quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Pronto a pensar...





Vivemos, cada vez mais, numa sociedade marcada por transformações profundas ao nível do avanço das novas tecnologias veiculada a uma rápida acessibilidade de informação. Inevitavelmente, ficamos perante um modo de viver e pensar substancialmente diferente daquele que se vivia há uns anos atrás. Historicamente todos estes movimentos têm-nos conduzido por um lado, à individualidade (ou singularidade) como também nos têm conduzido a uma procura incessante e diria “exagerada” de uma rápida resolução de problemas. Arriscaria até a dizer que vivemos numa sociedade ansiosa, insegura, que procura uma satisfação imediata das suas necessidades, e igualmente a resolução  rápida dos seus problemas (não esquecendo o facto de que também o poder económico diminuiu logo,certamente, também terá influência na procura de soluções imediatas a baixo custo!). Acabamos por nos deparar com um certo paradoxo pois, se por um lado a individualidade nos traria, inconsciente ou sub- conscientemente, a capacidade de pensar por si mesmo, uma certa consciência de si próprio, uma certa capacidade de olharmos para nós (e inevitavelmente para os outros) e de nos relacionarmos (connosco e com os outros), surgem-nos cada vez mais  pessoas inseguras, ansiosas, somáticas, deprimidas, e com uma certa dificuldade de integração da responsabilidade individual inerente a esta liberdade de sermos “individuais”.

Na prática clínica deparamo-nos com um número crescente de pedidos, pedidos estes em que se associam sintomatologias acentuadas, em que vemos corpos “gritantes” e mentes com pouca capacidade de pensar e digerir. Cada vez mais, deste lado, recebemos pessoas com quadros sintomatológicos intensos, com fragilidades profundas, com necessidades de reparação e integração do “EU”, arriscaria a dizer “urgentes” para aumentar o bem estar mental e, muitas vezes, físico (necessidades estas que os medicamentos não alcançam...). No entanto e paralelamente deparamo-nos com uma controvérsia profunda, pois cada vez mais as pessoas que procuram ajuda, procuram também soluções rápidas, “talvez meio mágicas?”. São crescentes as perguntas como “O que é que eu posso fazer para resolver este problema?, ”, “Quantas vezes preciso de vir cá para isto ficar resolvido?”, “Hoje até fiz uma lista e preparei a sessão para ver se avançamos mais rápido”.

Quando falamos ou pensamos em psicoterapia poderíamos brincar e dizer que é um antónimo de rápido... falamos ou pensamos num processo de co-construção, de estar e pensar sobre si, de olhar para dentro, de gerir e confrontar defesas, angústias, por vezes traumas, memórias, sofrimento, mas também alegrias, esperanças, sonhos... um processo de re-encontro e de re-descoberta e descoberta do novo, do desconhecido, da possibilidade de mudar, reparar, transformar e integrar. Não falamos certamente, na maioria dos casos, de processos rápidos, mas poderemos afirmar que estamos perante processos com um potencial de mudança altamente significativo para o bem estar individual e relacional daqueles que nos procuram e que se permitem sentar, estar e pensar...

Não estamos perante o pronto a vestir ou pronto a comer ou pronto a resolver mas, o pronto a pensar!


Drª Inês Lamares



terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Cair de joelhos...









Comecei há pouco tempo um trabalho de habilitação funcional ao nível da articulação do joelho com uma nova aluna. Num dos treinos, ela questionou-me se “podia ultrapassar o joelho face à ponta do pé no agachamento”. Esta questão, veio no seguimento de um professor num ginásio, lhe ter dito que nunca devia ultrapassar tal amplitude, porque era muito perigoso!
Infelizmente este mito, a par de outros continua a ser apregoado pelos profissionais do exercício e do fitness.
A melhoria da mobilidade articular dita funcional, não passa por colocarmos os alunos em posições de extrema amplitude de forma estática. Deve passar em primeiro lugar, por desenvolver controlo motor a nível neuromuscular e só depois trabalhar em pequenas ou grandes amplitudes.
As articulações não funcionam de forma isolada. No caso de um joelho instável, o problema pode estar na articulação a montante ou a jusante, ou seja, no tornozelo ou na anca.
Padrões de movimento mal executados, articulações frágeis ou a queima de etapas nos processos de treino é que levam a suposições erradas sobre exercícios e movimentos.
Apesar de ser uma questão complexa, passar o joelho da ponta dos pés não é um problema para grande parte das pessoas. 
Lembre-se, não existem exercícios contraindicados, mas sim pessoas contraindicadas para eles! 
 A chave do processo, passa por saber a dosagem/quantidade certa a aplicar a cada aluno de forma única e individual. Procure um profissional de exercício especializado para o ajudar. 


Bons treinos!


Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre





quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O compasso psicoterapêutico...









Da terapia

Presente e pensante. Atenta.
O que as palavras dizem.
O que as palavras escondem.
O que as palavras revelam num instante.
Um instante que se ilumina por entre um
Emaranhado de uma correria de palavras.
O que as palavras escondem e o corpo denuncia.
O que as palavras fazem sentir.
O ressoar... O seu eco...
O encontro. Chegar perto. Ficar à distância...
Uma dança. Uma balada... Um rock desenfreado!
Inúmeras tonalidades, tomadas num mesmo sentido.

                             Filipa Rosário


Estar em relação não será em si mesmo algo poético? Estar numa relação psicoterapêutica não o será também?

O psicoterapeuta quando inicia um processo com qualquer pessoa que receba na sua sala dispõe-se a dar o que tem de si, o que tem em termos técnicos, das aprendizagens que fez ao longo da sua formação, o que tem em termos teóricos, do conhecimento que adquiriu e, desejavelmente, continua a adquirir, e o que tem de si, da sua pessoa, do que é. E não se chegaria a bom porto sem uma conjugação satisfatória destas três vertentes. Dispõe-se igualmente a receber o que o outro traz, que em vários momentos suscita algo no próprio e que impele à compreensão e processamento destes fenómenos. Trata-se de um trabalho ao mesmo tempo subtil e intenso, onde se faz uso do inteleto mas também do afeto, onde se está em relação.

E experienciam-se inúmeros movimentos no contexto desta relação. É como uma dança, na qual é preciso ir acertando os passos, que se move ao som e ritmo de diferentes humores, vivências, emoções, funcionamentos... Com um sentido muito claro, o de criar condições para que a pessoa encontre o que é a sua verdade e alcance o bem-estar.




Drª Filipa Rosário