sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Um elogio aos profissionais de saúde...

 



O momento em que o mundo paralisou, era março de 2020 quando, o cada vez mais falado corona vírus ou covid-19, estava em alerta máximo pela OMS, que afirmavam ser certo, que estávamos perante uma Pandemia, que o vírus era muito perigoso e altamente contagioso. Ficamos todos perplexos e a humanidade parou, o medo instalou-se de forma inevitável, o desconhecido, a associação à morte, à doença, ao sofrimento. Os telejornais e meios de comunicação, apenas davam notícias sobre o vírus e a Pandemia de forma obsessiva, dados constantes e diários sobre os números de infetados, recuperados, óbitos e em internamento, passou a ser o novo normal, assim como, falar sempre de doença e estar no meio da doença, com mascaras a evitar o contacto humano. Saiamos de casa com medo, a simples ida ao supermercado, era feita com estranheza, ate que os confinamentos se tornaram obrigatórios para todos, menos os profissionais essenciais, de bens essenciais, forças de segurança e claro, profissionais de saúde.

Só mesmo quem trabalha na saúde, sabe a dificuldade que foi vir trabalhar, o medo de poder contagiar os familiares, quem mais amamos, de ser fonte de contágio para os outros, uma vez que estávamos expostos ao público e essa realidade podia acontecer. O ambiente na saúde era intranquilo, aflito, embora o desejo de ação e de, por missão, proporcionar todo o melhor que podíamos, para a comunidade e para os utentes, estava sempre presente como motivação principal, apesar de tudo. A responsabilidade do nosso trabalho, das horas a mais, dos fins de semanas perdidos, de toda a nossa dedicação para, quer no caso de os cuidados hospitalares salvar vidas diretamente, quer no caso dos cuidados de saúde primários salvar vidas, por via da prevenção, testagem, vacinação e controlo da saúde pública, que evita a propagação continua e massiva da doença, através das vigilâncias ativas, análise dos contactos imensos, registro constante e avaliação do doente e de todos os contactos diariamente.

Foram tempos de incertezas, angústias, os números de mortos subiram e os profissionais de saúde, incansáveis à procura de promover mais saúde, proteção, sempre na busca de ajudarem da melhor forma todos, mais do que nunca foram peças essenciais, para permitir que pudéssemos sobreviver a estes tempos difíceis, com ajuda fundamental da vacinação, outra valência da saúde, que resulta de um esforço incalculável dos profissionais e que devemos estar muito gratos.



 A área da saúde esteve a sentir na pele todos estes desafios, os profissionais estiveram, sem dúvida, à altura de uma enorme crise sanitária global como só há 100 anos se assistiu (gripe espanhola), foram incansáveis na sua conduta, na sua luta diária, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de RX, técnicos superiores, técnicos de análises clinicas, fisioterapeutas, terapeutas, psicomotricistas, administrativos, assistentes operacionais, assistentes de higiene, seguranças, gestores rh, todos estiveram unidos, todos foram e são importantes no combate à Pandemia covid-19.  

Os psicólogos clínicos, psicoterapeutas, psicanalistas e psiquiatras, passaram a ser um recurso ainda mais essencial, uma vez que a saúde mental estava a ser posta em causa, aumentaram os pedidos de apoio psicológico, inúmeros movimentos de psicólogos, psicoterapeutas, emergiram no sentido de proporcionar esse acompanhamento fundamental, numa autentica onda de solidariedade e empatia

O impacto psicológico da crise sanitária, está ainda a ser avaliado, inúmeros estudos científicos estão a decorrer, para que se possa analisar de forma minuciosa, longitudinal, todas as consequências psicológicas, desta pandemia, mas como psicólogos sabemos que a seguir à crise, pode surgir a perturbação de stress pós-traumático, que muitos poderão estar a vivenciar, de forma mais ou menos grave, consoante as patologias que preexistiam à pandemia.

Neste sentido, o cuidado psíquico, a vontade de procurar compreender as origens das nossas emoções mais angustiantes, através da sua aceitação, proporcionou a procura do autoconhecimento na psicoterapia, de forma que a higiene mental pudesse estar a par com a higiene sanitária.

Este texto foi escrito no passado e não foi por acaso, dado que constitui um desejo, que a Pandemia seja já parte da história da humanidade e que, acima de tudo, possamos continuar a sair deste período com mais sabedoria, cooperação, gratidão e empatia. 

 

 Mafalda Leite Borges

Canto da Psicologia


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Continuando a falar de Bullying...

 



 

Na realidade do Bullying focamos sempre nas vítimas. Mas, e os bullies? Que perfil de personalidade têm? Quais os fatores que podem provocar que se tornem agressivos para com os outros?

 Não nos podemos esquecer que por detrás de qualquer ação, existe uma razão. Lógica ou não, saudável ou não, existe sempre. Quem provoca situações de bullying, não deixa de ser criança ou adolescente (ou mesmo adulto) e se o faz é porque algo se passa. E é aí que há que compreender, avaliar e intervir.

Sabemos que uma criança ou adolescente que seja autor de bullying, espera sempre que seja feita a sua vontade, que gosta de sentir o poder, mas também que não se sente bem na interação com os pares, que pode estar a ser intimidada na escola ou na família, que pode estar a ser frequentemente humilhado por adultos ou que vive sob pressão para que seja sempre bem sucedida.

 Vários estudos apontam para diferentes fatores que podem levar a que uma criança ou adolescente se torne um bullie:

-  um dos fatores apontados é a auto-estima. O ressentimento, o ciúme, a vergonha podem ser escondidos com a agressividade. O facto de as crianças ou adolescentes serem frequentemente ofendidos ou criticados pode levá-los a usar a agressividade como ferramenta para se defenderem. Ao humilhar os outros, sentem-se com poder. Intimidam porque eles próprios se sentem intimidados;

- outros fatores de risco são a depressão ou as perturbações da personalidade. A conjugação de traços anti-sociais da personalidade e depressão pode provocar atitudes hostis, de raiva, o uso da força para com os outros;

- uma predisposição genética ou uma anomalia cerebral também podem causar os comportamentos de bullying. Existem crianças que não desenvolvem as capacidades neuronais para a regulação e controlo emocional;

- os grupos de pares também têm forte influência nestes comportamentos. Se parte dos elementos do grupo se envolverem em situações de humilhar e insultar os outros, todos terão tendência a fazer o mesmo, para se sentirem incluídos, para satisfazerem a necessidade de pertença e aceitação;

- o ambiente familiar é um dos aspetos mais fundamentais. Em situações de desequilíbrio emocional da família, da falta de afeto, de respeito, de comunicação pode levar uma criança ao isolamento, à falta de empatia para com os outros, à procura de aceitação e aprovação junto dos pares, praticando estas atitudes de poder.

 

O papel da Psicoterapia é fundamental nestas situações, tanto junto das vítimas, como dos bullies. Os autores das situações de bullying apresentam um desequilíbrio emocional que pode ser tratado com a ajuda da terapia. Estas crianças e adolescentes não deixam de estar em sofrimento e sem controlo das suas ações porque estas alimentam a fraca auto-estima que têm.


 Não deixe de procurar a ajuda da Psicologia caso situações de bullying existam na vida dos seus filhos seja este o bullie ou, a sua vítima. 

 

Dra. Irina Morgado

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Tudo o que a nossa mente é capaz de construir...

 



O início de um processo Psicoterapêutico traz consigo muitas expectativas, idealizações e questões.

Quando imaginamos ir ao Psicólogo, muitas vezes, esperamos uma alteração de comportamentos ou do fluxo de pensamento rápido e imediato; muitas vezes esperamos respostas diretas  por parte do Psicólogo que nos acompanha.

A função do Psicólogo é acima de tudo ajudar a pensar e a compreender-nos. Ajuda a transformar pensamentos, ajuda a pensar sobre nós próprios, sobre as experiências pessoais, as emoções, os pensamentos, os comportamentos, os desejos, as fantasias, as idealizações: tudo o que a nossa mente é capaz de construir. É com esta pessoa que não tememos ser verdadeiramente sinceros e transparentes, com quem podemos partilhar o que nunca partilhámos: dúvidas, crenças, pensamentos, inseguranças, fragilidades. Uma certeza podemos ter: a pessoa que nos ouve e está à nossa frente não vai julgar nem condenar; vai acolher, escutar ativamente e abraçar as nossas palavras e emoções, cumprindo sempre os princípios éticos da privacidade e da confidencialidade.

 

Quanto às respostas..? Bom, elas surgem no decorrer do processo terapêutico. O aumento da capacidade de nos pensarmos, as questões que vão surgindo e o entendimento de tantas outras vão abrir caminho para as respostas ou alterações procuradas.

 

Acrescentamos ainda a importância da pergunta: muitas vezes pretendemos encontrar uma resposta a um porquê e existem muitas mais interrogações que podem e, quem sabe, devem ser colocadas! No fim de contas o aumento do autoconhecimento e do bem-estar emocional são os objetivos últimos e nem sempre advém de uma resposta direta mas sim de uma associação de pensamentos trabalhados e devolvidos em setting terapêutico.

 

 O Psicólogo é quem que ajuda na compreensão das necessidades, dos padrões que vivemos e adoptamos. Alguém que nos ajuda a pensar e a questionar o que antes não era questionado, tendo sempre como finalidade o bem-estar emocional.

 

 Drª Inês Almeida

O Canto da Psicologia