terça-feira, 25 de setembro de 2018

Passadeira ou treino de força?









Perde horas intermináveis a correr na passadeira, na esperança de emagrecer ou melhorar a sua resistência aeróbia? Tem medo de fazer só treino de força, porque acha que vai ficar com muita massa muscular? Temos boas notícias para si: o treino de força poderá ser suficiente para emagrecer e melhorar a sua resistência.

Opte por fazer treino de força ou treino intervalado de alta intensidade em circuito pelo menos 3 vezes por semana. Inclua apenas exercícios e movimentos que recrutam e envolvam os principais grupos musculares (agachamentos, pesos mortos, lunges, flexões, elevações, burpees, etc). Coloque alguns sprints nos minutos finais do treino (ex: 5 séries de 100 metros na passadeira a uma velocidade alta). O treino aeróbio de longa duração aumenta o cortisol e o stress oxidativo. O stress oxidativo acontece quando o corpo produz mais radicais livres em resposta a ambientes ricos em oxigénio, que é o caso do treino aeróbico longo. Baixando significativamente o seu sistema imunitário.

Se gosta de combinar treino aeróbio com treino de força, mas não sabe qual fazer em primeiro lugar ou se deve fazer em dias diferentes, Eklund et. al (2016) parece responder a esta dúvida. Segundo este estudo, a perda de gordura ocorreu apenas nas pessoas que fizeram treinos em dias alternados, mesmo mantendo a alimentação semelhante. Outro dado curioso, foi o aumento da capacidade aeróbia ocorrer de forma mais significativa em quem treinou em dias alternados.

Em jeito de conclusão:

- Opte por treinos de força de forma intervalada ou em circuito;
- Deixe de fazer treinos aeróbios longos;
- Esqueça as horas intermináveis no ginásio, obtém benefícios com 30-40’ de treino a uma intensidade elevada;
- Alterne os diferentes tipos de treino;
Aconselhe-se sempre primeiro com um profissional do exercício.


Bons treinos



Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O lugar das coisas possíveis e impossíveis...






                          

“Tu és a filha, eu sou a mãe; 
- Filha, já te disse que não podes ver esses desenhos à noite, depois tens esses sonhos maus. E agora vais deitar-te (enquanto me tapa).

Continua... a “mãe”
-Agora que estás a dormir vais sonhar que anda um bandido atrás de ti”.

E andamos em voltas pela sala até chegar o momento de novamente acordar.

A psicoterapia com crianças ou o acompanhamento com crianças permite-nos passar por diversos papeis simbólicos, ser diferentes personagens, alguns dos sonhos, outros de uma realidade projectada (uma realidade que raras as vezes é, para a criança, a realidade dela). Nesta dança entre adulto (terapeuta) e criança existem movimentos de diversa natureza, uns provêm da angústia, outros da agressividade, outros mais persecutórios (como os bandidos que nos perseguem nos “sonhos maus”). Afinal de contas há um encontro, literalmente, com bebés, pistolas, carros, soldados, animais ferozes e animais “fofinhos”, com lápis e canetas, com panelas que facilmente passam a baterias, com pratos que servem de pandeiretas...num espaço em que tudo se pode dizer, em que tudo tem potencial de ser compreendido e de eventualmente ser integrado.

É para os pais muito assustador, ou desesperante, trazer ao nosso espaço o seu filho, seja por questões próprias da criança tais como,   não conseguir controlar os esfincteres durante a noite, fazer muitas birras com um dos progenitores, crises de ansiedade quando é deixado na escola, entre outras;  ou até porque alguém na escola levanta uma desconfiança - normalmente com uma palavra que os pais não conseguem identificar - que os põe em estado de alerta e os leva a pedir ajuda ou ainda, por começarem a recear , o que angustia tremendamente os pais, o facto de que também eles possam ser parte do motivo pelo desajustamento do comportamento dos seus filhos. Independentemente dos casos, todos sabemos  que nunca é  fácil deixar um filho com “um técnico” isso significa que pode haver um problema, e se o houver o risco de poder  ser responsável por parte desse problema e ter um dedo a apontar: “não estás a ser bom pai/mãe; não estás a ser suficiente bom”. Ser pai nem sempre é fácil e acarreta um conjunto de desafios que, por diversas vezes, nos colocam em causa e que precisam de poder ser contidos.

Por outro lado,  as crianças precisam apenas de um espaço que possa ser por si só, contentor; em que elas possam fazer “todos os disparates”, as coisas que nem sempre cheiram bem, ou até as coisas que nem sempre são bem vistas (normalmente pelos adultos) sem correr o risco de serem repreendidas, rejeitadas ou abandonadas, libertas do  receio de deixar o pai ou a mãe triste, ou desiludidos; permitindo-se ainda, “pensar”, elaborar ou transformar estas coisas estranhas, que nem sempre têm nome, ou nem sempre são claras, em coisas de mais fácil compreensão através do movimento simples do brincar!

Sendo para os pais aterrador todos estes sentimentos, também o são para as crianças - muitas delas, só agora se estão a autonomizar e a começar a desvendar o lugar delas no mundo das crianças, dos adultos, da família, da escola...ás vezes, este espaço terapêutico é só isto, um sitio seguro, onde se podem pensar e dizer coisas que podem ser  ouvidas ,aceites, vistas e cuidadas. Um bocadinho como os sonhos maus, ninguém gosta deles, mas eles não deixam de fazer parte de nós.



Drª Inês Lamares
O Canto da Psicologia



quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Corpo e mente: mais sobre as suas estreitas ligações...







Hoje em dia é largamente aceite, tanto por profissionais de diversas áreas como na população em geral, que o corpo e a mente funcionam como um todo, intimamente interligados. De facto, todos nos apercebemos da forma como o que experienciamos e sentimos tem uma expressão corporal, através de algum tipo de sensação, algo que se passa no corpo. Por vezes é o estômago a ressintir o nervosismo, um aperto no peito a denunciar a vivência de alguma angústia ou as pernas a perderem a força quando infelizmente chega alguma notícia grave. António Damásio diz, no “Livro da Consciência”, que “o mundo das emoções é, sobretudo, um mundo de ações levadas a cabo no nosso corpo, desde as expressões faciais e posições do corpo até às mudanças nas vísceras e meio interno”. Depois, será processado a nível mental, de acordo com a estrutura cerebral, a personalidade e o funcionamento mental de cada um.

A Psicossomática debruça-se sobre a forma como o factor psicológico está implicado na doença orgânica. Neste campo não há dúvida que a dimensão relacional e o biológico são complementares, influenciando-se mutuamente. Sami-Ali, psicanalista dedicado à disciplina da Psicossomática, defende que as pessoas que têm um mundo imaginário mais rico estão mais protegidas de doenças orgânicas. Quer isto dizer que, pessoas que possuem melhor capacidade de pensar, de representar mentalmente e refletir sobre diferentes circunstâncias externas e/ou internas potencialmente perturbadoras do seu estado mental e físico, são mais capazes de elaborá-las e reagir adaptativamente às mesmas. Portanto, o que é passível de ser “digerido” mentalmente não necessita encontrar no corpo um escape, uma forma de expressão.

Recentemente, num sentido diferente e complementar surgiram descobertas das áreas da medicina e psiquiatria que vieram aumentar a compreensão sobre a relação entre corpo e mente. A comunidade científica parece unânime na afirmação de que o intestino funciona como um segundo cérebro. Percebe-se agora que não é só o cérebro a afetar o que passa a nível intestinal mas o contrário também acontece, o sistema nervoso entérico (conjunto de neurónios presente no sistema digestivo) também afeta o funcionamento cerebral, denominadamente a nível das emoções. Trata-se de uma comunicação bidireccional entre cérebro e intestino, podendo a informação ter origem tanto a nível intestinal como a nível do cérebro.

As bactérias existentes no intestino (flora intestinal) constituem um fator determinante no funcionamento do intestino e na forma como este comunica com o cérebro, sendo que atualmente é reconhecido o papel destas em doenças psiquiátricas. O psiquiatra António Sampaio esclarece que muitas das consultas de gastroenterologia são encaminhadas para psiquiatria. Explica também como o intestino pode afetar o bem estar psicológico, dando o exemplo da permeabilidade da membrana intestinal, que pode ser causada pelo excesso de toma de antibióticos. A permeabilidade da membrana permite que passem corpos estranhos para a corrente sanguínea que provocam reações inflamatórias e que por sua vez podem provocar redução na produção da serotonina (neurotransmissor ligado à depressão e ansiedade) ou no cortisol (hormona ligada ao stress).

Estes novos esclarecimentos alertam-nos e reforçam a necessidade do cuidado integral que a pessoa deve ter. A nível psicoterapêutico pode-se fazer bastante neste sentido, uma vez neste contexto é possível abordar os temas que estão desviados da consciência de uma forma contentora e transformadora, por consequência retirando ao corpo o peso dessas coisas não pensadas. Por outro lado fornece condições para a restituição da auto-estima, que fomenta o cuidado com o próprio. Sigamos então a confirmar e aprofundar a sabedoria do antigo provérbio “mente sã em corpo são”...



Drª. Filipa Rosário


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Actividade física como meio terapêutico...






Todos sabemos que devemos ser fisicamente activos. Surge agora como novidade no SNS (Sistema Nacional de Saúde) a actividade física como meio terapêutico. Um projecto-piloto de prescrição de actividade física para pessoas que já tenham desenvolvido doenças crónicas, vai avançar em várias unidades de saúde um pouco por todo o país.

O reconhecer da actividade física como um meio de prevenção para doenças crónicas, está bem descrito em vários estudos científicos e é visto como fundamental para o aumento da longevidade. Vários países a nível europeu estão a obter bons resultados com este tipo de política, sendo fundamental que profissionais do exercício físico trabalhem em estreita colaboração com médicos, enfermeiros, etc.

Estas consultas terão como destinatários, pessoas sedentárias, diabéticos ou com quadros depressivos numa primeira fase. Desta forma, o SNS pretende reforçar a capacidade para ajudar quem mais precisa e contribuir de forma decisiva para a implementação de estilos de vida mais saudáveis. Esta medida não só pretende melhorar a qualidade de vida do cidadão, assim como, baixar o peso das doenças crónicas no SNS.
Aguardamos com expectativa pelos primeiros resultados.

Bons treinos
Hugo Silva



Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre



quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Nem sempre uma asa partida nos impede de voar...






No mito da procura do Santo Graal por Parsifal, encontramos a história do Rei Pescador, o monarca do Castelo de Graal. Em adolescente sofreu um acidente que lhe condicionara a mobilidade para toda a vida… O reinado estava condenado porque o seu Rei estava ferido e, apesar de não ser capaz de morrer, também não poderia sobreviver e fazer prosperar o seu império. 
Uma profecia dizia que ele só se curaria quando um humilde inocente chegasse à corte e fizesse uma determinada pergunta…

Este mito ainda que bastante antigo, remete-nos facilmente para os nossos tempos modernos. 
Muitas vezes somos confrontados com feridas que se tornam autênticos obstáculos na procura do nosso Santo Graal. Podem tratar-se de doenças físicas ou mentais, podem surgir em consequência de uma perda ou luto, pode ser um medo ou angústia, uma separação, um insucesso académico ou profissional que se tornou uma condição depressiva, que acreditamos ser irreparável e sem salvação. Outras vezes associamos a algo intrínseco a nós, como se de uma falha ou deficiência interna se tratasse. 

Estes eventos psicológicos carregados de dor e sofrimento funcionam como asas partidas que nos impedem de voar, como quem quer dizer, que nos impedem de crescer emocionalmente e assim sonhar. 

Para podermos voar, precisamos que o sofrimento psíquico seja manifestado a nível afectivo e ideactivo, através de emoções e pensamentos experienciados, traduzidos em palavras e gestos, transformados em actos. É essencial elaborar a dor, o medo, a vergonha, a culpa ou o ressentimento associado a esses eventos, para que se proporcione a integração mental dos acontecimentos traumáticos.

Perante acontecimentos tão difíceis, a dor e os restantes sentimentos negativos fazem sentido existir pois tratam-se de respostas funcionais perante o impacto do que se passou. Em algumas situações tentamos resistir e fazemos um esforço contínuo para os evitar, achando que somos intolerantes e que estamos altamente susceptíveis para conseguir lidar com tamanha tristeza e sentimento de desamparo. O medo da expressividade destes sentimentos pode ser evidenciado não só com o evitamento, mas também com a transformação das emoções, em agressividade ou raiva.

A reacção depressiva normal e adequada perante determinado evento é um sinal de boa saúde mental, mas por outro lado, a permanência num estado depressivo pode tornar-se um quadro patológico.

Os eventos psicológicos mal elaborados e não consciencializados podem derivar de sentimentos de dependência, de solidão, de incapacidade de se auto-percepcionar como autónomo e capaz de assimilar e apreender a profundidade do sofrimento psíquico.

A reparação e reconstrução destas feridas permite-nos, naturalmente, tornar consciente que é possível voar mesmo com uma asa partida [transformada]. É necessário aceitar que esta asa faz parte de nós e é preciso compreendê-la, para que a partir desse momento, voar [sonhar] se torne algo natural. 



Dra. Fanisse Craveirinha