quinta-feira, 5 de julho de 2018

O direito às férias...






Cada vez mais nos deparamos com uma sociedade e uma cultura em que o ónus passa pelo fazer, ocupar, ter, preencher... em que querer estar só, querer estar consigo, pensar, ou simplesmente não querer ir sair, não querer estar em socialização, não querer fazer coisas é quase sinónimo de “estar deprimido”. Bem, muitas vezes poderá sê-lo mas, não necessariamente.

Vivemos a correr para que o tempo passe, procuramos constantemente as coisas que nos entretêm, que nos distraem, que nos ocupam (além de todo o tempo que já passamos ocupados a trabalhar), passamos, de forma inconsciente e sem disso nos apercebermos,  muito tempo a tentar não viver o tempo que temos, para nós, para a família, para as coisas de que mais gostamos... cada vez mais nos é difícil, enquanto parte integrante desta sociedade, tolerar as coisas que sentimos e deixar que elas tomem o poder por uns instantes ou por uns dias,  retirando-nos do "mundo" externo e promovendo em nós diálogos internos necessários; não temos ( nem queremos ter) tempo!

Vemos isto nos adultos e, naturalmente, a maior parte das nossas crianças são espelho disso! Com a  aproximação das férias, principalmente das férias escolares,  ouvimos e vemos os pais muito aflitos na decisão de quais as actividades em que vão ocupar os filhos nas férias. Sentimos, deste lado, a impossibilidade de muitas crianças poderem estar de férias, isto é, sem fazer nada que tenha associado o adjectivo obrigatório. Muito possivelmente porque para nós, adultos, também nos é difícil estar só de férias, apesar de passarmos muito do nosso tempo a ansiar, a idealizar e até mesmo a sonhar com o momento em que elas chegam.

As crianças cada vez mais se deparam também com estas dificuldades de ficar só, simplesmente sem fazer nada, sem receio de que este tempo seja invadido pelo tédio;  afinal de contas começam desde cedo a vivenciar a angústia dos adultos perante a possibilidade de terem tempo "vazio" e não conseguirem preenchê-lo de forma securizante; quantos de nós não ouvimos crianças e adolescentes dizer que estão fartos da escola, que querem que cheguem as férias e quando elas chegam ficam aborrecidos porque não têm nada para fazer do que gostam ou do que querem, mas sim, o que simplesmente os pais decidiram que o fizessem. É evidente que há um principio da realidade que não é facilitador deste quadro, seja pela pela idade da criança, seja pela falta de suporte familiar, disponibilidade dos avós e afins, que limitam e muitas vezes impedem de os poder deixar à vontade; importa no entanto que fique claro que esta nossa posição não é um estímulo à anarquia completa e a uma inércia total, o que queremos salientar e acentuar, é a importância do  equilíbrio entre o ocupar e o lazer, priorizando acima de tudo o bem estar dos filhos, dos pais e da família em pré e época de veraneio... 

Por isso, permita-se, sempre que lhe for possível, libertar-se da farda profissional  (interna e externa :-) ) e seja só um pai ou uma mãe, em pausa familiar....




Drª Inês Lamares




Sem comentários:

Enviar um comentário