sábado, 6 de dezembro de 2014

Sobre os Medos das Crianças




O medo é uma emoção básica e universal, que acompanha e decalca o ser humano desde os primórdios da sua existência. Foi, certamente, através desta ferramenta que sobrevivemos enquanto espécie, possuíndo, por isso, uma dimensão protectora e organizadora da vida.

Desde os primeiros meses de vida que a criança sente medo, o qual vai evoluindo ao longo do seu crescimento. Assim, os medos mudam, efectivamente, com a idade, bem como de criança para criança, ainda que possamos falar de "medos típicos" em determinados estádios do desenvolvimento.

Entre os mais frequentes nesta etapa, sobressai o medo da separação, reavivado no momento em que a criança é deixada no infantário/escola ou na forma como se agarra aos pais quando os reencontra, como forma de garantir de que não terá que separar-se novamente. Em continuidade com isto mesmo está, igualmente, o medo da noite - outro momento que a reactiva as separações e que se veste de verdadeiras doses de (im)paciência para conseguir que os mais novos fiquem no seu espaço a enfrentar as criaturas fantásticas que preenchem o seu imaginário!

Dragões, bruxas ou elefantes debaixo da cama são produtos comuns da criatividade infantil, que, até aproximadamente aos 6/7 anos (momento em que ocorre a entrada para a escola e, com ela, o confronto com medos mais reais), vê nesta possibilidade um perigo palpável!

Mas, surpreenda-se? É neste processo de enfrentar o seu mundo interno e as produções fictícias que nele vai tecendo, que a criança ganha simultaneamente a capacidade de criar ferramentas capazes de a auxiliar nas batalhas que enfrentará pela vida. Frequentemente, encontramos adultos amedrontados que foram, de facto, crianças ás quais não foi permitido superar os seus próprios terrores - perante pais demasiado protectores ou, no extremo oposto, pais pouco capazes de se sintonizar com a dor dos filhos, desvalorizando-a.

Neste sentido, lembre-se: ter medo, não é assim tão mau! Pelo contrário, permite criar, por dentro, uma capa protectora de super-herói, capaz de sentir coisas reais, ora de olhos esbugalhados, ora de olhos fechados, mas sempre seguros de que, por si mesmo, será capaz de enfrentá-los.




O Canto da Psicologia,




Dr.ª Joana Alves Ferreira



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Lembra-se dos seus Sonhos?



Esta semana falamos-lhe sobre a capacidade de sonhar e a sua representatividade na vida emocional de todos nós. Ao longos dos séculos, foi existindo um profundo interesse por esta construção inconsciente do nosso psiquismo, espelhada nas explicações que foram sendo encontradas, à luz de cada época, sobre o tema. É, contudo, em 1900, que se revoluciona a concepção dada ao mesmo, com a perspectiva introduzida por Sigmund Freud.

Na sua teoria sobre a interpretação dos sonhos, Freud enfatiza o lado simbólico desta função vital, equiparando-a a um palco onde se expressam emoções, conflitos, desejos e angústias. Assim, o que anteriormente era interpretado como meros símbolos ou premonições, passou a ser compreendido como manifestações do nosso inconsciente, que ganham no espaço do sonho uma força de expressão.

Na verdade, na agitação com que vivemos diariamente - compromissos, rotinas, actividades que fazemos de forma sistemática -, acabamos por nos defrontar consecutivamente com o cansaço e o stress da vida contemporânea. É à noite, através do período de sono, que conseguimos desligar-nos deste mundo atribulado e cheio de informações, mas é também neste espaço que se acendem os holofotes para o que verdadeiramente se passa nos batisdores da vida emocional.

Quando dormimos entramos numa espécie de “processo mágico”, pois é durante o sono que somos verdadeiramente capazes de mergulhar num universo totalmente novo e secreto: o nosso inconsciente. Com efeito, durante o sono dispomos de forças inconscientes que nos levam a sonhar - todas as pessoas sonham e os sonhos, como nos diz Freud, são sempre a realização de um desejo. Desejos esses que existem dentro de cada um, mas que devido aos hábitos, cultura, educação bem como a moral da sociedade em que nos inserimos, foram recalcados, reprimidos, ficando no mais fundo e obscuro de nosso "baú do inconsciente", só manifestando o seu poder durante os sonhos.

É exactamente por isto que os sonhos funcionam como um importante motor da compreensão de quem somos e do que nos move, funcionando como uma ferramenta ímpar no trabalho psicoterapêutico e de conhecimento da pessoa.

Por isto mesmo, não se esqueça de olhar para os seus, lembrando sempre que o sonho é “a principal estrada que leva ao conhecimento dos aspectos inconscientes de nossa vida psíquica” (Freud).

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira