Cecília, 9 anos.
" - Sabes, vem aí o Natal! Falta pouco mais do que uma semana...
- É verdade!
- Todos os anos é uma confusão, sabes?
- Como assim?
- Este ano, já está mais ou menos pensado assim: no dia 24 vou com a mãe para a casa dos avós e janto lá mas não abro os presentes; depois, o pai vem-me buscar, vamos para a casa dos avós, abro os presentes e durmo lá; no dia 25, acordo, tomo o pequeno almoço com o pai e vou novamente para a casa da mãe e dos avós, abro os presentes e fazemos o almoço de Natal e depois fico por lá...
- O teu Natal é muito movimentado mesmo, é sempre assim?
- É! Mas, todos os anos muda; este ano fico o dia 24 com o pai e o dia 25 com a mãe; para o ano, tal como no outro, trocamos! Mas sabes, a minha sorte é que os meus pais moram por aqui perto; às vezes lembro-me da minha amiga Mónica que todos os anos não sabe se fica por Lisboa ou se vai para Faro! E eu gosto mesmo de conseguir estar com os dois...
- No meio dessas "andanças" todas, afinal de contas , consegues lidar bem com essa confusão...
- Consigo pois! Sabes, no fundo, no fundo, eu gostava mesmo de não ter que andar de um lado para outro e estarmos todos juntos mas, conseguimos estar à mesma só que de forma diferente do Manuel lá da escola; e o Pai Natal encontra-me sempre... às vezes, mas isto é só a minha imaginação, eu acho que oiço os sininhos e as renas a acompanhar-me quando vou de um lado para outro... mas não te preocupes, é só a minha imaginação... "
A adaptação e a capacidade de poder continuar num encantamento natalício procurando, talvez ,aquilo que já teve algures num tempo que não se recorda mas que se mantém constante nas memórias das células, é riquíssima no mundo interno de qualquer criança; para o adulto, o recheio de memórias sobre o Natal compõe-se a partir de vivências armazenadas ao longo dos tempos, do seu tempo que não o tempo da criança... afinal de contas a criança vive, revive e recria um mundo só seu que lhe traz igualmente magia mesmo que a tenha que repartir entre dois mundos...
Mas afinal, o que é isto do Natal?
Com diferentes datas, com diferentes significados sociológicos, em diferentes religiões, Natal significa nascimento. É, para nós, ou para muitos de nós, família. E cada vez que se celebra o nascimento de uma criança, celebra-se também o nascimento de uma nova família.
Existem diferentes tipos e modelos de famílias, cada vez menos nos prendemos a uma ideia de família tradicional, em que os pais têm papeis e funções fixas. Cada vez mais nos permitimos olhar e aceitar uma diversidade de modelos familiares que nos transportam para a possibilidade de organizar e estruturar diferentes modos de subjectividade emocional e psicológica.
Para uns, o Natal é passado em casa com o pai a mãe, o avô, a avó, os tios e os primos… para outros, o Natal é comemorado em vários sítios. Não existe uma receita ideal para passar o natal- nenhuma forma é melhor ou "mais saudável". O mais importante é a existência de vínculos e afectos tranquilos e apaziguadores que permitam que a criança possa movimentar-se nestes ciclos familiares de forma o mais serena possível.
E já agora, que se esteja a preparar um Feliz Natal!!
Drª Inês Lamares
O Canto da Psicologia
Drª Inês Lamares
O Canto da Psicologia
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