quinta-feira, 1 de junho de 2017

Senta aqui... vamos brincar!





Senta aqui…vamos brincar!!

A enorme caixa de brinquedos sobe pelo ar como quem levanta alteres e lá do alto caem como numa cascata brinquedos, brinquedinhos e tralhas que mapeam o tapete da sala como uma introdução à sessão que vai começar. Sabemos de antemão que o nosso lugar já não é no cadeirão ou sofá…é ali no chão que um outro mundo se vai apresentar, onde uma peça de madeira pode ser uma nuvem caída do céu ou um tanque de guerra, ou ainda uma princesa no seu corcel a deambular numa floresta. Tudo pode ser tudo…e tudo faz parte desse mundo interno que é gigantesco, rico e nele pode habitar toda uma imensidão de seres, monstros atrás de árvores, medos em cima de camas, fadas e bruxas que voam e tudo e tudo.

Vamos brincar com as nossas coisas mas à tua maneira.
Esta é a tua brincadeira!(…)

E cada brincadeira é diferente da anterior, umas vezes mais intempestivas, outras meticulosas e pormenorizadas, mas há espaço para todas elas, contidas num momento dedicado só e apenas aquele mundo interno tantas vezes desarrumado. A Ludoterapia é exactamente isso, uma terapia através do brincar, uma forma de intervenção em que o psicólogo desce ao nível da criança, sem esperar o inverso, e toma parte dos seus cenários, histórias, fantasias. Fala a sua linguagem não verbal e comunica em total sintonia e compasso com a criança. O terapeuta é então o observador, mediador e o colo, que estende em seu redor uma rede invisível capaz de conter, como uma segunda pele, tudo o que é possível de ser pensado, sentido e elaborado. O psicólogo e a criança olham ambos o mundo debaixo para cima, e sem ignorarem as raízes da árvore que os acomoda, protegem-se das tempestades que não molham mas assustam, bem como, do sol que ofusca o olhar mas aquece a pele.
Cada objecto, personagem, fala, função e história são assimilados e valorizados, como pequenos e fortes tijolos de toda uma construção que se deseja suficientemente robusta para não cair mas, flexível para se permitir a tremer sem tombar.
Agora tu és a professora e vais fazer assim…(…)
Este aqui é o palhaço, chama-se João…tem o
mesmo nome do meu colega da escola!(…)
Esta fada vem e põe os pais felizes e  os filhos também.(…)
O  porquinho caiu no buraco e ninguém o ajudava!
(…)

Batalhas são travadas entre fortes e fracos, soldados ficam “morridos” e “renascidos” casando com princesas, em festas com palhaços, onde a professora também é convidada e vem da quinta onde tem porquinhos, e tudo acontece ali sentados no chão mas também lá dentro…dentro de si. E poderão vir fadas, feiticeiros e bruxas, mas a verdadeira “magia” acontece quando a criança se permite a confiar, a sentir-se livre de expressar à sua maneira, o que na maioria das vezes escapa a outros olhares e em tantas outras fica na sombra dos medos e conflitos de uma realidade que não se permite descer ao seu nível.
E como é bom brincar no chão fortalecer, valorizar e reforçar as personagens saudáveis, dar significado e transfromar os cenários pouco definidos  e … fundamentalmente, compreender e aceitar o que cada mundo interno tem para mostrar.

Senta aqui…vamos brincar…tenho tanta coisa para te contar!(…)

A todas as crianças que nos permitiram conhecer um  pouco mais o seu mundo,
um  gigantesco Obrigada!
A todos os pais, cuidadores e  educadores em caso de dúvida…brinquem!

Dra. Joana Cloetens
Canto da Psicologia




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