quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Caixa de Perguntas: Angústias de separação no regresso à escola!




Caixa de Perguntas
Angústias de Separação no Regresso à Escola

Já se faz sentir o Setembro a pulsar no batimento cardíaco de pais e crianças, antecipando o (re)começo da escola, das rotinas e das responsabilidades! A cada novo ano os desafios multiplicam-se, as exigências somam-se e, nem sempre, os medos se substraem... 

A entrada para a escola - berçário, creche, escola primária - é um momento vivenciado pelos mais pequenos com "boas" doses de angústia, não obstante as que são sentidas pelos mais crescidos (entenda-se, os pais). Neste território onde as separações são difíceis, as frequências cardíacas entram em sintonia de um lado e do outro, acrescendo-lhe os medos e as dúvidas inquietantes que esta mudança transporta.

Na caixa de perguntas desta semana, estamos por aqui à espera que nos coloque quais são as suas, deixando-lhe hoje a pergunta e respondendo-lhe na sexta-feira... Por aqui ou por mensagem, poderá enviar-nos questões que não ficarão sem resposta, mas, enquanto isso, vamos preparando algumas estratégias para facilitar este processo, quer para pais, quer para filhos!

Até sexta!


Vamos falar sobre inteligência...





'Sobre a Inteligência: A Propósito das Dificuldades de Aprendizagem'

Como tem vindo a tornar-se hábito, hoje, Sexta-Feira, respondemos às questões colocadas na Segunda, na nossa Caixa das Perguntas.

Na realidade a definição de inteligência é muito mais complexa do aquilo que se poderia imaginar. Trata-se de um debate historicamente longo e que tem suscitando intensas discussões e divisões entre cientistas. A nossa posição contudo continua a ser a de maior simplicidade e que parece ser mais abrangente e prática, nomeadamente: a inteligência é a capacidade de adaptação ao meio.

Se tivermos como premissa básica esta ideia de inteligência enquanto adaptação então a noção de uma inteligência puramente genética torna-se problemática. É se fosse que seria necessário que os genes contivessem informação cristalizada e limitada. A inteligência, por outro lado, parece ser fluída e dinâmica. A nossa convicção (convenientemente suportada pela ciência), é que a inteligência é o produto da organização do funcionamento mental que se dá pela interacção entre as estruturas inatas e o meio externo. 

A criança aprende, apreende, desenvolve os saberes rudimentares e comportamentos inteligentes como Emílio Salgueiro (1996) descreve: 'diferenciando claramente entre o que é presença e ausência, entre o bem-estar e o mal-estar, entre o belo e o feio, entre o bom e o mau, entre o que causa mal-estar e o que traz alivio, entre o dentro e o fora, entre o que está em cima e o que está em baixo, entre o que está de um lado e o que está do outro, entre o interior e o exterior, entre o que entra e o que sai, entre o próprio e o outro, entre o alivio que vem do próprio e o alivio que vem do outro, entre o antes e o depois, entre pessoas e objectos inanimados, entre o amor e o ódio, entre construir e destruir, entre a verdade e a mentira entre a gratidão e a inveja, entre pessoas completas com pensar próprio e pessoas-parciais ou pessoas função, submetidas à vontade do outro, entre sentir e agir, entre liberdade e opressão, entre o homem e a mulher, entre filhos e pais'. Estes são os alicerces da lógica, do raciocínio, da abstracção, da simbolização, da memória, da atenção... enfim da inteligência.

É também muito comum associarmos a inteligência àquilo que chamamos capacidades cognitivas. Com efeito, estas capacidades (como são a memória, a atenção ou a percepção) parecem ser fundamentais para a capacidade de interacção e adaptação ao mundo. 

A capacidade de adaptação ao meio escolar exige a existência e robustez do desenvolvimento afectivo e cognitivo. De outra a forma a criança não conseguiria, por exemplo, prestar atenção/concentrar-se ou reter informação para processamento (memória). Parte daqui esta ideia de que o défice cognitivo, e portanto baixo Quociente de Inteligência (medida psicométrica), está ligado a dificuldades de aprendizagem.

Mas o que causa exactamente estas dificuldades? Sabemos que existem um conjunto de traços da personalidade que se encontram ligados a diferentes aspectos da cognição. A titulo de exemplo, observamos como a ansiedade e a atenção/concentração encontram-se extremamente correlacionados. De forma semelhante a depressão parece influenciar um conjunto abrangente de capacidades cognitivas (por exemplo a velocidade de processamento). Ambos, ansiedade e depressão, também parecem estar relacionados com dificuldades ao nível da memória a curto e longo-prazo. 

Daqui retiramos a importante conclusão de que o funcionamento da personalidade e as capacidades cognitivas estão intimamente ligadas, numa espécie de funcionamento mental composto onde os limites entre afecto e cognição se encontram esbatidos.

Apesar das dificuldades inerentes à definição e avaliação da inteligência temos hoje acesso a um universo de conhecimento muito lato que nos permite intervir e, acima de tudo, pensar a inteligência, o défice cognitivo e as dificuldades de aprendizagem. 

É de importância maior entendermos a inteligência como parte de um funcionamento mental regido pelas relações que se estabelecem entre o mundo interno e o mundo externo, entre o afecto e cognição. As dificuldades de aprendizagem inscrevem-se num universo muito maior que a simples avaliação de capacidades cognitivas, tendo por isso de ser pensado em termos mais globais, nomeadamente, nos termos da organização do pensamento e da própria personalidade.


O Canto da Psicologia 
Dr. Fábio Mateus

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre a Inteligência: A Propósito das Dificuldades de Aprendizagem






Dar inicio a mais uma Segunda-Feira a reflectir é sempre uma excelente forma de entrar na semana! Hoje, como de costume, a caixa das perguntas aqui d'o Canto volta a questionar.

A Inteligência é um termo que todos sabemos (ou julgamos saber) o que pretende definir. Mas afinal o que é a Inteligência? Será a inteligência genética e predeterminada desde o nascimento? O que influência a inteligência? O que é esta coisa que temos por hábito nomear quando queremos explicar algumas dificuldades de aprendizagem? O que entendemos por Quociente de Inteligência? Que testes são utilizados para a avaliar? E o que é que avaliam exactamente? Será um conceito assim tão importante? Porque é que embrulhamos o conceito de Inteligência juntamente com o de ansiedade? De que forma a inteligência está ligada à cognição? E o que é esta coisa a que chamamos défice cognitivo? 

E você? O que pensa sobre isto da Inteligência? Que questões, que experiências, que angústias tem para partilhar connosco? Pergunte! Como é habitual iremos responder a estas questões, e às suas, na Sexta-Feira. Até lá... questione!

O Canto da Psicologia


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Hiperactividade e Medicação...






E na segunda feira perguntamos! Hoje, sexta-feira respondemos!

Hiperactividade e medicação!

Na nossa caixa de perguntas desta semana, levantámos a questão da medicação precoce de inúmeras crianças e adolescentes, pelo diagnóstico de Hiperactividade e/ou Défice de Atenção!

Nos últimos anos, tem-se verificado um crescendo de crianças a quem se atribui este quadro, seja pela avaliação efectiva de técnicos de saúde, seja pela forma como este terminologia tem vindo a ser, no nosso entender, abusivamente utilizada por professores, pais, família e pela própria sociedade.

Os "reguilas" de outrora são os "miúdos concerta" da actualidade: crianças que, eventualmente, não serão tão diferentes das que também os pais terão sido, mas cuja indisciplina, inquietude, agitação, associado ao desejo impetuoso de subir muros e empoleirarem-se onde não devem, entre outras formas "estranhíssimas" de pôr os bichos-carpinteiros a mexer ... Hoje, são as crianças travadas pelas "pílulas mágicas"; são os indisciplinados, a quem cabe (aos próprios, mas sobretudo aos pais e professores) a justificação de um diagnóstico que clarifica qualquer dúvida que a falta de regras levante; são os "miúdos concerta", que, como o nome sugere, precisam de ser concertados, arranjados, como quando adquirimos qualquer coisa que chega com defeito de fabrico...

Mas, não será demasiado? O que mudou, afinal, no espaço de uma geração para rapidamente tudo ser solucionável por via de "pílulas magicas"?

A nosso ver, olhando para lá da palavra, dos nomes e dos rótulos, há em cada criança uma singularidade que faz dela especial e na qual vão surgindo, medos, angústias e dificuldades... Superáveis e não propriamente anuláveis - superáveis pela capacidade adaptativa da criança, pela forma como na relação é capaz de trabalhar as suas inquietações, caso seja contida e suportada, num trabalho de articulação contínuo entre pais, educadores, psicólogos e toda a rede que a envolve.

Que a Adrenalina, agora substituída pela Ritalina, possa ser trazida para uma Psicoterapia e, como diz o dito popular "a seu tempo, cada coisa no seu lugar"! Mas, é claro está, é preciso tempo, um tempo que não se coaduna com uma cultura do imediatismo.

E desse lado, enquanto pai, é capaz de esperar?

Drª Joana Alves Ferreira
O Canto da Psicologia

domingo, 10 de agosto de 2014

A nossa Caixa das Perguntas...





Ora O Canto da Psicologia na Segunda-Feira colocou enquanto tema para reflexão a Dislexia. E como já sabe na Segunda perguntamos e Sexta respondemos.

Saber ler, saber escrever, e saber contar/calcular são três capacidades essenciais ao desempenho académico e à integração na sociedade. São estes saberes rudimentares que nos permitem entender e estar em contacto com o mundo sociocultural que nos rodeia. O conhecimento sobre este sistema-património de signos e símbolos – letras e números – permeia o nosso tecido social e como tal achamo-nos obrigados a conhecer e a interpretá-los rápida e correctamente.

Utilizamos então as palavras Dislexia, Disortografia e Discalculia para designar dificuldades específicas na leitura, na escrita e na aritmética, respectivamente. As palavras de prefixo Dis- não se ficam por aqui; Disgrafia, Distimico, Disruptivo e Disfuncional são outras palavras que utilizamos para designar o que é irregular, o que não funciona apropriadamente ou o que sai da norma.

A Dislexia é apenas uma categoria de várias dificuldades de leitura. É que as dificuldades de leitura podem ser explicadas de formas muito diferentes. Uma criança poderá evidenciar uma perturbação da leitura porque demonstra dificuldades na codificação de informação para processamento (memória), ou porque demonstra ter dificuldades na manutenção da atenção, ou porque tem dificuldades de organização perceptiva. De forma semelhante, uma criança poderá demonstrar dificuldades na leitura simplesmente em contexto de sala de aula devido a um aumento da ansiedade. Os motivos são inúmeros, mas o que distingue a dislexia de outras dificuldades de leitura é uma perturbação da capacidade da criança na associação entre fonema (som-letra) e grafema (símbolo-letra). 

A título de curiosidade é interessante vermos como durante muito tempo julgou-se que a dislexia e a disortografia teria que ver com dificuldades de organização perceptiva uma vez que a evidência demonstrava trocas e inversões de letras na escrita (como por exemplo o ‘p’ com o ‘b’ com o ‘q’). Ligavam-se estas evidências a dificuldades de organização do esquema corporal ou até da lateralidade. A literatura não tardou em estabelecer inferências relativamente à personalidade do disléxico, como se existissem ‘personalidades disléxicas’. Alguns encontraram nestas dificuldades justificação para afirmar que o disléxico seria ‘trapalhão’ ou ‘desajeitado’. No entanto e apesar de existiram crianças com estas dificuldades observou-se que a dislexia não teria que ver com estas questões. 

A evidência neurocientifica demonstrou outras coisas... nomeadamente esta dificuldade em estabelecer ligações entre fonemas e grafemas. Desta forma a avaliação da dislexia deve ser um processo laborioso de demonstração desta dificuldade especifica. 

Hoje em dia sabemos que existe um perfil Disléxico e que consiste, de um modo geral, em: Dificuldades de Leitura (trocas, omissões, substituições, invenções); Baixa Fluência de Leitura; Baixa Consciência Fonológica; Perfil Cognitivo Normal/Superior; Organização Perceptiva Regular. É este o perfil distingue que o leitor disléxico de qualquer outro.

Ser-se disléxico é particularmente difícil, não só pelas dificuldades inerentes à leitura desajeitada, mas também porque provoca ansiedade e desconforto. Conhecemos pois crianças e adolescentes com verdadeiras fobias à leitura sentido-se envergonhados pelas dificuldades que apresentam. Sabemos como este tipo de dificuldades se manifestam ao nível da própria personalidade como que contaminando o funcionamento mental. É ainda angustiante para o disléxico esta sua dificuldade porque ele apresenta um perfil cognitivo normal/superior, que o torna o excelente a entender e a compreender o conteúdo dos textos. 

Neste sentido, a avaliação e despiste da dislexia deverá ser feito o mais cedo possível. Apesar do diagnóstico ser difícil antes da entrada no 1º ciclo (uma vez que as crianças ainda não sabem ler), sabemos que existem alguns indicadores precoces que são extremamente importantes para a prevenção destas dificuldades.

Existem hoje múltiplas técnicas e livros que se encontram facilmente em qualquer livraria e que podem ser utilizadas para ajudar o disléxico. Algumas centram-se precisamente na ligação entre o grafema, o som e motricidade. Outras têm um teor mais contextual intervindo dentro do triângulo escola-família-criança. 
Mas para que estas técnicas sejam adaptadas a cada situação é necessário que o encaminhamento seja adequado e que se estabeleçam articulações entre psicólogos e professores. 

Existe também um conjunto de medidas que podem ser tomadas pela escola no sentido de auxiliar estas crianças e adolescentes, podendo inclusivamente modificar-se o enunciado dos testes e o seu tipo de aplicação por forma a adaptar-se melhor às suas necessidades.

O Canto da Psicologia 

Dr. Fábio Mateus



quarta-feira, 6 de agosto de 2014






A Caixa das Perguntas hoje propõe a Dislexia enquanto tema para reflexão.

As dificuldades de aprendizagem em geral são uma valente dor de cabeça para pais, professores e sobretudo para as crianças e adolescentes. Alguns professores, em momentos de frustração acabam por rotular o aluno como: ‘instável e desatento’, ‘desobediente, provocador, agressivo e destruidor’, ‘inibida e triste’, ‘inquieta e aflita’, ‘desinteressada, muito lenta e parada’, ‘desarrumada e desorganizada’, ‘faltosa, frágil e adoentada’, ‘pouco limpa, enurética’, ‘tem ataques, tem dificuldades em exprimir-se’, ‘não aprende a ler a escrever ou a fazer contas’, ‘é deficiente mental, sensorial ou motora’.

Os alunos, por seu turno, acabam por retaliar definindo os professores como ‘demasiado severos’, ‘andam demasiado depressa’, ‘não gostam daqueles que não aprendem logo’, ‘perdem a cabeça’, ‘não percebem o que se passa’. Quanto aos currículos é comum ouvir protestos semelhantes a: ‘não têm interesse’, ‘não servem para nada’, ‘não têm nada a ver com a vida’, ‘são demasiado antiquados’, ‘são bons para os parvos’, ‘são coisas de miúdas’, ‘querem ensinar-nos coisas que nem sequer sabem’. E quanto a si próprios dizem: ‘esqueço tudo’, ‘enervo-me demasiado depressa’, ‘sonho’, ‘não posso ouvir’, ‘mistura-se tudo na minha cabeça’.

Os pais tentam orientar as melhores estratégias para auxiliar os seus filhos, no entanto, é comum observarmos pais que já não aguentam a frustração. Acabam por ser chamados à escola inúmeras vezes, tentam conversar com os seus filhos, tentam ensinar, e tentam justificar estas dificuldades afirmando que com eles ‘era igual’, ‘eu era igualzinho’, ‘também nunca gostei da escola’, identificando-se com as dificuldades dos filhos e tentando desvalorizar ou negar. Outros sentem estas dificuldades como verdadeiras falhas (dos próprios e dos filhos) e como um ataque ao estilo de educação que puderam oferecer.

Por hoje reflectimos sobre uma dificuldade de aprendizagem especifica, a saber: a Dislexia. O que significa Dislexia? Qual o perfil cognitivo e funcional de uma criança, adolescente ou adulto com Dislexia? Quais a principais consequências da Dislexia do ponto de vista do desempenho académico e do funcionamento da mental? Que metodologias existem com vista ao apoio destas crianças? Quando é mais conveniente fazer uma avaliação da Dislexia? Quais são as opções dos pais e da escola para melhor ajudar estas crianças?

Já sabe, Segunda-Feira colocamos as questões, na Sexta-Feira respondemos. Até lá coloque as suas dúvidas, as suas angústias, medos e ansiedades. Partilhe connosco as suas experiências pessoais, deixe-as aqui ou por mensagem.

Até já,
O Canto da Psicologia

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Sobre a Enurese Nocturna


Todas as sextas-feiras, ali pelos lados da página ao lado, no facebook d' O Canto da Psicologia, deixamos-lhe a resposta à "Caixa de Perguntas" que lançamos à segunda-feira. Semana após semana, partilhamos dúvidas, questões, tentando esclarecer o melhor possível aqueles que nos seguem.


Sobre a Enurese ....


Quando a criança molha a cama mais de duas vezes ao mês depois dos 5 ou 6 anos de idade, chamamos de enurese noturna. As causa podem ser variadas, mas, de um modo geral, verifica-se que a componente emocional é que a prevalece, no que toca à compreensão do fenómeno.

O risco de uma criança poder vir a apresentar enurese aumenta se esta tiver exposta a factores desencadearores de angústia, como o falecimento de um familiar muito próximo, um divórcio dos pais ou o nascimento de um irmão. Factores como a ansiedade e o stress estão na origem deste sintoma, embora se reconheça que, quase sempre, tem na sua causa factores relacionais: uma mãe deprimida e pouco disponível, uma mãe ansiosa, um pai demasiado autoritário, são alguns dos cenários que a enurese esconde.

A incapacidade da criança conter a sua angustia traduz-se na incapacidade de não controlar os esfíncteres, deixando fluir de uma forma simbólica aquilo que não consegue conter. Relembramos o impacto que a enurese tem no bem-estar da criança: para além de ser um constrangimento para os pais, esta disfunção é vivida, essencialmente, como uma grande humilhação para a criança, podendo vir a afetar fortemente a sua autoestima e capacidade de socialização.

Não se esqueça que, todas as semanas, estamos por aqui. Não hesite em colocar questões e em partilhar sugestões que possamos responder!

O Canto da Psicologia

Dr.ª Joana Alves Ferreira