A
pandemia que estamos viver, está a afetar-nos a todos, sem distinção de idades,
profissões, raças ou qualquer tipo de hierarquia social. De um dia para o
outro, toda a vida que sentíamos ser a nossa e julgávamos ter sob o nosso controlo,
as rotinas e hábitos, as relações com os outros, são-nos tirados. De forma
abrupta, percebemos ser necessário mudar o nosso comportamento de forma a
podermos adaptar-nos, o mais rapidamente possível, a uma nova forma de estar no
mundo. A bem da nossa saúde mental e física.
Após nos ter sido sugerido, para
nosso próprio bem, ficarmos em casa, experienciámos um chorrilho constante de
mensagens, através dos nossos telemóveis. Um envio furioso e compulsivo.
Questionei o porque de todo este envio desmedido? Aparentemente, o vírus
transformou o mundo numa fábrica gigante de mensagens com os mais variados
conteúdos.
Contudo, algo me começou a inquietar.
Tudo servia para fazer piada. As piadas intensificaram-se com todo o tipo de
conteúdos, do mais adequado, ao que não fazia qualquer sentido e não tinha
assim tanta piada. Parece que estávamos todos a querer transformar o “mau” em
“bom”. Todos estávamos a sentir uma forte necessidade de agir, fazermos
qualquer coisa. A este propósito, numa conversa com um amigo, ele disse-me: “é
assim que o afastamos, com uma boa piada!” É assim que afastamos o quê?
Passada esta azáfama, este “Boom
messaging” dos primeiros dias de confinamento, as coisas foram abrandando, já
não havia tantas piadas novas e as que existiam “já tínhamos visto”, a novidade
de outrora, perdeu-se. E também se perdeu parte da alegria e do entusiasmo.
Vamos, gradualmente, confrontando-nos com a realidade que estamos a viver e
tudo aquilo que se modificou. Estamos isolados uns dos outros. Passamos a estar
mais em contacto com a nossa realidade interior. Questionamos o que é que
estamos a sentir.
A alegria é o oposto da tristeza.
Fazer piadas torna-nos mais alegres? Mais ou menos. Talvez estejamos a usar
essas piadas para tentarmos não ficar tristes. Mas, como assim, tristes?
É normal estarmos tristes. Todos
estamos a perder. De um só golpe fomos separados das nossas vidas normais e da
convivência com os mais próximos, familiares e amigos. Pense nas coisas mais
simples como beijar, abraçar ou tocar. Ou fazer um passeio em família. Na
realidade, é uma lista bem grande de coisas que fazíamos e deixámos de fazer.
Fomos privados de tudo isso. Por isso é natural estarmos tristes. Quando
perdemos coisas que são importantes para nós, lamentamos. A tristeza faz parte
do luto. O luto é um processo natural, ajuda-nos e cura-nos. E faz parte da
nossa experiência de vida enquanto seres humanos.
Então, quando o humor deixa de servir
como “vacina” eficaz para lidarmos com os nossos sentimentos, quando a última
piada já não tem piada alguma, aquilo que realmente sentimos é um pouco de
tristeza. Não tenha medo de se sentir triste. Pense nas relações mais
significativas que tem, procure falar com essas pessoas, partilhar o que sente
e o que vai experienciando neste período de maior isolamento. E se precisar, solicite a ajuda de um psicólogo clínico ou psicoterapeuta.
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