sexta-feira, 2 de junho de 2017

Recomeça-se. Como?




Algures no passado...


Como é que se faz?
Como é que se recomeça?
Como é eu vou ter força?
Como é que evito levar-me por sentimentos assustadores como a raiva, a frustração e o medo?
Como não sentir pena de mim?
Como tudo?

Por mais que pense e tente não sentir pena de mim, não consigo… aqui me vejo perdida, ausente de mim e cheia de dor. Não me conheço, só conheço dor e agonia. Tenho tanto medo de perder o controlo… outra vez.
Bater no fundo duas vezes seguidas é demasiado doloroso. Mesmo que seja por motivos diferentes, há um fator comum em ambas as situações, eu!
Tudo passa dizem-me. Tudo vai passar. Hoje o que parece negro e difícil, amanha já é um bocadinho menos.
Mas e se desta vez não for?
Senão conseguir olhar em frente?
A desilusão e frustração que sinto são grandes…são avassaladoras. Maiores que tudo. Não sinto mais nada.
Mentira. Sinto raiva dele, de mim. “Pior do que isto já não fica, é o que penso.” Perdi o respeito por mim e por ele.
Fecho os olhos e não me lembro de nada, mais nada a não ser o momento em que fecho o punho e lhe bato, e ele agarra-se à cara de forma instintivamente protetora dele e de mim, e olha-me com olhos de medo e desilusão. Não esqueço estes segundos, não esqueço a força que pus no meu punho, não esqueço a cara dele de dor física, mas sobretudo de espanto pelo que acabara de acontecer. Não esqueço a dor que senti em mim pelo que acabara de acontecer.
Não me perdoo.
Nunca.


Nem a ele. Porque não me protegeu, porque não se protegeu. Porque não me impediu. Porque me provocou. Porque fui atrás da provocação. Porque não me controlei.
E todas as minhas merdas, tudo o que de pior eu tenho, volta e deita por terra tudo o que tentei fazer estes anos…de me reconstruir, de me perdoar por não ser perfeita. De me aceitar como sou. Foi tudo em vão. Está cá tudo. Agora sei isso. Mas mil vezes pior que há cinco anos atrás. Muito mais difícil, muito mais destruidor.
Isto é demais. Não se agride o outro. Não poderia ter cedido a provocações verbais.
Agora, como há 5 anos atrás sinto-me um nojo. Indigna de mim. Por outros motivos é certo. Mas algo mudou de há 5 anos para cá. Muito mudou. Só que esta mudança o que traz para este momento agora é só mais dor.

Fiz o que fiz, passei pelo que passei, contigo, por ti, por nós. E é esse nós que agora me destrói.
É esse nós, no qual me suportei, no qual muitas vezes arranjei força para ultrapassar sabendo que havia um futuro, um caminho, que era uma questão de tempo até a minha vida ganhar novo rumo, esse mesmo nós, agora destrói tudo com uma violência inigualável.
Porque te cobro o que aconteceu, porque nos cobro o dever de conseguir termos uma relação. Uma família. Porque te cobro o hipotecar de tudo em troco de nada. Até daquilo que não sabes. Sim não é justo. Mas cobro a decisão unilateral de não termos um filho. Algo que eu sempre tanto quis. Não te chamei a decidir, mas como podia? Mentiste, enganaste e abalaste a base de tudo, a confiança.
Pus todo o peso da minha felicidade, dos meus planos, dos meus medos em nós. E não conseguimos.
Quando te disse há meses atrás que não sabia se conseguiria ultrapassar as mentiras, a desilusão fui sincera. Que não sabia o que ia restar de mim, mas que ia me esforçar. E esforcei, fiquei.

Não fui. Podia ter ido. Tinha todos os motivos.
Disseste que fazias a tua parte. Não fizeste.
Só queria sinceridade, que me dissesses a verdade, que me agarrasses nas mãos e olhasses nos olhos, e me transmitisses segurança, a mesma que me transmitiste há 5 anos atrás, quando disseste que ias estar lá comigo, ao meu lado, como e quando eu precisasse.
Mas não foi isso que fizeste. Tiraste-me a segurança e substituíste por insegurança. A confiança deu lugar à desconfiança. A conversa às discussões e acusações.
E fizeste me sentir a louca, como tantas vezes disseste. Via coisas onde não existiam…e afinal estava tudo lá.

Porquê?
E agora?
Parece que não há nada a saber, não é?
Recomeça-se. Como???
O que digo ao meu filho? À tua filha?
O que digo a mim?
Hoje o meu filho perguntou porque chorei ontem. Morri naquele momento. E morri outra vez, quando me perguntou senão te via mais.
Vi tristeza na cara dele. Talvez porque viu na minha.



Petra





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