quinta-feira, 29 de junho de 2017

O Rescaldo depois da Catástrofe – Efeito do Trauma





Extinto que está o incêndio de Pedrogão Grande, e num momento em que a crise emergente deu lugar a uma espécie de rescaldo, importa pensar: E agora? Não obstante todos os recursos que estão a ser mobilizados para pôr em marcha programas de apoio aos inúmeros lesados por esta catástrofe, estamos particularmente atentos à necessidade de dar suporte emocional a todos os que, de algum modo, estiveram envolvidos ou foram tocados pela mesma, considerando a dimensão traumática de um evento desta natureza.
Com efeito, no âmbito da saúde mental, sabemos que é imperativo atentar às repercussões psíquicas que os acontecimentos geram. As vítimas de calamidades não são apenas aquelas que estão presentes no momento ocorrido, como também todas as que, de alguma forma, são afetadas ou que se sentem parte da situação, pelo que pensamos que os números até à data apresentados encapotam uma escala de maiores dimensões, se pensarmos nas famílias das vítimas mortais, nas equipas envolvidas no terreno, nos profissionais de saúde que prestaram cuidados, nas populações circundantes, entre tantos outros.
Assim, pensar situações como a ocorrida em Pedrogão remete-nos para um olhar atento sobre o efeito do trauma psicológico nos indivíduos, considerando que este é a consequência face a um choque emocional violento, que pela sua dimensão e/ou intensidade, não pôde ser metabolizado pelo aparelho psíquico. O sentimento de impotência associado a um acontecimento traumático, onde o sujeito se vê implicado sem qualquer previsibilidade ou possibilidade de proteção, desencadeia respostas emocionais diversas que, na maioria das situações, se manifestarão posteriormente. A ideia comummente associada a estas vivências de que “é preferível esquecer” (enquanto mecanismo possível para aliviar a dor e o sofrimento), constitui, na verdade, o maior obstáculo ao tratamento e à intervenção com as vítimas desta situação. Pelo contrário, importa enfatizar que é importante para aquele que experimentou uma situação traumática poder relatar ao outro a sua história, endereçando o seu testemunho à escuta de alguém que possa vir a promover a abertura de uma possibilidade de representação da situação traumática.

Se nos apercebemos, enquanto espectadores, que os meios de comunicação social têm enfatizado a necessidade de encontrar bodes expiatórios, numa tentativa desenfreada de atribuir responsabilidades para o sucedido, enquanto técnicos de saúde mental, desviamos o olhar para uma outra leitura do problema: para além das políticas públicas e da responsabilização do poder público, parece-nos da maior pertinência reforçar a necessidade de novas ações interdisciplinares, que incluam a intervenção de equipas de saúde mental, junto deste número de tamanha dimensão.


O Canto da Psicologia
 Dr.ª Joana Alves Ferreira


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Quando o Snoopy e eu ganhámos a guerra aos adenóides...






(Adeus à tia Justina, que não pagava uma bica a ninguém mas sorria às crianças)

“Deita-te, que amanhã vais ser operado”, disseram-me como quem avisa que o mundo passará de muitas cores a preto e branco. Metia adenóides. Fui operado a isso e mais tarde à pele do penduricalho, mas essas são partes baixas e aqui fala-se de criancices por alto. Fiquei a pensar o que seriam adenóides (ainda hoje desconheço-os ao certo…), fitei os meus exemplares do “Snoopy e as mulheres” e “Snoopy sempre pronto” de 16x22 da Meribérica/Liber e senti que só tinha um amigo. Durante a noite tudo foi negrume, até porque a mamã não estava por ter ido à terra. Apagara-se o maçarico à tia Justina, que era avarenta e não passava cartucho a almas crescidas. Não lhes pagava nem uma bica, mas uma vez sorriu-me do alto da sua casa rosa, de estilo português suave ribatejano a trepar para as beiras. Dentro de um pijama chinês azul debruado a vermelho, perguntei ao mundo sem falar por que é que eu é que tinha de ser operado e não a Suzy pequena, que se ferrava ao meu lado. Adivinhava as lombas do livros do Spirou e do Astérix do Zezito que se tinham apagado à minha frente e agarrei-me ao Snoopy que agora não podia ler.


No caminho que a manhã seguinte sentenciou, houve Tejo a mais à minha direita até virarmos à esquerda para um hospital íngreme e inóspito que tinha o nome de um médico famoso por operar a cabeça às pessoas ou lá o que era. Descemos, eu, o paizola e a tia mais velha para umas catacumbas em azulejo e um puto chamado Emanuel, matulão e calhordas, miava agarrado à mãe e dizia-me do outro lado do corredor que me ia doer mais a mim que a ele. Era um puto com cara de grão de bico e cagarola, que ainda guinchou mais quando foi lá para dentro. Nunca lhe respondi porque ter os dois exemplares do Snoopy me conferia uma altivez maior que a os grandes. Sem largar os livros (os amigos nunca se deixam!), disseram-me depois para contar até dez e uma enfermeira das palpitantes perguntou-me onde é que tinha ido buscar uns olhos tão bonitos. Antes de sacar do “Snoopy e as mulheres” para ele me explicar como é que se fazia com elas, enfiaram-me uma máscara nos fagodes. Acordado, só descansei quando vi o valente do Snoopy ali ao meu lado em dois exemplares que não me deixaram ficar mal. A dores de gasganete, lá vim no regaço da tia mais velha para dias de mel e mais Snoopy na cama. Não tínhamos medo de ninguém e que viesse essa faca lá pelos gargomilos que haveria mais vida.

Umas semanas depois fui de fossas nasais refeitas às partilhas na casa rosa da tia Justina. A Suzy pequena passeava um carrinho de bebé e eu ordenei-lhe que roubasse o mais que pudesse e escondesse tudo no carro de brincar senão dava-lhe um atestanço de chapada. A tia Justina tinha vindo de Moçambique cheia de bagalhoça e artefactos retidos na Alfândega aos colonos e pretalhada antes das farruscadas. Bifámos lápis, cadernos, mas não havia livros do Snoopy, pelo que o saque foi uma desilusão. Mas a guerra estava ganha e nem era preciso mais do meu “beagle” para assinar a rendição incondicional dos adenóides. Li outra vez o Snoopy em 16x22 e percebi que nos íamos separar um dia, que já sem o meu rafeiro me ia acontecer muita coisa fora dos quadradinhos da imaginação.
Aconteceu.

P.S.: Desculpe-me por roubar, mas obrigado por sorrir, tia Justina. Para uma criança só com um cão de banda desenhada para se defender, isso vale o mundo.


Filipe Alexandre Dias
Jornalista



terça-feira, 27 de junho de 2017

Alongamentos Estáticos VS Dinâmicos...






Costuma fazer os típicos alongamentos estáticos antes de efetuar uma corrida ou no aquecimento para o treino de ginásio? Costuma alongar intensamente após o treino?

O processo de treino cria roturas musculares nos músculos. Estas roturas por sua vez irão desencadear processos inflamatórios que irão provocar as dores musculares que sentimos nos dias seguintes ao esforço, isto é, as dores musculares devem-se a estes fatores e não à falta de alongamentos no início ou fim do treino.

O seu corpo está preparado para produzir e gerar movimento, logo, se pretende aumentar a temperatura corporal e otimizar o corpo para o esforço, os alongamentos dinâmicos são os mais eficazes. O alongamento estático, consiste em aguentar numa posição durante 20-30 segundos sem produzir movimento. Com este tipo de alongamento, o músculo irá sofrer uma redução na capacidade de alongamento-encurtamento, diminuindo a resposta ao estímulo e aumentando a probabilidade de se lesionar.

O alongamento dinâmico utiliza a velocidade do movimento, resultando numa completa amplitude de movimento. Este tipo de alongamento pode ajudar a melhorar a força, equilíbrio, mobilidade e coordenação, ajudando-o a alcançar maiores benefícios quando adaptados a desportos específicos e integrados de forma correta no seu plano de treino.

Poderá incluir alguns alongamentos dinâmicos numa fase inicial do treino, como preparação para o movimento e ativação neuromuscular. No final do treino, o alongamento estático pode ser realizado, mas de forma suave e moderada, de modo a ajudar a reorganização do tecido muscular, provocando apenas um pequeno desconforto. Procure sempre um profissional da área do exercício físico para o ajudar a melhorar a sua saúde e performance.

Bons treinos

Hugo Silva 
Instagram: hugo_silva_coach
Linkedin: http://linkedin.com/in/hugo-silva-1b8295132
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre 
-Director Técnico ginásio Muscle Factory







segunda-feira, 26 de junho de 2017

Benjamim – O menino que vem por bem e cheira a Jasmim...




Neste registo diário de aprendizagem constante tanto pelo nosso investimento pessoal quanto por tudo o que as crianças, os jovens e os adultos nos trazem em contexto terapêutico, vamos palmilhando dias, ensaiando intervenções, reformulando dizeres, trabalhando afectos e devolvendo sentires; afinal de contas o crescer de um é o crescer de todos!

Cada um de nós, no seu jeito de ser terapeuta e psicólogo, traz junto um jeito muito seu enquanto indivíduo.

Características únicas e pessoais, recursos internos e qualidades próprias apreendidas num tempo de crescimento enquanto gente e muito mais tarde enquanto técnico,  dão o mote da singularidade; de cada um,  ao conjunto de todas as características individuais cruzadas enquanto equipa, por aqui, “temos a mania”  de que todos, formamos o Psicólogo quase Perfeito!

E dentro desta quase perfeição, o talento individual emerge na diferenciação entre todos; e todos aplaudimos o génio criativo em variadíssimos campos e a autorização de partilha consigo, que está desse lado, do que cada um de nós se esforça e tem de melhor!


Posto isto, deixe-nos apresentar-lhe  Benjamim, o menino que vem por bem e cheira a Jasmim!

“Filho” da nossa colaboradora, Dr.ª Inês Lamares, ele é, a partir de hoje,  o  elemento mais novo desta equipa e vai  surpreender-nos com a pertinência das suas observações e pareceres acerca de tudo o que vive, vê, analisa e comenta, a partir das lentes do seu olhar enquanto filho, enquanto criança e enquanto critico das vivências dos adultos.

Tem dois amigos:

a borboleta – que representa a infância livre, sonhadora, sem limites, que lhe dá a asa para voar ao sabor da fantasia  e que cabe na concha da sua mão diminuta mas que tem o tamanho do seu mundo, pelo menos, até onde o olhar do Benjamim alcança;


e a formiga -  que representa já um  super ego em construção, repleto de limites, proibições, obrigações, deveres , que cabe na concha da outra mão diminuta e que, igualmente, tem o tamanho do seu mundo, até onde o olhar do Benjamim alcança!





Vamos acompanhá-lo por aqui através das suas aventuras! A nossa expectativa é de que todos, daqui e daí, aprendam com o Benjamim a ver o mundo através de um outro olhar, aquele olhar de infância que um dia também já foi o nosso mas que, entretanto, cresceu e esqueceu-se  de se manter vivo...

Contamos consigo para mais esta iniciativa! Lembre-se de que o Benjamim é de e para toda a família!


Muito obrigada!
Ana de Ornelas
O Canto da Psicologia




quarta-feira, 21 de junho de 2017

Pedrogão Grande: entre o necessário e o excessivo.





          Muitas foram as linhas já escritas, as opiniões emitidas, as imagens e/com slogans exibidos, a propósito daquela que é - pois o fogo ainda lavra, enquanto este texto é redigido - e provavelmente será considerada uma das maiores tragédias, da história portuguesa recente. Não seriam precisas as intervenções públicas dos profissionais de saúde mental, mais concretamente dos psicólogos, para existir uma noção e até compreensão alargada do impacto do acontecimento, na vida dos directa e indirectamente envolvidos e do país no seu todo. Embora as mesmas se saúdem, sobretudo as que dizem respeito à premência de intervir de imediato, parecem, todavia, carecer de uma reflexão mais alargada, mais psico e socialmente consciente; enfim, que extravase a simples tentativa de firmar os potenciais contributos da psicologia numa tragédia desta escala.
          A história global deveria ter-nos ensinado, a todos, muito mais. Nos Estados Unidos da América, ainda hoje estão por aferir, em concreto e de forma exaustiva, os impactos nefastos nas crianças sideradas em frente ao televisor e nos adultos que o permitiam, do visionamento repetido e contínuo de pessoas desesperadas a lançar-se dos outrora edifícios do World Trade Center.
          A dita necessidade de informar e de levar a casa de todos “o que acontece no país e no mundo” autoriza a difusão de cenas de horror e terror, violência e morte, desespero e vazio. É então nesse preciso momento, que outros interesses se impõem e a irresponsabilidade humanista dos meios de comunicação alcança a sua apoteose… e que o dito necessário passa a excessivo. Mais grave ainda, todos assistimos a este espetáculo atroz, dantesco, inominável, sem qualquer noção do contributo (activo ou passivo) de cada um para que o mesmo se mantenha e perpetue.
          Quantas vezes vamos expor os sobreviventes (alguns ainda feridos) à revivência do seu próprio trauma? Quantas vezes vamos impor às famílias dos falecidos um grotesco encontro perceptivo (por vezes até uma encenação) com os momentos, locais e a imagética onde pereceram os seus entes queridos (filhos, pais, irmãos, netos, etc.), amigos, amados? Por quantas vezes aqueles que perderam os seus bens materiais terão de os ver queimados, ardidos, em cinzas, ou a arder? E o fumo e as chamas? Quantas vezes teremos que ver o seu poder destrutivo? E os que as cheiraram? E os que as sentiram? Alguns na pele… Quantas vezes a perda? A dor?
          O processo de “vitimação secundária” (dos directa e indirectamente envolvidos) e de vitimação indirecta (de todos nós) está em marcha e os seus efeitos funestos são incomensuráveis. Pior, tendo em pano de fundo a silly season auguram-se as longas e intermináveis reportagens de testemunhos (com certeza genuínos, sofridos), que não deixarão quaisquer brasas da dor apagar.

          Deveria também ser sobre o supra mencionado e questões daí derivadas, que os sempre bem-pensantes arautos do valioso contributo da psicologia para tudo e mais qualquer coisa deveriam reflectir e pronunciar-se. Deveriam fazê-lo, para informar o cidadão individual e a sociedade em geral, ao invés de apenas papaguearem truísmos. Mais importante, deveriam com isso dotar os agentes decisores e reguladores (neste caso particular a Entidade Reguladora para a Comunicação Social) de informação e conhecimento – esse sim técnica, clínica e cientificamente específico da psicologia - que permita, o quanto antes, a revisão de algumas das directrizes para os meios de comunicação, a fim de que os critérios editoriais possam espelhar e propagar inteligência, consciência e responsabilidade social – para que o necessário, não seja excessivo.



Dr. Pedro Rodrigues Anjos
O Canto da Psicologia



sexta-feira, 16 de junho de 2017

Coisas que "minervam"...






Esta semana e na próxima de escrita, em modo levezinho meio a bater na palermice, que é como dizer :

Lista de coisas que “minervam”:

…Elevadores:

-Pessoas que não sabem que os elevadores já evoluíram, e que basta carregar na seta para cima se querem subir, e para baixo se querem descer. Carregam em ambos botões. Entram no primeiro que aparece, mesmo que ele vá descer, quando na verdade elas (pessoas) queriam subir. Comentário típico destas pessoas depois de perceberem que o elevador vai no sentido vertical oposto: “. Ah...! não faz mal, damos uma voltinha, ele depois tem de subir” … é verdade, tudo o que sobe desce, deve ser daí que vem este provérbio!

-Atrizes e comediantes de elevadores, ou seja, pessoas que assim que sentem que o elevador está cheio e que a bilheteira do seu espetáculo esgotou, dão inicio à minipeça melodramática ou a um numero de stand up comedy improvisado.
Se forem mulheres, por norma é uma peça melodramática, um episodio que envolve sogras e da forma como elas responderam de forma assertiva espertinha a este imposto membro da família, quando na verdade o que deve ter acontecido deve ter sido uma cena bem passivo-agressiva que acabou por deixar ambas com uma indisposição até ao próximo almoço quinzenal.
Se forem homens, é claramente um sketch de stand up, um episódio qualquer de uma saída à noite que teve imensa piada…na altura e provavelmente só para eles claro.



…Unhas…”dgel”:

-Uma praga, isto das unhas “dgel”. Começou por ser uma coisa bem moderada, interessante até. Unhas sempre bonitas, arranjadas e de longa duração. Era a fórmula de sucesso. Mas aquilo que se vê hoje são autênticos atentados à integridade física, ocular e sonora.
Não são unhas, são armas senhores! E quem as usa deveria ter licença de porte de arma. O tamanho, a grossura, a cor enfim. Não sendo o tamanho suficiente, foi-se evoluindo, se é que se pode dizer, para todo um folclore à volta da ponta dos dedos. Desde argolas, brilhos, riscas, bolinhas. É toda uma informação visual que serpenteia à nossa frente.
E a improdutividade que este fenómeno deve gerar? Gestores e Gestoras de recursos, será que já perceberam que estas unhas dgel fazem com que se trabalhe mais devagar? É certo que nalgumas profissões, as mulheres têm sido criativas e passaram a dar uso aos nós dos dedos, algo que me fascina igualmente, mas e o desgaste no teclado num computador? E poluição sonora que aquilo provoca?
A mim… tira-me do sério!


…Posto de abastecimento:

-Pessoas que insistem em ir pagar à caixa, a cartão, mesmo quando as bombas já tem terminais de multibanco. Estou em crer que para além da desconfiança que aquilo deve criar nas pessoas: “-vou mesmo pagar aqui na bomba! Puf! …isto ou tem gasolina lá dentro ou tem um multibanco, as duas coisas é impossível!”, há também o outro lado ritualizado de ir abastecer o carro:
1.parar o carro;
2.travar e pôr em segurança (com toda a tranquilidade);
3.avançar em direção à caixa, e pelo caminho ir ler umas revistas, trazer uma caixa de Pringles e umas pastilhas;
4.chegar à caixa abrir a carteira e dar toda a espécie de talões e cupões de descontos;
5.pagar;
(…)
Dentro do outro carro estou eu a deitar olhares fulminantes à pessoa, enquanto ela finalmente entra no carro, passados quase 15 m e em vez de avançar com o carro para outro ser poder abastecer, ainda se ajeita com toda a calma, põe o cinto, ajeita o espelho e lá vai… 


No próximo texto terei outras tantas  coisas que "minervam" para partilhar...
Tenho a impressão que é uma lista infindável de coisas... 

Petra




terça-feira, 13 de junho de 2017

Treino: cardiovascular antes ou depois do de força?







Treino cardiovascular antes ou depois do treino de força?

Esta é a questão que apesar de já ter sido muito debatida, ainda confunde as pessoas na hora de iniciarem o seu treino de ginásio. Será que devemos seguir a mesma ordem quer seja para perder massa gorda ou aumentar massa muscular? Devemos fazer os dois treinos numa mesma sessão? Últimos estudos, indicam-nos que devíamos separar os treinos se estes forem realizados no mesmo dia, por exemplo, optarmos pelo treino cardiovascular pela manhã e o treino de força pela tarde. Como sabemos o quão difícil já é ir ao ginásio, a nossa resposta é, iniciar o seu treino pela componente de força. Porquê?

·         Em primeiro lugar, porque vai permitir que as reservas de glicogénio esvaziem, otimizando depois maior gasto calórico no fim do treino a partir de fontes de gordura;

·         Em segundo lugar, se optar pelo treino de força, sentir-se-á mais fresco para fazer o treino cardiovascular depois e assim tirar maior rendimento de todo o treino;

·         Por último, se escolher o treino de força para terminar a sua rotina no ginásio, poderá estar a aumentar o cortisol. Cortisol, uma hormona de stress, que por sua vez estimulada, utiliza os aminoácidos do músculo para produzir a glicose que o corpo exige para continuar a treinar no caso de ter feito o treino cardiovascular no início do treino.


A partir de agora será mais fácil escolher o treino na sua próxima ida ao ginásio. Bons treinos....



Hugo Silva 
Instagram: hugo_silva_coach
Linkedin: http://linkedin.com/in/hugo-silva-1b8295132
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre 
-Director Técnico ginásio Muscle Factory



quinta-feira, 8 de junho de 2017

Aprendendo até nas férias...





Desde o dia que abrimos os olhos ao mundo, até que os fechamos de vez, podemos dizer que estamos em constante aprendizagem…
aprendemos a reconhecer  cheiros, sons, sabores…
aprendemos a gatinhar, a andar, a correr…
aprendemos a dizer não, a dizer sim..
aprendemos a falar, a gritar, a cantar…
aprendemos a brincar, a fazer de conta e aprendemos que temos que nos portar bem.

É verdade, aprendemos com todos esses professores que são os outros, que se cruzam no nosso caminho! Aprendemos naturalmente, porque intrinsecamente é natural que se aprenda, como que se de uma compulsão se tratasse. E com certeza terá sido essa mesma compulsão, que nos impeliu ao longo das eras  a querer evoluir, a ser sempre um pouco mais, a ir sempre mais além, superando tudo então conquistado.
Mas ainda assim e não tivesse sido tudo isto por si só, todo um universo de aprendizagens, na vida de cada um de nós chega em certo momento, aquele dia em que os nosso pais e familiares nos dizem: - Amanhã é o dia em que vais para a escola, para aprender muitas coisas novas.
E de repente, naquele exato momento tudo o que já aprendemos, tudo o que já conquistámos parece tão pequeno face a tudo o que aí vem de novo e de que de certo aprenderemos também.

Eis que chega o tão esperado dia, o dia em que começa a escola.

E o primeiro dia é tão divertido, conheço a minha professora nova, conheço novos amigos, faço desenhos e escrevo o meu nome para identificar o meu material! Os meus pais estão tão orgulhosos de mim e quando chego a casa, querem saber tudo o que aconteceu. 

E dia após dia, a rotina repete-se. A chegada à escola, o encontro com os colegas, o toque de entrada, o escrever o sumário...Dia após dia, mês após mês, as estações sucedem-se.
Pouco a pouco, o que era tão natural, começa a tornar-se um pouco difícil.. E às vezes já não é assim tão divertido, nem tão intuitivo. 

Aliás nem percebo porque é que me engano tantas vezes. E de repente ao contrário do que acontecia há alguns meses, já ninguém se ri dos meus erros, já não me dizem que não faz mal e que hei-de conseguir para a próxima. A professora já me disse até que precisa conversar com os meus pais, porque pelos vistos não consegui aprender as mesmas coisas que os meus colegas, porque estou sempre distraído troco muitas letras, ainda não consigo ler as frases que a professora escreve no quadro, aliás nem gosto muito quando a professora me pede para ler em voz alta, porque tenho muito medo de me enganar… na verdade, na maior parte das vezes prefiro ficar a olhar pela janela a contar os minutos para que toque e possa ir brincar no recreio.

Quantos pais não se confrontam com este cenário diariamente? Quantos professores se queixam dos seus alunos desmotivados e com pouca resistência ao fracasso? Quantos alunos lutam internamente com o medo de falhar, de não conseguir fazer o mesmo que os outros? De não ser o que os outros esperam que eles sejam?
Desta necessidade de refletir sobre toda a problemática das dificuldades de aprendizagem, e de desenvolver estratégias que permitam ajudar alunos, pais e professores, surge a Psicologia Educacional. Focada no aluno, mas alerta para todo os contextos em que este se insere, o psicólogo educacional vai atuar diretamente no desenvolvimento de competências que lhe permitirão ultrapassar dificuldades, vencer o medo do fracasso e aumentar os seus níveis de motivação.

Quanto mais precocemente forem identificadas as áreas menos desenvolvidas, mais fácil será a intervenção e o desenvolvimento de um acompanhamento individualizado e totalmente ajustado às necessidades de cada criança, seja ao nível de competências de leitura e escrita e de matemática, seja ao nível de competências cognitivas como a atenção, a perceção visual, a memória, a orientação visuo-espacial.

Partindo da relação estabelecida com o psicólogo, a criança poderá explorar sem receios, aquilo que mais a fragiliza, o erro tornar-se-á um aliado na luta contra as dificuldades e as pequenas conquistas realmente valorizadas. Talvez assim, aprender possa de novo fazer sentido!


Ana Silvestre
Psicóloga Educacional



quarta-feira, 7 de junho de 2017

Avó Senhorinha...




SENHORINHA DE MATOS


Senhorinha de Matos era o que sua graça dizia. Senhora, pequenina, vinha de um lugar onde há uma Senhora dos Matos, com capela numa ermida.
Senhorinha de Matos fez a terceira classe com uma distinção tamanha que a dispensaram da quarta.
Sussurrava a ler e a rezar. Fazia rodilhas para amansar o cansaço dos anos que varavam.
Senhorinha viveu 60 anos numa casa onde um gato façanhudo chamado Bigodes comia pepino e uma burra que respondia por Boneca zurrava noite dentro. Tinha os olhos de todo o azul e o sorriso das purezas do mundo.
Senhorinha teve sete filhos e o tifo levou-lhe a Gisela aos 17 num caixão branco.
A viuvez tirou-a de onde queria estar e levou-a para onde se conformou em ir, a uma quinzena por casa de cada filho que distribuiu por esta mortal passagem.

A cada vez que passava de carro por uma ponte, indagava se era aquela já era a de Vila Franca, que tinha como único marco de um caminho.
Senhorinha nunca deixou de fazer rodilhas e de perguntar “então já aí vens” quando alguém assomava à sala depois de virar costas ao dia que ficava lá fora.
Produziu filhos campesinos, suportou netos citadinos. Sem um ralhete.

Uma tarde deitou Senhorinha ao azulejo de um chão onde rezou os últimos sussurros.

Sentado ao remanso das sombras, encostado à nora velha e a olhar o tomilhal, penso nela, na avó e de todo o azul que lhe encimava o sorriso. Avó Senhorinha.
Senhorinha de Matos foi um fio de vento. Uma brisa em sussurro.
Falta-me um pedaço de qualquer coisa ao levantar...

Vou à procura da última rodilha que a minha avó me fez.

Filipe Alexandre Dias
Jornalista




terça-feira, 6 de junho de 2017

Cebola vs chalota?





















Chalota???

Quem assiste aos programas de culinárias modernos já deve ter ouvido algumas vezes sobre a chalota; a chalota é muito parecida com a cebola tanto em sabor como nutricionalmente mas, há algumas diferenças.

A Cebola tem mais fibra que a chalota e por essa razão com função mais positiva no controlo da glicémia e na diabetes; já a chalota apresenta mais proteína e acima de tudo mais antioxidantes tendo uma ação mais positiva ao nível cardiovascular.


A cebola e a chalota contêm níveis altos de alicina, componente importância na proteção cardiovascular.
A cebola tem muita quercitina! O meu favorito para curar constipações.
A chalota contém elevada quantidade de vitamina A, complexo B e C.

Dica: em termos culinários 3 chalotas equivalem a 1 cebola, mas a chalota é muito mais doce.


Boas culinárias!


Júlio de Castro Soares
Nutricionista
Tlm.: 962524966



sexta-feira, 2 de junho de 2017

Recomeça-se. Como?




Algures no passado...


Como é que se faz?
Como é que se recomeça?
Como é eu vou ter força?
Como é que evito levar-me por sentimentos assustadores como a raiva, a frustração e o medo?
Como não sentir pena de mim?
Como tudo?

Por mais que pense e tente não sentir pena de mim, não consigo… aqui me vejo perdida, ausente de mim e cheia de dor. Não me conheço, só conheço dor e agonia. Tenho tanto medo de perder o controlo… outra vez.
Bater no fundo duas vezes seguidas é demasiado doloroso. Mesmo que seja por motivos diferentes, há um fator comum em ambas as situações, eu!
Tudo passa dizem-me. Tudo vai passar. Hoje o que parece negro e difícil, amanha já é um bocadinho menos.
Mas e se desta vez não for?
Senão conseguir olhar em frente?
A desilusão e frustração que sinto são grandes…são avassaladoras. Maiores que tudo. Não sinto mais nada.
Mentira. Sinto raiva dele, de mim. “Pior do que isto já não fica, é o que penso.” Perdi o respeito por mim e por ele.
Fecho os olhos e não me lembro de nada, mais nada a não ser o momento em que fecho o punho e lhe bato, e ele agarra-se à cara de forma instintivamente protetora dele e de mim, e olha-me com olhos de medo e desilusão. Não esqueço estes segundos, não esqueço a força que pus no meu punho, não esqueço a cara dele de dor física, mas sobretudo de espanto pelo que acabara de acontecer. Não esqueço a dor que senti em mim pelo que acabara de acontecer.
Não me perdoo.
Nunca.


Nem a ele. Porque não me protegeu, porque não se protegeu. Porque não me impediu. Porque me provocou. Porque fui atrás da provocação. Porque não me controlei.
E todas as minhas merdas, tudo o que de pior eu tenho, volta e deita por terra tudo o que tentei fazer estes anos…de me reconstruir, de me perdoar por não ser perfeita. De me aceitar como sou. Foi tudo em vão. Está cá tudo. Agora sei isso. Mas mil vezes pior que há cinco anos atrás. Muito mais difícil, muito mais destruidor.
Isto é demais. Não se agride o outro. Não poderia ter cedido a provocações verbais.
Agora, como há 5 anos atrás sinto-me um nojo. Indigna de mim. Por outros motivos é certo. Mas algo mudou de há 5 anos para cá. Muito mudou. Só que esta mudança o que traz para este momento agora é só mais dor.

Fiz o que fiz, passei pelo que passei, contigo, por ti, por nós. E é esse nós que agora me destrói.
É esse nós, no qual me suportei, no qual muitas vezes arranjei força para ultrapassar sabendo que havia um futuro, um caminho, que era uma questão de tempo até a minha vida ganhar novo rumo, esse mesmo nós, agora destrói tudo com uma violência inigualável.
Porque te cobro o que aconteceu, porque nos cobro o dever de conseguir termos uma relação. Uma família. Porque te cobro o hipotecar de tudo em troco de nada. Até daquilo que não sabes. Sim não é justo. Mas cobro a decisão unilateral de não termos um filho. Algo que eu sempre tanto quis. Não te chamei a decidir, mas como podia? Mentiste, enganaste e abalaste a base de tudo, a confiança.
Pus todo o peso da minha felicidade, dos meus planos, dos meus medos em nós. E não conseguimos.
Quando te disse há meses atrás que não sabia se conseguiria ultrapassar as mentiras, a desilusão fui sincera. Que não sabia o que ia restar de mim, mas que ia me esforçar. E esforcei, fiquei.

Não fui. Podia ter ido. Tinha todos os motivos.
Disseste que fazias a tua parte. Não fizeste.
Só queria sinceridade, que me dissesses a verdade, que me agarrasses nas mãos e olhasses nos olhos, e me transmitisses segurança, a mesma que me transmitiste há 5 anos atrás, quando disseste que ias estar lá comigo, ao meu lado, como e quando eu precisasse.
Mas não foi isso que fizeste. Tiraste-me a segurança e substituíste por insegurança. A confiança deu lugar à desconfiança. A conversa às discussões e acusações.
E fizeste me sentir a louca, como tantas vezes disseste. Via coisas onde não existiam…e afinal estava tudo lá.

Porquê?
E agora?
Parece que não há nada a saber, não é?
Recomeça-se. Como???
O que digo ao meu filho? À tua filha?
O que digo a mim?
Hoje o meu filho perguntou porque chorei ontem. Morri naquele momento. E morri outra vez, quando me perguntou senão te via mais.
Vi tristeza na cara dele. Talvez porque viu na minha.



Petra