A capacidade
para pensar, aprofundadamente, como exercício reflexivo e compreensivo de si
mesmo e dos outros, é adquirida ao longo do desenvolvimento, em estreita
ligação com as relações significativas que são estabelecidas. É no contexto das
relações, da sua qualidade, da possibilidade que existe no seio destas de
comunicar, conter, entender e responder aos vários conteúdos e estados
emocionais, que surge a capacidade do indíviduo para se pensar a si e aos
outros.
Nas crianças é
esperado que se observem comportamentos que denunciam alguma limitação a este
nível. Estão ainda a construir a sua capacidade para pensar, o seu aparelho
mental é ainda imaturo e tendencialmente agem de acordo com o que estão a
sentir sem que tenham consciência disso, como um impulso e uma encenação do que
se passa na sua mente. Falta ainda o espaço interno que permite que estas
vivências e estes sentimentos sejam filtrados, elaborados e contidos pelo
exercício pensante, compreensivo, atribuidor de significados e, por isso,
tranquilizador.
Algumas
situações do quotidiano pertencem a este tipo de manifestações, uma birra, um
movimento agressivo... Particularmente se parecem desproporcionados à
circunstância real ou cuja intensidade tem um grande impacto.
No consultório
também acontece com alguma frequência. O sentimento que não está ainda
mentalizado e longe de poder ser comunicado é agido no espaço terapêutico. Não
é assim tão raro que o terapeuta se sinta invadido porque de facto a criança
(ou adolescente) tem necessidade de exprimir a sua angústia e inscrevê-la nesse
espaço de uma forma intensa e muitas vezes caótica. É necessário conter, é
necessário compreender para que se crie condições para a imprescindível capacidade
de contenção do terapeuta, é necessário que antes de ser possível ser pensado
pelos dois, seja suportado e pensado pelo terapeuta, disponibilizando por
inteiro a sua capacidade de mentalização.
David Levisky defende
que existe sempre uma comunicação expressa nestas manifestações comportamentais
e verbais e que é a sua compreensão que permite a elaboração mental. Este autor
e psicanalista brasileiro esclarece que estas manifestações incidem sobretudo
na fase da infância e da adolescência mas que quando acontecem de forma intensa
e repetida pode significar risco de estruturação patológica da personalidade.
Na relação
terapêutica trabalha-se no sentido de desenvolver um espaço mental que permita fornecer
condições para a transformação da ação em pensamento, para passar da ação à
exploração dos seus significados. Assim passa a ser possível falar sobre esses
conteúdos mentais e seus significados, elaborando-os e reparando-os em
conjunto.
Drª Filipa Rosário
O Canto da Psicologia
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