terça-feira, 30 de abril de 2013

Ontem, dia 29 de Abril, comemorou-se o Dia Mundial da Dança... Deliciados com a qualidade da técnica e a comicidade cuidada do grupo, relembramos a Companhia de bailado masculina " Les ballets Trockadero de Montecarlo"

http://youtu.be/PBYFREnH32g

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Porque hoje é o Dia Mundial da Terra, relembramos a maravilha do espaço onde habitamos! Que tal, respeitá-lo?
Uma excelente tarde é o que lhe deseja a equipa do Canto!




quinta-feira, 18 de abril de 2013





"Trocando por miúdos"

Foram sólidos e audazes os pés que se aventuraram por "areias tão movediças" associadas ás intermitências do tema da morte na infância. Neste "Trocando por miúdos" deram-se passinhos de lã e passos gigantes numa partilha enriquecida pela aprendizagem, humor e emoção, onde os graúdos cresceram mais uns centímetros por dentro e os seus miúdos foram as personagens principais, de uma história que se quer continuada.

Um sincero obrigada a todos os participantes que se deixaram levar nesta aventura que promete não terminar por aqui.

Perlimpimpim e a história ainda não chegou ao fim!

terça-feira, 16 de abril de 2013



O mágico número 7!

Miller, professor de psicologia na Universidade Rockefeller, tomou conta do nosso imaginário no primeiro ano da licenciatura, através do seu trabalho mais famoso: The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on our Capacity for Processing Information - O número mágico sete, mais ou menos dois: alguns limites na nossa capacidade de processar informação.

Nesse artigo, Miller dá ao número 7, a capacidade mágica de permitir que a nossa memória a curto prazo, tenha a capacidade de armazenar listas de letras, palavras, números ou qualquer tipo de itens discretos, na quantidade referente a esse número mágico (mais ou menos dois). O mundo apaixonante das estratégias mentais de facilitação ao nosso desempenho prático e diário. Desafiamo-lo(a) a ler o artigo. E já agora, repare, a curiosa combinação numérica na quantidade de dígitos, referentes aos números de telefone: 123 456 789 ( + ou – dois), e reflicta sobre a facilidade como que de uma forma imprevista, sem a ajuda do papel, facilmente os memorizamos.

Deixamos-lhe mais exemplos onde a magia matemática deste número está também presente: 7 são as virtudes; 7 são as cores do arco iris; 7 são as notas musicais, com 7 escalas, 7 pausas e 7 valores; A lua tem 4 fases de 7 dias cada; 7 são as saias das nossas mulheres do mar da Nazaré; Lisboa tem 7 colinas; 7 maravilhas da natureza; enfim, um sem número de magia que envolve o número 7…

E foi envolvido por nesta magia que de repente, O Canto da Psicologia se olhou e reparou que, também até nós, a magia do número 7 tinha chegado. Não que todos os dias os nossos pacientes não façam, pela sua transformação diária, a magia esperada e desejada que nos envolve e, faz-nos cada vez mais acreditar no Processo Terapêutico mas, atingir 7 dos objectivos a que nos tínhamos inicialmente proposto, aquando do arranque do projecto, sem dúvida, foi mágico:

1 – Já somos referência na margem sul, a partir de Alcochete;

2 – Conquistámos o nosso espaço em Lisboa o que nos obrigou a aumentar o espaço físico de atendimento;

3 – Em Setúbal, acabámos de chegar mas, já estamos a conquistar;

4 – Já somos referência no Facebook com um espaço significativo de partilha, sugestões e onde “damos a mão”, semanalmente, no chat.

5 – A Equipa cresceu com o convite a mais dois elementos, o que nos permitiu abranger mais duas valências – Dependências e Terapia de Grupo ; www.canto-psicologia.com

6 – Aumentámos os meios de ligação entre nós e quem nos segue desse lado do ecrã, através da Newsletter e do BLOG acabadinho de “inaugurar” ( visite-nos!!):
eufacopsicoterapiaegosto.blogspot.pt;

7 - E, sobretudo, conquistámo-lo(a) a si que nos lê!

É, ou não é a magia do número 7?

Um imenso obrigada de toda a equipa pela confiança, pela motivação, pelo desafio, pelas palavras, por tudo o que o/a faz chegar até nós.

Prometemos continuar a merecer o tempo que perde connosco!

O Canto da Psicologia

Ana de Ornelas
Directora Técnica



“ A insustentável leveza de uma pega azul…"

Era uma vez uma pega azul que num dia limpo e de sol escaldante, voava ali para os lados de Palmela! 

Tentada pela ilusão de uma autonomia temporária arriscou e afastou-se do seu bando barulhento. Tranquilamente, enquanto olhava a beleza de uma posição privilegiada, perdeu-se para norte do estuário. A última coisa de que se lembrava, era de um espelho enorme que reflectia o azul da sua cauda e asas, numa paleta de cores em que as nuvens e o céu a confundiram com o brilho de si própria.

E, pum!!!! Estatelou-se contra uma janela gigante, de uma família gigante, não em termos de tamanho mas, de tudo o que ela abarcava: o pai, a mãe, o avô, a avó, dois filhos e no resto da quinta, dois burros, duas cabras anãs, um porquinho, galinhas, 1 gato, 4 cães, um coelho.
Bom, aparentemente tinha caído no sítio certo!

Ainda atordoada com o impacto do choque, de patinhas para o ar, abriu os olhos e, assustada, viu sobre si uns olhos bem maiores que os seus, numa cabeça gigante e um sorriso de orelha a orelha que acompanhava um grito de excitação:

- mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!! Olha um angry birds azul vivo!!!!

Era o António, a criança mais velha daquela família, 5 anos, que adorava desde muito pequenino todos jogos possíveis e impossíveis de serem jogados no iphone ou, ipad do pai. O Angry birds, inquestionavelmente, era o jogo preferido deste menino.

E vieram todos a correr. A mãe primeiro, claro e, com aquele jeito que só mãe tem, pegou na assustada pega azul, levantou-a com jeitinho, aconchegou-a na concha das suas mãos e levou-a para a sala onde toda a família podia ver mas, não tocar. E cuidou dela, como só mãe sabe cuidar. A pega azul, ainda num estado de paralisia total, não recomposta, desfeita pelo impacto mas, viva, continuava sem perceber o que lhe tinha acontecido. No entanto, aquele quente das mãos acalmava-a.

O António, seu fã, insistia: - Mãe, posso segurar ela, posso? Posso?
A mãe, devolvia-lhe: - António, o passarinho está tonto pela queda! Vamos ter que cuidar com muito jeitinho!
E o António, inundado de uma felicidade incontrolável, sem se conseguir conter, insistia:
- Só um diguinho (bocadinho) mamã, só um diguinho! E a mãe deixou…

Com o jeito de um menino de 5 anos feliz, o António, mostrava a toda a família o seu passarinho azul do jogo angry birds! E toda a família sorria e ria, pelo seu entusiasmo e fantasia contagiante. E correu para o avô. O avô, que vivia num mundo dele, solitário, em que o Alzheimer era a sua companhia e que só o António e o irmão de vez em quanto o conseguiam despertar, mas para o colo de quem ele corria sempre que podia, sorriu e sussurrou:
- Cuida dele! Com jeitinho! Ele precisa, como o avô!

E o António cuidou! Mas cuidou tão bem, mas tão bem e abraçou tanto o seu angry bird nas suas mãozinhas pequeninas para que ele não tivesse frio, que a pega azul, frágil como estava, não resistiu ao excesso de zelo do menino e acabou por morrer.
Ao notar que já não se mexia, o António correu para a mãe e disse-lhe:- Mãe, ele não se mexe, porquê? A mãe, percebendo de imediato o que tinha acontecido mas sem saber muito bem o que lhe dizer, respondeu:
- António, como no teu jogo, ele não vai mexer-se mais! Morreu!
E o António insistia:
- Mamã, carrega no “restart”, no “restart” mamã, carrega! Vais ver, o passarinho volta!

Mas, a pega azul que nesse dia se afastou do seu bando, não voltou! E a mãe do António, não conseguiu explicar de forma contentora o que tinha acontecido ali!

Passaram-se os dias. Aparentemente, tudo tinha voltado ao normal após este incidente. Só algo, aos olhos desta mãe, parecia estar diferente. E mais atenta, percebeu que o António ultimamente passava pelo avô, olhava-o, tocava-o de forma leve e rápida mas não ia para o seu colo, nem o abraçava como antigamente.
E uma tarde, quando os meninos chegaram da escola e o irmão do António, o José, correu para o avô e como habitual deu-lhe um beijo, abraçou-o e foi lanchar, a mãe, foi ter com o António que já lanchava e perguntou-lhe:
- Porque não foste dar o teu abracinho ao avô?
E o menino respondeu:- Poque tava com muita fome! E baixou os olhos como se não quisesse que a mãe lhe visse a verdade reflectida no olhar!
A mãe insistiu:
- Mas o avô gosta tanto e precisa!
E o António, que até aí se tinha contido, lançou-se nos braços da mãe e disse-lhe a chorar:
- Não posso, mamã. Não posso abraçar o avô! Eu ainda não sei o que é morrer! E eu gosto tanto do avô, como gostei do angry birds, que se eu o abraçar com muita força como eu gosto, eu acho que ele pode desaparecer e tu não sabes fazer “restart” para ele voltar e eu vou ficar muito triste. O que é isto de morrer, mamã?

E a mãe, silenciou esta sua própria incapacidade de perceber a morte e, não soube o que responder ao seu filho!

O que responder a um filho perante questões em que a temática é a perda, a morte, mesmo que seja só, a de uma simples pega azul?

O Canto da Psicologia
Dr.ª Ana de Ornelas
Um Olhar sobre o espelho da Anorexia





“Olho-me. Contemplo o meu corpo transfigurado. Debruço-me sobre os braços, depois as pernas, o tronco. Toco a pele, gelada. Devia agasalhar-me, mas não sou capaz. Quero continuar a olhar para mim, assim, despida do tudo aquilo que vai enchendo este vazio e que, numa luta comigo, se constrói como disfarce do que tento ser e não sou. Por isso gosto de me olhar aqui, ao espelho. Porque é no espelho que me encontro comigo. Nele, sou capaz de me olhar por dentro.






Ao mesmo tempo, odeio. Odeio sentir que ainda não alcancei a meta, e que o meu corpo está como quero. Sinto repugnância por este corpo, que não corresponde ao que desejo. Ainda assim, o espelho tornou-se o meu maior aliado. É no reflexo dele que consigo entrever quem sou. E agarro a face, como tantas vezes tento agarrar a pele ou o corpo, porque me dá este sentir dos limites do que me faz pessoa. É quando toco no meu corpo que entendo os limites de mim. Porque, aos poucos, ele se transformou em qualquer coisa que finalmente vou sentindo ser capaz de controlar – Esta revelação surpreendente na minha vida, onde tantas vezes tão pouco fui capaz de sentir, de reter. Onde tantas vezes me senti volátil, à mercê dos outros. E agora, percebo: pelo menos o meu corpo, consigo que seja o que eu quero ser. Consigo transformá-lo, ajustá-lo, enchendo e esvaziando, à mercê do que eu quiser. Sempre em luta. Uma luta que agora é só minha e onde acredito que poderei ser vencedora.





Perdi peso. Algum peso. Mas não tanto como os outros me querem fazer ver. Esses outros que têm como prato preferido fazer de mim aquilo que não sou. Agora sinto-me Eu, quando toco a minha pele e o meu corpo. Sei que estou ali e que sou Eu, Maria, Madalena, Isabel. Não importa, não é o nome que me define. É o meu corpo. E consigo consolar a dor que outrora sentia, perdida no vazio de mim, sozinha nos recantos sombrios que me habitam, à espera de um resgate que nunca pareceu chegar. Quando me olho ao espelho, vejo que encontrei um cais. Este corpo que é paredão do que sinto, mas que agora existe, tem forma, tem cor, tem cheiro. Esta forma, esta cor e este cheiro que sou capaz de transformar.
No nada, o meu corpo foi tudo.
Tudo o que consegui controlar.”

Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira






Somos todos um pouco Contadores de Histórias!

Há um cheiro que fica no ar! O cheiro do leite a ferver , do bolo que termina no forno e até o cheiro da história que a minha avó contava, num ritual semanal, num dia específico  da semana, na hora da avó e neta.  – curioso, agora que recordo, quase como um prenúncio  do que seria o meu futuro: escutar narrativas de vida, a um dia de semana, num horário previamente combinado entre psicóloga e paciente -.
Como boa Contadora de Histórias que era, não prescindia de preparar todo um cenário que anunciasse de uma forma velada o tipo de história que iria ser contada nesse dia:  de príncipes e princesas ou,  lendas perdidas no tempo ou, histórias de animais ou, histórias da  sua própria história!
E tudo começava com o tom mais apropriado ao tipo de enredo, pela  famosa frase que dá início à fantasia em todas as histórias: “ Era uma vez…”
 E eu, deliciada por todo o contexto envolvente, num ápice, voava em pensamento para onde ela me levava através da voz, da entoação, do narrar; num instante eu era a princesa, como de seguida o príncipe, como logo depois um dos porquinhos a fugir do lobo mau ou, o grilo falante no nariz do Pinóquio ou, a neta amedrontada a levar o lanche à avó pela floresta densa do enredo ou, a branca de neve à espera do beijo que ficava só no pensamento que eu ainda não tinha idade para isso ou,  o patinho feio, enfim …um rol de personagens que tomavam forma e vida, num espaço de afecto, em que o mundo rodopiava lá fora mas, que ali, só eu importava!
Deliciosamente eu me encantava….

Enquanto também contadores de algumas histórias, histórias que passaram aqui através dos  nossos textos, O Canto da Psicologia não poderia deixar de assinalar este dia pelas histórias que já lhe contaram e o fizeram sonhar, pelas histórias que já contou e fez sonhar e, sobretudo,  pela sua inquestionável capacidade de criar e mudar, a sua própria história.
A equipa deseja-lhe um bom dia…

O Canto da Psicologia
Dr.ª Ana de Ornelas












“Trocando por Miúdos” 

Enquanto pais, inúmeras vezes somos confrontados com questões, observações e respostas dos nossos filhos que nos desarmam e remetem para um mundo onde há muito deixámos de estar, mundo esse onde se foi criança e onde já não sabemos sequer pensar e traduzir o que muitas vezes, nos tentam dizer. E afinal, é tão mais fácil do que pensamos. Estamos é formatados para o “by the book” que nos acompanha diariamente  debaixo  do braço, desde que o teste sinalizou que “ - sim, estamos grávidos! “ e onde recorremos sempre que, impotentes, tentamos interpretar as reacções dos nossos filhos não percebendo que, o que queremos efectivamente, é perceber as nossas, perante as deles!

- Porque é que se tem que morrer?
- Porque é que há noites? Porquê?
- Pai, o que é um preservativo?
- Porque é que no céu não há televisão? Porquê?
- Como é que o mano vai sair daí de dentro? Como?
- Porque é que vocês não dividem a casa a meio, com uma parede, em vez de se separarem?
- Porque é que o meu amigo tem duas mães e a minha amiga, dois pais?
- Porque é que à noite tudo fica enorme e eu só gosto de ir dormir contigo, mãe?

Poderíamos colocar aqui muitas mais questões incómodas , pertinentes e até outras hilariantes que deixariam qualquer pai e mãe a sorrir, sobretudo porque colocariam isto sempre num contexto de “outros pais, que não nós” .
Mas, retirem-se dessa posição confortável caros pais, porque, estes desafios ao vosso desempenho parental, chegam a todos!

E foi exactamente pensando nas situações “desconfortáveis” mas desafiantes enquanto pais , que a Equipa do Canto da Psicologia, em parceria com a Drª Joana Cloetens, psicóloga com vasta experiência na área da infância e adolescência, resolveu convidar pais, educadores, professores, que queiram estar só, suficientemente bem preparados para estes imprevistos, a desafiarem-se e a arriscarem vir até nós para, em conjunto, pensar estratégias e formas simples e adequadas de responder e agir, quando colocados perante momentos particularmente complicados!


O nosso principal objectivo é que todos saiam com a certeza e convicção de que, da próxima vez que colocados entre a espada e a parede perante algo incómodo e desafiante, possam devolver tranquilamente:
- Muito bem, meu filho, vamos lá trocar tudo isto por miúdos. 


Já tivemos o nosso primeiro "Trocando por Miúdos" neste último sábado dia 13/04 em que a temática foi "como falar sobre a morte às crianças" e estamos já a preparar o próximo... fique atento... logo, logo, damos notícias...

quarta-feira, 3 de abril de 2013




Crianças com a Cabeça na Lua!
(Hiperactividade e Deficit de Atenção)

No dia-a-dia de uma sala de aula, é frequente depararmo-nos com alunos agitados, que arrancam os brinquedos aos colegas, enquanto andam de um lado para outro, impossibilitados de permanecer sentados no mesmo lugar. Não obstante, raras são as vezes em que estes alunos conseguem terminar as tarefas que lhes são solicitadas, reagindo com agressividade. Mas, então, será que falamos de indisciplina?
Este que poderá ser um quadro frequentemente confundido com insubordinação, é característico de um distúrbio de atenção que atinge 5% das crianças e adolescentes em todo o mundo. Falamos-lhe, pois, da hiperactividade. Fruto da profunda transformação do paradigma social e cultural em que nos inserimos, esta é uma problemática do desenvolvimento infantil, cuja expressão tem vindo a ser manifestamente aumentada, exigindo respostas por parta das famílias, das escolas e dos técnicos de saúde mental.
Enquanto desafio que se coloca a todo o sistema familiar, a hiperactividade deve ser entendida sob vários prismas de leitura. Por um lado, importa considerar que para cada sintoma há uma causa, pelo que intervir no sintoma não é prognóstico de resolução. Manifestações como agitação, impulsividade e falta de atenção dão nos conta de um Ego que não está a exercer a função de inibição necessária, não se regendo pelo próprio princípio da realidade. Isto significa que, enquanto sintoma, a hiperactividade é representativa de uma falência na vida emocional da criança que está, naturalmente, associada ao próprio sistema familiar. A intervenção exige, assim, pensar o ponto de ancoramento da perturbação. Efectivamente, pensar a criança hiperactiva pressupõe, sempre, um modelo de intervenção estruturado, que tenha em consideração os palcos nos quais a criança se move (falamos, sobretudo, da família e  da escola). Considerando a conjuntura actual, onde a ausência de modelos organizadores marca transversalmente toda a sociedade, num trajecto cujas regras parecem padecer de uma infindável labilidade, torna-se imperioso relembrar às famílias o seu papel e a importância da forma como se colocam na relação com a criança para o seu equilíbrio emocional. Se a sintomatologia associada à hiperactividade é o veículo de comunicação da criança para fazer chegar ao mundo adulto o quanto se sente perdida com o excesso de informação a que fica diariamente submetida, por ainda não ter as condições psíquicas para processar e filtrar tudo aquilo que vê, ouve e sente sem entender, então, é necessário a existência de um “outro” adulto que possa ajudá-la a processar e a organizar toda a gama de excitação que invade o seu psiquismo diariamente.

Na verdade, a questão que se coloca está além das concepções neurológicas que se tecem a respeito da hiperactividade, residindo, pelo contrário, na imprescindibilidade de  considerar o sujeito psíquico, cujo crescimento interno está em suspenso, pela resistência que tais obstáculos exercem sobre a continuidade. Este entendimento é aquele que nos parece tornar possível o efectivo resgate da pessoa, colocando-a novamente em cena e possibilitando-lhe que se encarregue daquilo que é seu – o que não sucede quando a resolução tem como tónica a medicação. Na demanda de resposta simplificadas (mas, sabemo-lo, insuficientes), coloca-se o sujeito numa posição de impotência e passividade, impedindo-o de aprender a resolver conflitos a um nível intrapsíquico.

O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira


Porque é que as crianças devem ter o seu próprio quarto?

Mãe... Pai... Hoje quero dormir com vocês!
Tive um sonho mau, não consigo, não quero ficar sozinho! ... E se os extra-terrestres do sonho entram pelo meu quarto e me levam para longe? E depois, há aqueles monstros debaixo da minha cama, que à noite, mesmo à noitinha, quando todos dormem, insistem em soprar-me ao ouvido! E eu fecho os olhos, agarro-me à almofada, mas não chega! O que eu quero... É deitar-me no meio de vocês, enrolar-me nos lençóis e sentir o vosso quentinho!
Vá lá... Mãe, Pai... É só desta vez!”

E assim começa a história do “É só desta vez”... E que se repete, na vida e no seio de muitas famílias. Fruto da sábia persistência infantil, do cansaço parental e, quem sabe, de uma ou outra razão que cada um (des)conhece, este é o cenário que se prolonga por largos anos para algumas crianças, com danos e repercussões que importam ser pensadas.

Mas, afinal, porque é que é tão importante que o espaço da criança seja preservado e, dessa forma, que lhe seja concedido um quarto, único e singular?

É nesse espaço privado que se inaugura a noção do intimo e do individual. Será, pois, no quarto que a criança encontrará tudo o que diz respeito à sua intimidade: a cama, enquanto espaço do sono e do sonho, e os brinquedos, cuja importância, pelo acto do jogo e do brincar, se institui como fundamental para a estruturação psíquica. Trata-se, portanto, de um espaço de fantasia, onde o simbólico ganha dimensão. A criança pode ser herói ou vilão, vencedor ou derrotado, capturar ou ser resgatado, organizando o seu aparelho defensivo a partir das vivências que ocorrem no mundo simbólico que este espaço lhe permite. Efectivamente, o quarto é representativo da possibilidade da criança se confrontar com todo o tipo de angústias – a frustração por perder uma batalha, sentir-se pequeno e impotente ou herói, capaz de resolver grandes batalhas, separar-se dos pais e aguentar a possibilidade de estar sozinho. Mas é na possibilidade de se deparar com tais angústias que reside o potencial de crescimento. É, pois, a única via para que os monstros sejam vencidos, mesmo os que “sopram ao ouvido”.

Boicotar este espaço de crescimento é limitar o pensamento, é tirar asas à possibilidade da criança voar pela fantasia, pelo seu mundo interno, e nele elaborar os conflitos, as ambivalências e as angústias. É retirar ou, por outra, não dar acesso ao potencial criativo que reside em cada sujeito, não permitindo a constituição de uma matriz estruturante, fundada no pensamento, no jogo e no sonho.

Numa sociedade marcada pela confusão geracional, pela ausência de limites e pela constante transgressão da regra, importa aludir para este tipo de problemática, pelo impacto que tem na própria vida mental. A correlação é estreita e, nesse sentido, exige que seja pensada no colectivo. Pais suficientemente bons são aqueles capazes de respeitar o espaço individual dos seus filhos, mesmo quando isso exige frustrar-lhes minimamente o desejo.
O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira



Desempoeirando o Divórcio dos Pais...

Não é raro encontrar adultos cuja vivência de separação dos pais, na infância ou na adolescência, assinalou profundas fissuras, que tardiamente aparecem (aos olhos do próprio, daqueles que o rodeiam ou, quem sabe, por entre as paredes de um consultório de psicoterapia), sob a forma de bloqueio relacional.
Num país onde as taxas de divórcio são crescentes, mais do que desconstruir o novelo em que se vão tecendo tais cenários, importa considerar o impacto que a separação dos pais tem no mundo interno da criança. Não pretendemos, porém, assumir uma leitura idealizada, pois que sabemos, que em muitas circunstâncias, a possibilidade de separação é, até, reparadora da saúde mental dos protagonistas e dos mais pequenos, tantas vezes oprimidos pelo vendaval parental. Por outro lado, seria igualmente redutor pensar que o divórcio encontra equivalente directo em trauma (expressão que é, por vezes, levianamente utilizada, sem que percebamos o que efectivamente estamos a classificar).
Não haverá uma fórmula que delimite quais as consequências emocionais da separação dos pais ou que eventuais dificuldades psicológicas emergirão. Há, num outro sentido, protagonistas que preservam as suas características individuais e particulares, que em muito contribuem para a resolução de um momento de ruptura, como sucede num processo de separação. Assim, tomando como verdade que qualquer situação de contenda conjugal tem repercussões de maior ou menor gravidade nos filhos, o potencial de resolução do conflito interno dependerá, sempre, da estrutura que serve de base à organização psíquica da criança, bem como da forma como a relação com aqueles pais se encontra estruturada.
Em todo o caso, a vivência de um sentimento de culpa é irremediavelmente inevitável, sendo a partir do mesmo que o aparelho defensivo da criança se mobiliza para a resolução do conflito que aquela fonte de tensão despoleta. A forma como a culpabilidade é gerida internamente depende, como supracitado, da estruturação interna até aí edificada. É, todavia, possível identificar uma constelação de sintomas relativamente frequentes, como tristeza, apatia, inibição, insucesso escolar, somatizações (enurese, tiques, etc.), os quais, encetando o sofrimento psíquico, constituem os pilares para a depressão infantil. Na adolescência, quando não é de todo possível pensar e integrar a culpa, irrompem comportamentos agidos ou pré-delinquentes.
Em circunstâncias como as descritas, em que uma separação é representativa de uma vivência dolorosa e inibidora do crescimento interno, importa intervir, num trabalho que deve acontecer em articulação com a criança e os pais, envolvidos por um bem maior: a saúde mental do filho.

O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira 


Quando olho, vejo-me, logo, existo!
A interacção entre a díade mãe-bebé.

Se na última rubrica lhe dizíamos Fui Amado, logo, Existo!, como forma de expressão de uma necessidade universal de ser amado para que efectivamente seja possível aprender a amar, hoje, em continuidade, voamos consigo até ao momento em que tudo acontece. Referimo-nos, pois, aos primórdios da existência, que se esgrime no balanceado jogo entre a díade mãe-bebé - porque é dessa troca comunicacional que se erguem os pilares estruturais da personalidade, porque a figura materna constitui a base do equilíbrio interno na construção do psiquismo.
É nesse embalo que germina a interioridade emocional da criança e a sua saúde mental. É nesse movimento, na sua continuidade e na sua constância, que se organiza o mundo interno, sendo a partir daí que muito do que somos fica arquitectado. Sabemos, por isso, que a interrupção dos cuidados maternais ou a pobreza dos mesmos abre fissuras que podem manifestar-se de imediato ou apenas em fases evolutivas posteriores, sob as mais diversas formas.
Não lhe falamos de mães perfeitas, mas de mães suficientemente boas: mães que se sintonizam com o seu bebé, interagindo, brincando e respondendo às suas angústias, num movimento distanciador entre o que são as necessidades e os desejos do bebé e as suas próprias vontades, respeitando-o enquanto ser autónomo e separado de si. E precisamente por isso falamos-lhe de “Mães suficientemente boas”, por aqui residir um espaço diferenciador entre os extremos não desejados e de mau prognóstico para o desenvolvimento sadio (mães que proporcionam ao bebé uma vivência abandónica ou, no oposto, mães que trespassam a relação com o bebé para uma dimensão intrusiva, de confusão entre os espaços). Serão, então, mães capazes de se dedicar a compreender o seu bebé, por forma a que este possa organizar o pensamento, a fantasia e o próprio sonho. Mas serão também mães capazes de reconhecer que, não conseguindo, precisam de ajuda, que estando bloqueadas, são capazes de mobilizar esforços no sentido de que outros reparem as suas carências e as dos seus filhos.
E, eis que! Vendo o rosto da mãe, o bebé se vê a si próprio. É a partir do que ali encontra espelhado, que se reconhece, a si e à sua existência. É então que, Quando Olho, Vejo-me, logo, Existo!

O Canto da Psicologia,
Drª Joana Alves Ferreira