Em psicoterapia recorre-se muitas
vezes ao “como se...”, é uma expressão que abre caminho a olhar a fantasia, a
imaginação, o simbólico, que facilita o acesso ao mundo interno.“Como se” ajuda a pensar, a
elaborar o que é sentido, a trazer à consciência conteúdos mais ou menos
inconscientes, tornando-os, dessa forma, manejáveis pelo aparelho pensante.
Utiliza-se sobretudo com adultos e
adolescentes, uma vez que as crianças vivem constantemente nesse modo,
encontram-se naquela idade mágica em que a linguagem “como se” é instantânea e
automática, está implícita. As brincadeiras que transformam uma almofada num
escudo, um utensílio de médico de brincar usado como pistola, as bruxas que não
se vêem mas que integram o elenco de várias aventuras, que perseguem a criança
mas cuja casa, co-construída entre objetos e imaginação da criança e
psicoterapeuta, lhe oferece guarida e proteção... São inúmeros os exemplos de
imagens e cenas criadas no jogo simbólico da criança que dão voz e forma a
diversos sentimentos e conteúdos mentais desta. O movimento que se faz é o da
ligação deste mundo simbólico ao mundo real, à própria criança e às suas
vivências.
No adulto, ou ao aproximar-se dessa
fase, o movimento é o oposto, habitualmente o raciocínio lógico é o grande
aliado e a realidade concreta a maior referência, por isso faz-se a ligação
desses dados aos conteúdos da realidade interna, trabalha-se a capacidade de
imaginar e de simbolizar de forma a potenciar o encontro do próprio consigo
mesmo, com aspetos mais profundos e menos conscientes que constituem a sua
verdade, que traçam o alcance que as suas vivências tiveram em si e as marcas
que lhe deixaram.
O “como se” cria imagens, como uma
metáfora (também muitas vezes usada) que permite trazer ao olhar consciente uma
informação que doutra forma estaria inacessível e inominável. São estas
imagens, partilhadas entre paciente e psicoterapeuta, exploradas e pensadas em
conjunto, que permitem dar nome ao que se sente (e muitas vezes se recusa por
se julgar disparatado ou sem sentido) e
que conduzem ao conhecimento e compreensão de si próprio.
Daqui se entende o papel
fundamental das ligações entre mundo real e mundo simbólico, entre realidade
externa e interna, entre acontecimentos e sentir(es) no trabalho
psicoterapêutico. E pensar “como se” é uma ferramenta imprescindível neste
trabalho.
Drª Filipa Rosário
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