terça-feira, 23 de outubro de 2018

Medicamente para o sedentarismo...






Hoje em dia não é novidade que o exercício físico regular é fundamental para aumentar a longevidade, qualidade de vida e a melhoria do envelhecimento no ser humano.
Surge esta semana, um estudo realizado nos Estados Unidos, onde foram analisados dados de mais de 120 mil pessoas durante 24 anos e em que essas pessoas eram sujeitas a testes físicos. Os resultados foram surpreendentes, o risco de morte numa pessoa sedentária é 500% mais elevado, em comparação com outra pessoa que seja bastante ativa fisicamente.
Mais surpreendente ainda, é o facto de o risco de morte ter um pior prognóstico em pessoas sedentárias do que em pessoas fumadoras, hipertensas, diabéticas ou com problemas cardíacos. O estudo aponta também, que não existe um nível de exercício que exponha as pessoas a um risco de saúde aumentado.
Os investigadores afirmam que, as pessoas desde que bem orientadas por um profissional médico e de exercício físico podem e devem treinar de forma intensa.
Desta forma, podemos concluir que o melhor “medicamento” para o sedentarismo se chama EXERCÍCIO.

Bons treinos


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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A saúde mental começa em bebé...






 Cada vez mais há registro de adultos que sofrem de doença mental, segundo dados recentes Portugal é o país da Europa com mais prevalência de doenças mentais na população com uma percentagem de 22,9% (dados do relatório de Saúde Mental 2018). Podemos identificar múltiplos motivos para estes resultados, desemprego, baixos salários, falta de condições e oportunidades, embora verdadeiros, existe uma razão que é fundamental (muitas vezes subestimada) que está relacionada com os primeiros anos de vida que são fulcrais na construção de identidade base do individuo. A forma como o adulto gere a sua ansiedade/depressão está estreitamente relacionado com a qualidade das relações precoces e do ambiente familiar mais ou menos disfuncional.
Estamos numa sociedade que ignora completamente a primeira infância, apesar das inúmeras e exaustivas investigações científicas que sublinham a importância, desta fase de desenvolvimento, para saúde quer física quer mental do futuro adulto. Sabemos que nos países ditos “mais desenvolvidos” no Norte da Europa os pais podem ter direito a 3 anos de baixa, de forma a poderem dar a atenção necessária e a qualidade relacional ao seu bebé. Contudo em Portugal a realidade é bem diferente pelo que as consequências têm vindo a notar-se, cada vez mais se medicam as crianças e se diagnosticam com atraso de desenvolvimento, hiperatividade e deficit de atenção.


À medida que a sociedade avança mais parece que se desumaniza, os bebés não têm direito a ficar bebés, as crianças têm de crescer rapidamente e, depois, transformam-se em adultos incompletos, com falhas no desenvolvimento psicoafectivo, de difícil acompanhamento psicoterapêutico. A prevenção é, assim, totalmente ignorada e consequentemente multiplicam-se as problemáticas na saúde mental. Segundo dados da OMS estima-se que em 2030 a Depressão seja a doença com mais incidência no mundo, esta doença mental tem vindo a aumentar.
Neste sentido porquê falar do desenvolvimento infantil? A infância é como a coluna vertebral da identidade do sujeito, a base da pirâmide psíquica. A qualidade das interações precoces com o bebé vão promover um sentido de pertença e de segurança, na criança, que irá se repercutir até a fase adulta.
 Mitos sobre o desenvolvimento dos bebés: “O bebé ou a criança não percebem nada do que se diz ou se faz... Apenas querem cuidados básicos desprovidos de afetos... O ambiente familiar não influencia os bebés, pois ainda não têm consciência” Estão completamente incorretos, os bebés são autênticas esponjas emocionais, detetam e sentem, na pele, todos os ambientes afetivos exteriores. Se a família for muito disfuncional e ansiosa, se os pais promoverem ambientes conflituosos, então os bebés irão sofrer tal como os pais.
Estudos revelam que o recém-nascido apresenta elevados graus de cortisol que consiste numa hormona responsável pelos níveis de reatividade ao stress ou ansiedade. Contudo, esta reatividade ao stress tende a diminuir ao longo do primeiro ano de vida, à medida que a relação precoce entre cuidador e bebé se regula, sendo que depende da contingência e sensibilidade das figuras parentais. Verificou-se correlação entre a falta de sensibilidade do cuidador aos sinais do bebé e a continuidade ou até mesmo um aumento dos níveis de cortisol ao longo da infância. Esta situação pode prolongar-se para a fase adulta (e sucessivas gerações) através da criação de padrões fixos de resposta ao stress que envolvem o funcionamento restrito e rígido de neuro transmissores e de glucocorticoides.
 Um clima emocional precoce de stress, repleto de emoções negativas, leva o bebé a não conseguir atingir um estado de equilíbrio homeostático (biológico e emocional), estando permanentemente receoso por não encontrar, na relação, alguma significação que permita acalmar este estado. A regulação hormonal do medo depende, essencialmente, da capacidade que os pais (ou outras figuras centrais) têm para estabelecer comunicações empáticas, de partilha de estados mentais e afetivos e, assim, conterem a ansiedade do bebé.
 As investigações verificaram que este tipo de relação empática leva as crianças a desenvolverem instrumentos de auto-regulação emocional, bem como, está associado a uma maior capacidade de aprendizagem e concentração.
O bebé exige muito dos pais, da sua atenção, precisa de se certificar que é amado e respeitado. Se assim for vai crescer com amor-próprio e confiante das suas capacidades. Todos os comportamentos, ações, e atribuições de carácter dos pais aos filhos vão ter consequências na construção de identidade dos bebés e posteriormente no futuro adulto. O bebé vai querer sempre se adequar às expectativas dos pais quer sejam positivas (conscientes) quer sejam negativas (inconscientes).
 Deste modo a melhor forma de diminuir a doença mental é prevenir a sua incidência através de ações de sensibilização e de informação correta sobre como promover um ambiente relacional e afetivo positivo, para que as nossas crianças possam crescer em paz e adquirir a aprendizagem da regulação da ansiedade. Afinal este é o melhor presente que os pais podem dar aos seus filhos, a inteligência emocional que promove a saúde mental e dá alento e entusiasmo pela vida.



Mafalda Leite Borges
Canto da Psicologia

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Aqui Jaz uma infância perdida!





“João A…, ao Gabinete 1”
“ Matilde L…, à Sala de tratamentos”

E assim sucessivamente se ouviam os “plins” de uma campanha que servia de banda sonora aquela manhã.
Naquela sala de espera da urgência de pediatria (do que poderia ser um qualquer Hospital Nacional), os brinquedos arrumados nas duas caixas ao lado da mesa, estavam claramente doentes. Coloridos, texturados e exuberantes, apelando provocadoramente ao “olha para mim” vestiam negro no olhar e cinzento nos sorrisos. Levianamente muitos diriam: é uma virose! Antes fosse… que entre mezinhas, pomadas, descanso e recato haveria de passar.
O diagnóstico parecia claro embora encontrasse o seu contraste nas cores da roupa da boneca de pano e na musica do orgão de animais, não poderia haver dúvidas de que aqueles brinquedos padeciam de um mal gravíssimo. O robot espacial, o carrinho do Noddy, o telefone cor-de-rosa, a boneca de pano, o orgão dos animais e sua restante comitiva transportavam um ar pesado, um olhar baço e uma inércia que tão pouco as pilhas alcalinas( já quase a “babar”) tinham potência para combater. Os brinquedos estavam de luto! Curvados, tortos e amassados se carregassem ás costas a sua perda, haveria a algures de se ler: Aqui Jaz uma infância perdida!
A vivacidade de outrora estava perdida, o sentido no balanço do significante e significado, perdera o norte e o seu papel há muito parecia enterrado nas memórias longínquas, de um tempo que parecia já não se voltar a repetir. No meio de todo o barulho e frenesim daquela sala, batiam corações mudos em sintonia entre os quatro lados de cada caixa e ao aproximar-me na incredulidade de tamanha exasperação, juro quase ter ouvido um choro uníssono abafado que só os objectos outrora amados e agora abandonados conhecem.
Os brinquedos estavam de luto, pelas enumeras crianças que perderam, pelas imensas mãos que já não lhes tocavam, pelos apertos que já não levavam e pelos sorrisos inocentes de novos descobridores que não vislumbravam.
Os brinquedos estavam de luto e sucumbiam a uma dor, por vezes enganada pelos passos desleixados em modo de corrida que se dirigiam sobre a caixa, que depois e sobre o olhar projectado e desvitalizador se desiludiam por nada mais terem para oferecer que não eles próprios. Os brinquedos estavam de luto pela perda do amor do objecto. Esse amor talhado na forma de olhar o outro, medido nos gestos de afecto e amparo, que cria laços tão fortes como cimento que edifica cada estrutura interna como única…esse amor faltava-lhes agora. Restava fantasiar sobre as linhas finas de uma constituição subjectiva do que até então se tinha internalizado mais profundamente que um ou outro parafuso, uma pelúcia, um botão, peça de plástico ou até mesmo uma bateria.

Imaginei a boneca de pano em sessão, mergulhada no divã com a caixa de lenços ao colo murmurando entre lágrimas os seus sentimentos de culpa que lhe atormentam os sonhos e o olhar sobre a realidade, os sentimentos de não merecimento e de insuficiência que a deixam letárgica e incapaz de pensar. Até mesmo o Robot enchendo o Setting com o seu vazio interno e a sua dificuldade em pensar as emoções, desviando o olhar sobre a janela e mantendo um silêncio tão ensurdecedor que não dava espaço para interpretar e conter. E o orgão de animais… metia dó mas já só tocava Ré, desarmonioso sem posição para estar saltitando de um lado para no sofá, levantando-se e gesticulando sem tom, num registo incontido e lábil, numa vulnerabilidade tão característica dos que perderam o seu lugar, papel e identificação.
Os brinquedos estavam de luto por todas as crianças que passaram, passam e permanecem naquela sala de espera. Choravam a perda dos palmos e meio que naquele mesmo momento enchiam o espaço, tornando-o cada vez mais vazio de quem o via através das caixas. Os brinquedos estavam de luto pelo João A. que de chucha na boca e lágrima ao canto do olho ficou ao colo do pai a ver o Babytv no tablet. Estavam de luto pela Matilde com 4 anos que sentada ao lado da mãe gargalhava entre a tosse e o fungar, ao ver a Dora - A Exploradora no youtube. Estavam de luto por eles e pelas restantes oito crianças que sem sair do lugar e sem nunca se debruçarem sobre as caixas, “brincavam” escondendo-se da espontaneidade, do faz-de-conta, da fantasia e da experimentação, atrás dos ecrãs das tecnologias.
Perguntei a medo à enfermeira - Isto é sempre assim? - não percebendo a inquietação inicial da pergunta acabou mais tarde por responder - Sim. No outro dia até pensei se não seria melhor retirar as caixas dali do fundo e… (enchi-me de esperança) deixar a extensão mais disponível para os carregadores de telemóvel e tablets (morri na praia). Mais grave que um infância que se perde é claramente uma adultez que a corrompe, esmaga e negligencia.

Aqui Jaz uma Infância que um dia soube brincar, fazer-de-conta, caiu e levantou-se, conheceu os limites do seu corpo, esfolou os joelhos, explorou, experimentou e foi…e soube ser CRIANÇA.


Drª Joana Cloetens
O Canto da Psicologia




terça-feira, 9 de outubro de 2018

Relação estável entre físico e cérebro...






As nossas crianças estão de volta à escola, não tarda muito entram na época dos testes e exames. Não raras vezes, com a falta de tempo, os pais colocam o exercício físico dos filhos para segundo plano nas atividades extracurriculares quando se trata de ter tempo para os resultados escolares. Pois bem, está comprovado cientificamente que o exercício é fundamental para a melhoria do cérebro, funcionamento cognitivo e até para melhorar e otimizar a gestão do stress e a ansiedade.

A ciência já comprovou que o exercício físico regular promove melhoria do rendimento escolar, porque torna o cérebro mais rápido, ajuda a preservar as suas capacidades e permite aumentar a elasticidade do mesmo. Assim, em tempo de exames, se queremos as nossas crianças mais atentas, mais concentradas e com maior capacidade de lidar com a responsabilidade, devemos permitir que o exercício físico não saia das suas rotinas, coabitando lado a lado com os estudos.

Bons treinos




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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

E quando se diz não há maternidade?







Nos dias de hoje, são cada vez mais as mulheres que decidem não ter filhos. Mas, se há um número que cresce e que se acentua, parece haver, no sentido contrário, uma sociedade que continua a exercer pressão sobre o assunto, como se tivesse ficado cristalizada no tempo.
Para muitos casais, o casamento acarreta, desde logo, a inevitável pergunta: e filhos, para quando? Mas não é apenas neste marco do ciclo vital que se materializa tal inquietação. Seja porque a idade avança, seja porque se entende que se está numa relação longa e estruturada, ou, ainda, por um conjunto de tantas outras razões em que se vai suportando este mito, há sempre alguém que levanta o assunto, muitas vezes, fazendo-o acompanhar de uma fantasia de que, para que não haja filhos, é porque há algo de errado com o casal. Bem sabemos que, muitas vezes, este tipo de pressão não é mais do que uma espécie de projeção no outro daquilo que é um ideal de vida para o próprio, mas, ainda assim, não deixa de funcionar como um fator de tensão para muitos casais na vivência da sua conjugalidade.  
            Se até aqui o tema já nos parece de alguma complexidade, mais se adensa quando se trata de um não redondo e assumido à maternidade. Aqui, o alvoroço parece instalar-se com perguntas avulso de toda a ordem: sobre o que é que está mal no relacionamento ou o que é que está mal com a mulher, sempre devidamente acompanhado pelo aviso velado “olha que depois é tarde” ou a palmadinha nas costas “vais ver que entretanto mudas de ideias”. Mas, será que muda? Ou, porque é que terá que mudar?
É como se houvesse uma espécie de condenação dirigida à mulher, assente no mito de que esta é a sua função – um pouco como na parábola “crescei e multiplicai-vos” - e, portanto, não querendo deliberadamente exercer esse papel, é como se ficasse qualquer coisa de fora, por completar.
Naturalmente que as razões que levam à decisão de querer ou não querer ser mãe serão muitas e, certamente, diferentes de mulher para mulher. É inequívoco que a emancipação da mulher e os progressos na saúde, nomeadamente com a massificação dos métodos contraceptivos, proporcionaram à mulher um lugar de maior autonomia, podendo experienciar uma relação mais livre com o seu corpo e com a sua sexualidade, bem como assumindo um papel social muito diferente do que era vivido pelas suas mães e avós.  Hoje, a mulher reivindica de forma mais contundente lugares profissionais, que outrora eram destinado a homens. Esta autonomia trouxe uma maior autenticidade na possibilidade de fazer escolhas e opções que se repercutem, também, na questão da maternidade. Contudo, parece ainda existir um preço a pagar quando a escolha foge aos parâmetros que se consideram normais. A conjugação destas mudanças mostram que a maternidade pode ser uma importante realização da mulher, mas não a única.

Embora este movimento de libertação do lugar da mulher seja um facto consumado, sabemos que é encarado de formas muito distintas nas diferentes camadas sociais e religiosas, encontrando algumas resistências pelo caminho.

Nesse sentido, é tão legítima a decisão de não ser mãe, como é a de ser. A mulher de hoje, pela facilidade no controlo da gravidez e por sustentar outros ideais que não se esgotam na maternidade, pode tranquilamente optar por não gerar um filho.


Dra. Joana Alves Ferreira