Hoje em dia
é largamente aceite, tanto por profissionais de diversas áreas como na população
em geral, que o corpo e a mente funcionam como um todo, intimamente
interligados. De facto,
todos nos apercebemos da forma como o que experienciamos e sentimos tem uma expressão
corporal, através de algum tipo de sensação, algo que se passa no corpo. Por
vezes é o estômago a ressintir o nervosismo, um aperto no peito a denunciar a
vivência de alguma angústia ou as pernas a perderem a força quando infelizmente
chega alguma notícia grave. António Damásio diz, no “Livro da Consciência”, que
“o mundo das emoções é, sobretudo, um mundo de ações levadas a cabo no nosso
corpo, desde as expressões faciais e posições do corpo até às mudanças nas
vísceras e meio interno”. Depois, será processado a nível mental, de acordo com
a estrutura cerebral, a personalidade e o funcionamento mental de cada um.
A Psicossomática debruça-se sobre a forma
como o factor psicológico está implicado na doença orgânica. Neste campo não há
dúvida que a dimensão relacional e o biológico são complementares, influenciando-se
mutuamente. Sami-Ali, psicanalista dedicado à disciplina da Psicossomática, defende
que as pessoas que têm um mundo imaginário mais rico estão mais protegidas de
doenças orgânicas. Quer isto dizer que, pessoas que possuem melhor capacidade
de pensar, de representar mentalmente e refletir sobre diferentes
circunstâncias externas e/ou internas potencialmente perturbadoras do seu
estado mental e físico, são mais capazes de elaborá-las e reagir
adaptativamente às mesmas. Portanto, o que é passível de ser “digerido”
mentalmente não necessita encontrar no corpo um escape, uma forma de expressão.
Recentemente,
num sentido diferente e complementar surgiram descobertas das áreas da medicina
e psiquiatria que vieram aumentar a compreensão sobre a relação entre corpo e
mente. A comunidade científica parece unânime na afirmação de que o intestino funciona
como um segundo cérebro. Percebe-se agora que não é só o cérebro a afetar o que
passa a nível intestinal mas o contrário também acontece, o sistema nervoso
entérico (conjunto de neurónios presente no sistema digestivo) também afeta o
funcionamento cerebral, denominadamente a nível das emoções. Trata-se de uma
comunicação bidireccional entre cérebro e intestino, podendo a informação ter
origem tanto a nível intestinal como a nível do cérebro.
As bactérias
existentes no intestino (flora intestinal) constituem um fator determinante no
funcionamento do intestino e na forma como este comunica com o cérebro, sendo que
atualmente é reconhecido o papel destas em doenças psiquiátricas. O psiquiatra
António Sampaio esclarece que muitas das consultas de gastroenterologia são
encaminhadas para psiquiatria. Explica também como o intestino pode afetar o
bem estar psicológico, dando o exemplo da permeabilidade da membrana
intestinal, que pode ser causada pelo excesso de toma de antibióticos. A
permeabilidade da membrana permite que passem corpos estranhos para a corrente
sanguínea que provocam reações inflamatórias e que por sua vez podem provocar
redução na produção da serotonina (neurotransmissor ligado à depressão e
ansiedade) ou no cortisol (hormona ligada ao stress).
Estes
novos esclarecimentos alertam-nos e reforçam a necessidade do cuidado integral
que a pessoa deve ter. A nível psicoterapêutico pode-se fazer bastante neste
sentido, uma vez neste contexto é possível abordar os temas que estão desviados
da consciência de uma forma contentora e transformadora, por consequência retirando
ao corpo o peso dessas coisas não pensadas. Por outro lado fornece condições
para a restituição da auto-estima, que fomenta o cuidado com o próprio. Sigamos
então a confirmar e aprofundar a sabedoria do antigo provérbio “mente sã em
corpo são”...
Drª. Filipa Rosário
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