quinta-feira, 27 de junho de 2019

Mitos em Psicoterapia...





“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” Carl Jung


Por vezes temos duvidas sobre; o que é o processo psicoterapêutico, o acompanhamento psicológico? O que esperar deste tipo de apoio e do psicólogo? No que consiste? Nesta altura várias crenças aparecem quando se decide iniciar uma psicoterapia, podem surgir vários pré-conceitos, nomeadamente ideias de que o psicólogo é uma espécie de oráculo, que irá responder a todas as questões que o paciente possa ter, numa perspetiva que o transforma num psicoterapeuta que “sabe tudo” e, como tal, irá orientar e resolver todos os problemas. Este mito, mesmo que inconsciente, traz várias dificuldades no processo psicoterapêutico uma vez que leva o apoio para um campo paternalista que deturpa todo o fim da psicoterapia que consiste, essencialmente, em promover o auto conhecimento e a autonomia da análise no paciente. O objetivo será sempre, estimular a independência do pensamento, único, próprio, estreitamente ligado à personalidade e identidade genuína do mesmo, só assim o paciente poderá realmente evoluir para o que, no seu âmago, considera ser o caminho certo. Com este mito o paciente poderá depositar no psicólogo a responsabilidade de decidir ou avaliar o que esta certo, errado ou qual o caminho a seguir, mas apenas o próprio sujeito poderá definir estes conceitos e tomar decisões, mesmo que, por vezes, seja difícil e ainda que não esteja a encontrar a melhor tomada de decisão. Neste momento o psicólogo estará presente na consulta, para promover a regulação emocional que permite lidar e aceitar esta frustração, ate que o paciente encontre, de forma autónoma, a solução que pretende.

Outro mito que pode ser abordado é o do SOS, de que só se vai ao psicólogo em situações de grande crise ou de desespero, isto é, quando a pessoa está no seu “limite” então vai recorrer à psicoterapia numa perspetiva de alívio e de solução. Assim quando estiver muito mal irei à consulta de psicologia. Esta ideia é muito comum, no entanto, não é de todo o que se pretende em psicoterapia, embora possamos dar apoio psicológico em situações de crise, o objetivo da psicoterapia é ir mais além, ou seja será, em condições de boa evolução, precisamente prevenir estas situações de “limite”, uma vez que o trabalho psicoterapêutico irá desenvolver, progressivamente, um maior entendimento no paciente sobre si próprio, através da compreensão mais aprofundada e da organização de um pensamento estruturante e apoiante que integra as emoções negativas que parecem não ter solução.

O paciente Influenciado por este mito do SOS, eventualmente considera que apenas terá de ter sessões consoante se sentir bem ou se sentir mal, como se as sessões fossem um “medicamento” que acalma pontualmente, porém a psicoterapia assenta em princípios fundamentais relacionados com a frequência e tempo. Uma vez que o processo necessita de continuidade e consistência para que efetivamente se deem as evoluções no paciente.
Quando algumas memórias não são aceites e integradas, para que sejam naturalmente evocadas sem causarem angústia, tristeza, paralisia, medo, podemos acabar por nos deixar arrebatar. Por isso o trabalho psicoterapêutico ser tão enriquecedor. Para evoluirmos necessitamos de nos libertar dos caminhos superficiais e procurar os mais profundos, que nos levam a lugares frutíferos de consciência ampliada.

Existem vários mitos apenas estou a focar alguns, sendo que o último que irei debruçar é o do apoio psicológico é só para os “loucos”, a psicoterapia é um recurso para o ser humano, através da qual poderá construir uma maior autonomia no seu pensamento e, nesse processo, desenvolver uma capacidade de regular e lidar com os obstáculos/desafios da vida de uma forma resiliente. Neste sentido não retira os problemas, obstáculos mas promove no paciente a capacidade de analisar as situações em várias perspetivas para que consiga gerir internamente, da melhor forma, o que se apresenta no exterior. A psicoterapia é para todos, em todas as situações da vida e um dos seus trabalhos é, precisamente, desconstruir estes mitos e fantasmas que nada estão relacionados com a realidade.

Assim sendo o psicólogo na sua humanidade, pois antes de tudo somos humanos e genuínos, coloca-se como um co-construtor de pensamentos saudáveis que possibilitam o nascimento de emoções apaziguadoras, não obstante os menos bons momentos continuarem a surgir, assim como as emoções negativas associadas, mas a forma como o paciente as vai integrar e gerir é que consiste a verdadeira mudança, que só opera, no seu devido tempo e num ritmo próprio que não é mesurável.

O psicoterapeuta não é assim o salvador, o detentor da moral e do julgamento, antes pelo contrário é o que não julga, pois analisa minuciosamente o que se passa, através da empatia e da procura de compreender o outro acima de tudo.

Augusto Cury referiu em Sonhar é Preciso; “ Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.” O Sonho é fundamental, assim como a esperança de que melhores fases virão! Por isso celebramos e cuidamos da nossa “casa interna”, tornando-a sólida, acolhedora e sustentadora de todas as nossas emoções. Só quando nutrimos bem a nossa casa e aprendemos a cuidar de nós próprios é que podemos realmente cuidar dos outros. Por isso trata bem de ti, por mim, que eu trato bem de mim, por ti.





quinta-feira, 20 de junho de 2019

Transgeracionalidade - A herança psiquíca das famílias...






Quando um bebé nasce, transporta desde logo um legado, que lhe foi transmitido antes da sua concepção. O bebé sonhado pelos pais é um produto das histórias de cada uma destas personagens, para a qual converge a matriz familiar de ambos. A transmissão psíquica adensa-se na comunicação intrauterina, sendo este bebéherdeiro do lugar a que pertence, mesmo antes de nascer.
            Quando procuramos atribuir parecenças a um bebé, quando lhe damos o nome de um familiar, quando associamos um determinado comportamento a um membro específico da família, falamos precisamente de um legado que é herdado, o qual não é apenas fundamental no processo de construção da identidade, como, simultaneamente, no lugar que aquele bebé irá desempenhar na família.
            A transgeracionalidade pode ser representada, assim, como um conjunto de “vozes familiares” que estão gravadas internamente, sendo que o que diferenciaria uma pessoa de outra será a intensidade dessas vozes e a influência que exercem em cada sujeito. Isto significa que o que é dito nas famílias ou o que é silenciado, os mitos, os segredos, os pactos, são palco dessa transmissão psíquica, a qual pode ser consciente ou inconsciente. Neste sentido, muitos acontecimentos de uma geração podem ser o reflexo de acontecimentos que sucederam em gerações anteriores.
Há, portanto, uma espécie de “idioma” em cada família, a partir do qual se estabelece a comunicação entre os seus membros, podendo ser o palco para que ocorram padrões, repetições, os quais vão sucedendo de geração em geração. A clínica mostra-nos exemplos riquíssimos deste fenómeno – quando, na maternidade/paternidade se repetem padrões na forma como a pessoa foi filha(o); quando num casamento se repete um modelo de relação semelhante ao dos pais, avós, etc.; quando, numa família, há um quadro de alcoolismo que foi marcando a histórias de vários membros.
            O legado familiar faz parte da história de qualquer sujeito e, portanto, é inevitável. Contudo, esse legado não tem que ser vivido necessariamente como algo rígido e imutável para os descendentes de uma família: pelo contrário, pode (e deve) ser elaborado internamente, comunicado e, algumas vezes, reformulado, para que a família se desembarace desta espécie de “força invisível”, que, muitas vezes, empurra os seus elementos para a compulsão à repetição.





terça-feira, 18 de junho de 2019

O exercicio fisico pode ajudar a "fintar" o cancro...






Sabemos hoje, que até 2050, um em cada quatro portugueses terá cancro. Sabe-se também que, a evolução da ciência vai permitir que o cancro passe a ser uma doença crónica, mantendo o ser humano com qualidade de vida. Mas a ciência vem uma vez mais comprovar que o exercício físico pode ajudar a “fintar” o cancro.

O exercício físico por si só, é um poderoso anti-inflamatório natural e um catalisador das defesas do organismo contra as doenças. Os mecanismos fisiológicos e químicos associados ao exercício foram recentemente explicados pela Universidade de Queensland. Um estudo feito com sobreviventes de cancro colorretal, em que estes foram submetidos a exercício intenso, foram analisados antes e depois dos treinos. Os resultados foram esclarecedores: as amostras feitas aos pacientes após os treinos, revelaram que as células tumorais se desenvolviam menos após o exercício, assim como os marcadores inflamatórios.

Estes resultados, são fruto da presença de substâncias libertadas pelo músculo-esquelético e que têm um potencial anti-inflamatório, de nome Miocinas. Na prática, a libertação de miocinas durante o exercício vigoroso, permite suprimir a ação inflamatória do tumor.

Apesar do efeito protetor do exercício às células tumorais, o cancro é uma doença multifatorial, não excluindo que para além de uma boa higiene física, devemos ter em atenção outros cuidados com a saúde.


Bons treinos 


Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Um paciente, um espaço terapêutico...




Mãe
“Não viste o buraco
Não tiveste tempo
 P´ra cuidar, p´ra apreciar, p´ra amar
Não tiveste tempo,
não arranjaste tempo
p´ra cuidar, p´ra apreciar, pra amar
Alienada da verdade
Não descobriste um momento
Não arranjaste um momento
Para aquilo que criaste
Não me deste intimidade
Não me deste estabilidade
Não me quiseste conhecer
Não tiveste tempo
Agora não tens mais esse tempo
Agora não consegues pedir mais tempo
Agora não dá p´ra voltar
Agora não podes mais voltar lá
Agora não podes dizer-te desiludida
Agora não podes dizer-te desiludida
Não quero a injustiça do teu sentimento
Nem as magoas que tu própria criaste
Não quero a tua moralidade a gritar-me
Não quero as tuas tristezas a afundar-me
Não podes voltar ao tempo onde não tiveste tempo
Não podes voltar ao tempo onde não arranjaste tempo
Por isso não me grites pela tua própria frustração
Por isso não me culpes pela tua falta de tempo
Por isso não me digas que sou aquilo
enquanto eu sou mais que isso
Não me diminuas por teres te diminuído.
Não precisas de voltar
Podes sempre tentar conhecer-me agora
Com o tempo que te resta
Podes sempre mudar o que ainda te resta
Ainda podes mudar o que te resta.

O conhecer-me fez me crer em algo mais
Descobrindo ideias e crenças falsas pelos demais
Abri uma porta desconhecida pela multidão que em mim vivia
E vi que em mim a luz sorria”

Poema de Inês R.






Quem nunca pensou ir à caixa das memórias e permitir que elas pudessem simplesmente fluir? Certamente, em alguns momentos, todos nós pensamos nisso… ou aconteceram-nos coisas, reais ou simbólicas, que nos fizeram ir lá espreitar… no entanto, há momentos, ou experiências demasiado dolorosas para serem vistas ou vividas. Não vemos só as memórias, sentimos a dor, sentimos a frustração, sentimos a mágoa… podemos até sentirmo-nos pequenos novamente, indefesos… ou podemos ficar simplesmente paralisados pelo medo da invasão ou do abandono.Aos poucos tem-se permitido mergulhar, numa nova relação, e sentir que poderá não estar sozinha e não se afogar no processo. Existiram e existem ainda momentos de dor, momentos de confusão, momentos em que nada parece fazer sentido, de zanga e abandono, mas podem já existir momentos em que é possível resignificar estas relações lá de trás, transformar estas relações não nas relações ideais mas nas relações possíveis.
Uma paciente, um espaço terapêutico, onde inicialmente pôde existir uma unidade existencial de relação, onde não houve uma diferenciação entre eu, não-eu… até poder existir, até podermos começar a caminhar como dois diferenciados, onde podemos pensar um caminho para a independência, para a re-elaboração, para a criação de um, ainda pequeno, mas possível, espaço de perdão e de integração. 





quinta-feira, 6 de junho de 2019

Burnout e outras questões...








Muito se tem falado sobre burnout, agora que a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu este síndrome na Classificação Internacional de Doença, classificando-o como um distúrbio ocupacional, pertencente à categoria de problemas relacionados com o emprego e desemprego.

Designado como síndrome de esgotamento profissional, o burnout advém do stress crónico no local de trabalho e não deve ser utilizado para descrever experiências noutras áreas da vida que não o contexto profissional. Caracteriza-se de acordo com três dimensões: sensações de esgotamento de energia ou exaustão; aumento da distância mental do emprego ou sentimentos de negativismo ou de cinismo relativamente ao emprego; reduzida eficácia profissional. O reconhecimento deste síndrome pela OMS reveste-se de elevada pertinência e contribui significativa e positivamente para o cuidado com este aspeto da saúde mental, que, como tantos outros, é muitas vezes menosprezado e tem efeitos nefastos no bem estar físico e psicológico.

Não obstante, parece também muito pertinente abordar questões psicológicas associadas ao bem-estar no trabalho que podem eventualmente ser confundidas com o síndrome ou erradamente atribuídas a uma qualquer situação laboral adversa. Uma vez que o contexto profissional absorve tanto tempo da vida das pessoas e é onde diversas relações se estabelecem, constitui um terreno fértil para a expressão das vivências internas e experiências emocionais de todos que pertencem a esse contexto. Assume-se portanto como uma parte muito relevante para a vida das pessoas e o seu bem-estar. Por tudo isto muitas vezes a fronteira que separa o que é do foro pessoal do profissional torna-se pouco clara. É necessário estarmos atentos a outros fatores que possam estar implicados ao mal estar que se sente no trabalho.

No consultório são vários os casos com que nos deparamos. Como por exemplo, quando as pessoas deslocam massivamente determinadas necessidades pessoais e afetivas para o contexto do trabalho, seja com colegas, chefias ou clientes. Necessidades como o reconhecimento do outro ou o investimento narcísico pelo outro, quero dizer, o reconhecimento da realização correta de determinadas tarefas e das suas qualidades e competências mas também como algo que preenche um sentido de existir ao olhar do outro... algo que terá faltado nas relações pessoais e significativas. Algo que provoca um intenso sofrimento psicológico e que faz reunir doses substanciais de zanga e frustação, também estas deslocadas para o contexto profissional. Um deslocamento que está associado à fronteira algo frágil entre realidade interna e externa. Ou noutros casos, quando as queixas em relação ao trabalho aparecem mais imersas com outras questões do foro pessoal e intímo e é possível constatar que, à medida que essas questões são trabalhadas, a forma como as pessoas se situam em relação ao trabalho se vai transformando também e começam a sentir mais bem-estar no contexto profissional.

O que pretendo aqui é chamar à atenção para a necessidade de abordar e trabalhar sobre o funcionamento e situações anteriores à situação laboral, perceber que para além do stress no trabalho há outros fatores que impregnam este contexto de questões importantes e que precisam de ser olhadas e trabalhadas por si próprias. Falo da necessidade de diferenciar o que é imposto e provocado pela realidade externa do contexto laboral do que é do foro pessoal e que atua ou se revela nesse contexto, misturando-se com ele.