Journey – ‘Don’t Stop Believin’
14) Mark Ronson – ‘Uptown Funk’
15) Taylor Swift – ‘Shake It Off’
16) Michael Jackson – ‘Beat It’
17) Kaiser Chiefs – ‘Ruby’
18) The Rocky Horror Show – ‘The Timewarp’
19) Meghan Trainor – ‘All About The Bass’
20) Culture Club – ‘Karma Chameleon’
João Silva
- Mestre em Música pela Escola Superior de Música de Colónia;
-Trompetista e Professor de música e investigador no Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade de Évora;
- A realizar o Doutoramento em Música e Musicologia na Universidade de Évora
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