quinta-feira, 18 de junho de 2020

O Humor e a Pandemia...



                           
A pandemia que estamos viver, está a afetar-nos a todos, sem distinção de idades, profissões, raças ou qualquer tipo de hierarquia social. De um dia para o outro, toda a vida que sentíamos ser a nossa e julgávamos ter sob o nosso controlo, as rotinas e hábitos, as relações com os outros, são-nos tirados. De forma abrupta, percebemos ser necessário mudar o nosso comportamento de forma a podermos adaptar-nos, o mais rapidamente possível, a uma nova forma de estar no mundo. A bem da nossa saúde mental e física.
Após nos ter sido sugerido, para nosso próprio bem, ficarmos em casa, experienciámos um chorrilho constante de mensagens, através dos nossos telemóveis. Um envio furioso e compulsivo. Questionei o porque de todo este envio desmedido? Aparentemente, o vírus transformou o mundo numa fábrica gigante de mensagens com os mais variados conteúdos.
Contudo, algo me começou a inquietar. Tudo servia para fazer piada. As piadas intensificaram-se com todo o tipo de conteúdos, do mais adequado, ao que não fazia qualquer sentido e não tinha assim tanta piada. Parece que estávamos todos a querer transformar o “mau” em “bom”. Todos estávamos a sentir uma forte necessidade de agir, fazermos qualquer coisa. A este propósito, numa conversa com um amigo, ele disse-me: “é assim que o afastamos, com uma boa piada!” É assim que afastamos o quê?
Passada esta azáfama, este “Boom messaging” dos primeiros dias de confinamento, as coisas foram abrandando, já não havia tantas piadas novas e as que existiam “já tínhamos visto”, a novidade de outrora, perdeu-se. E também se perdeu parte da alegria e do entusiasmo. Vamos, gradualmente, confrontando-nos com a realidade que estamos a viver e tudo aquilo que se modificou. Estamos isolados uns dos outros. Passamos a estar mais em contacto com a nossa realidade interior. Questionamos o que é que estamos a sentir.
A alegria é o oposto da tristeza. Fazer piadas torna-nos mais alegres? Mais ou menos. Talvez estejamos a usar essas piadas para tentarmos não ficar tristes. Mas, como assim, tristes?
É normal estarmos tristes. Todos estamos a perder. De um só golpe fomos separados das nossas vidas normais e da convivência com os mais próximos, familiares e amigos. Pense nas coisas mais simples como beijar, abraçar ou tocar. Ou fazer um passeio em família. Na realidade, é uma lista bem grande de coisas que fazíamos e deixámos de fazer. Fomos privados de tudo isso. Por isso é natural estarmos tristes. Quando perdemos coisas que são importantes para nós, lamentamos. A tristeza faz parte do luto. O luto é um processo natural, ajuda-nos e cura-nos. E faz parte da nossa experiência de vida enquanto seres humanos.
Então, quando o humor deixa de servir como “vacina” eficaz para lidarmos com os nossos sentimentos, quando a última piada já não tem piada alguma, aquilo que realmente sentimos é um pouco de tristeza. Não tenha medo de se sentir triste. Pense nas relações mais significativas que tem, procure falar com essas pessoas, partilhar o que sente e o que vai experienciando neste período de maior isolamento. E se precisar, solicite a ajuda de um psicólogo clínico ou psicoterapeuta.



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