sexta-feira, 22 de maio de 2015

“Diário de Uma Adolescente (quase) Rebelde e de uma Mãe que GMT*


(* Gosto Muito de Ti)



15.05.2015

Querido Diário:
A minha mãe leu-te... não acredito, como foi capaz! Ela não tinha esse direito. Sinto como se ela me tivesse batido tanto que nem consigo pensar, que raiva! Disse que anda à procura de provas. Mas provas do quê? Ai, que ódio! Ela leva-me ao limite, gritamos tanto uma com a outra que acho que não tenho mais voz. Porque é que ela faz isto? Porque me quer controlar? Porque não me deixa ter a minha vida? Ainda por cima descobriu do Rodrigo... agora ainda vai andar mais em cima. Só me apetece chorar e chorar e chorar e que ela oiça para perceber o que me faz sentir. Será que ela mexeu no meu telemóvel? Ela não tem a passe... Ela não entende que eu já não preciso dela! Dói tanto...

Maria

Sexta-feira, 15 de Maio de 2015

Querido Diário:
Estou exausta. Se pudesse ia um mês para as Caraíbas e não fazia nada. A Maria leva-me ao limite. Discutimos, outra vez  e até me insultou... sinto-me a perder o controlo com ela! Eu sei que não devia mexer nas coisas dela mas estou tão preocupada, ela anda sempre triste ou mal-disposta e nunca quer comer! Fiquei aliviada porque não vi nada sobre drogas, confesso que tinha medo. Mas não gostei da ideia de haver um rapaz, ela ainda é tão pequenina! E a escola? Como fica? Sinto-me impotente... dói tanto!
Mãe da Maria

16.05.2015

Querido Diário:
Hoje é a festa da Patrícia! Eles têm que me deixar ir. Se não deixarem vou fugir, já decidi. Vai lá estar o Rodrigo e eu não posso não ir. A Teresa mandou-me uma mensagem a dizer que o viu no shopping e que ele estava sozinho. Ontem na aula de Francês ele adormeceu... fica tão giro! Depois a Teresa mandou-me outra mensagem a dizer que ele estava com aquelas calças verdes e eu fiquei “Ai!”. A mãe esteve cá de manhã, eu fingi que dormia. Não me apetece sequer olhar para ela... mas tive pena, tenho saudades dela, às vezes.
Maria

Sábado, 16 de Maio de 2015

Querido Diário:
Ponho-a de castigo? Não sei mesmo o que fazer... ainda por cima o Zé não está cá. Sinto-me confusa. Falei com ele por telefone e ele acha que não devo deixá-la ir à festa mas foi o que eu lhe disse “Pois, e tás cá tu para a aturar depois!”. Eu sei, fui parva mas eu gostava que as coisas com a Maria fossem diferentes, como dantes quando ela vinha sempre ao pé de mim e me requisitava para quase tudo... “Mamã, mamã ajudas-me?”, que saudades. 
Mãe da Maria




17.05.2015

Querido Diário:
Estou farta disto, não sei se aguento mais. A minha mãe não me deixou ir à festa, disse que a forma como a tratei não foi justa e é justo para mim? Ela não se consegue pôr nunca no meu lugar, será que ela não percebe que era tão importante para mim? Também não tive coragem de fugir, bem que tentei mas faltou qualquer coisa. O quê? Não sei bem, acho que não sou capaz de os desiludir... Ouvi a mãe a chorar, senti-me estranha mas não fui lá. Porquê que ela chora? Se calhar sente falta do meu pai, eu também! Se ele tivesse cá nós éramos uma família e não esta família à distância. Gosto mais quando somos três!
Maria

Domingo, 17 de Maio 2015

Querido Diário:

Não dormi. A Maria disse-me coisas horríveis ontem e eu sei que ela estava zangada e leio livros e dizem que faz parte mas não dormi. Foi muito difícil para mim não a deixar ir, eu sabia que era importante para ela e estive quase a desistir mas não fui capaz de voltar atrás... não tive coragem, sei lá! Mandei mensagem ao Zé mas ele não me respondeu... aquilo em Angola também não está a ser fácil. O Zé faz-me falta, a Maria e ele têm uma cumplicidade que eu não consigo. Ainda pensei, durante a noite em ir para a cama dela e aninhar-me a ela mas achei que ia ser imediatamente expulsa. Que vontade dos seus abraços. Maria, onde foi que nos perdemos uma da outra? Olho para a fotografia na secretária, nós os três, gosto mais quando somos os três!
Mãe da Maria”




Lúcia Paço
Psicóloga e Terapeuta Familiar