sábado, 6 de dezembro de 2014

Sobre os Medos das Crianças




O medo é uma emoção básica e universal, que acompanha e decalca o ser humano desde os primórdios da sua existência. Foi, certamente, através desta ferramenta que sobrevivemos enquanto espécie, possuíndo, por isso, uma dimensão protectora e organizadora da vida.

Desde os primeiros meses de vida que a criança sente medo, o qual vai evoluindo ao longo do seu crescimento. Assim, os medos mudam, efectivamente, com a idade, bem como de criança para criança, ainda que possamos falar de "medos típicos" em determinados estádios do desenvolvimento.

Entre os mais frequentes nesta etapa, sobressai o medo da separação, reavivado no momento em que a criança é deixada no infantário/escola ou na forma como se agarra aos pais quando os reencontra, como forma de garantir de que não terá que separar-se novamente. Em continuidade com isto mesmo está, igualmente, o medo da noite - outro momento que a reactiva as separações e que se veste de verdadeiras doses de (im)paciência para conseguir que os mais novos fiquem no seu espaço a enfrentar as criaturas fantásticas que preenchem o seu imaginário!

Dragões, bruxas ou elefantes debaixo da cama são produtos comuns da criatividade infantil, que, até aproximadamente aos 6/7 anos (momento em que ocorre a entrada para a escola e, com ela, o confronto com medos mais reais), vê nesta possibilidade um perigo palpável!

Mas, surpreenda-se? É neste processo de enfrentar o seu mundo interno e as produções fictícias que nele vai tecendo, que a criança ganha simultaneamente a capacidade de criar ferramentas capazes de a auxiliar nas batalhas que enfrentará pela vida. Frequentemente, encontramos adultos amedrontados que foram, de facto, crianças ás quais não foi permitido superar os seus próprios terrores - perante pais demasiado protectores ou, no extremo oposto, pais pouco capazes de se sintonizar com a dor dos filhos, desvalorizando-a.

Neste sentido, lembre-se: ter medo, não é assim tão mau! Pelo contrário, permite criar, por dentro, uma capa protectora de super-herói, capaz de sentir coisas reais, ora de olhos esbugalhados, ora de olhos fechados, mas sempre seguros de que, por si mesmo, será capaz de enfrentá-los.




O Canto da Psicologia,




Dr.ª Joana Alves Ferreira



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Lembra-se dos seus Sonhos?



Esta semana falamos-lhe sobre a capacidade de sonhar e a sua representatividade na vida emocional de todos nós. Ao longos dos séculos, foi existindo um profundo interesse por esta construção inconsciente do nosso psiquismo, espelhada nas explicações que foram sendo encontradas, à luz de cada época, sobre o tema. É, contudo, em 1900, que se revoluciona a concepção dada ao mesmo, com a perspectiva introduzida por Sigmund Freud.

Na sua teoria sobre a interpretação dos sonhos, Freud enfatiza o lado simbólico desta função vital, equiparando-a a um palco onde se expressam emoções, conflitos, desejos e angústias. Assim, o que anteriormente era interpretado como meros símbolos ou premonições, passou a ser compreendido como manifestações do nosso inconsciente, que ganham no espaço do sonho uma força de expressão.

Na verdade, na agitação com que vivemos diariamente - compromissos, rotinas, actividades que fazemos de forma sistemática -, acabamos por nos defrontar consecutivamente com o cansaço e o stress da vida contemporânea. É à noite, através do período de sono, que conseguimos desligar-nos deste mundo atribulado e cheio de informações, mas é também neste espaço que se acendem os holofotes para o que verdadeiramente se passa nos batisdores da vida emocional.

Quando dormimos entramos numa espécie de “processo mágico”, pois é durante o sono que somos verdadeiramente capazes de mergulhar num universo totalmente novo e secreto: o nosso inconsciente. Com efeito, durante o sono dispomos de forças inconscientes que nos levam a sonhar - todas as pessoas sonham e os sonhos, como nos diz Freud, são sempre a realização de um desejo. Desejos esses que existem dentro de cada um, mas que devido aos hábitos, cultura, educação bem como a moral da sociedade em que nos inserimos, foram recalcados, reprimidos, ficando no mais fundo e obscuro de nosso "baú do inconsciente", só manifestando o seu poder durante os sonhos.

É exactamente por isto que os sonhos funcionam como um importante motor da compreensão de quem somos e do que nos move, funcionando como uma ferramenta ímpar no trabalho psicoterapêutico e de conhecimento da pessoa.

Por isto mesmo, não se esqueça de olhar para os seus, lembrando sempre que o sonho é “a principal estrada que leva ao conhecimento dos aspectos inconscientes de nossa vida psíquica” (Freud).

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira

sábado, 22 de novembro de 2014

Do Bebé Prematuro ao Método Canguru




Numa gravidez, espera-se que o período de gestação ocorra tranquilamente ao longo de nove meses. Este é, de facto, um marcador carregado de simbolismo: é um limite organizador que baliza este aguardar pela chegada de um bebé idealizado, imaginado e criado por estes pais, que, embalados pelo relógio gestacional, contam “os ponteiros” até ao nove para desvendarem um dos momentos seguramente mais marcantes das suas vidas.
Contudo, este relógio é, para alguns, interrompido subitamente, por uma vontade precoce de vir ao mundo. Aqui, o inesperado desarma expectativas, carrega o medo do desconhecido e traz um novo limite, muitas vezes assinalado pela questão da sobrevivência.

Numa semana em que assinala o Dia Mundial da Prematuridade, importa consciencializar sobre o crescente número de partos prematuros, alertando para o impacto que as suas consequências têm para o bebé e para a família. Apesar do estudo e da enorme pesquisa sobre o tema, reconhece-se que apenas 30% dos casos de nascimentos prematuros têm uma explicação médica. Sabe-se, por exemplo, que estão em maior risco para trabalho de parto prematuro as mulheres que já passaram por um parto desta natureza, que estão grávidas de gémeos ou com história de problemas uterinos
Do ponto de vista emocional, sabe-se que esta vivência tem uma função desorganizadora para pais e família, que se vêm confrontados com um falir de expecativas, bem como com um risco que representa a antítese do nascimento – o da perda do bebé que idealizaram e da fragilidade de um bebé que foi imaginado saudável, capaz de gritar para dar as boas-vindas à vida, mas que, ao invés, nasce pequenino, frágil, indefeso.

Com efeito, todo o processo após o parto prematuro é desencadeador de um enorme sofrimento psiquíco para o casal parental, que se vêm confrontados com uma realidade hospitalar que assusta, que não era a suposta. A esta, associam-se todos os fantasmas vivenciados neste processo de incerteza e de angústia, onde o relógio continuam a existir, mas num compasso mais lento e pesaroso.
O cruzamento de disciplinas como a psicologia nos cuidados de saúde tem permitido introduzir métodos e técnicas capazes de minimizar o impacto emocional da prematuridade, promovendo, assim, a saúde do bebé e a relação precoce na díade mãe-filho. É paradigmtico disso mesmo métodos como o “Cuidado Mãe Canguru” ou “Contato Pele a Pele”, que tem sido proposto como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional para bebés de baixo peso ao nascer. Foi implementado em 1979 e ganhou esta designação devido à maneira pela qual as mães carregavam os filhos após o nascimento, de forma semelhante aos marsupiais.

Neste método de assistência neonatal, preconiza-se o contacto pele-a-pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo, assim, uma maior participação dos pais no cuidado ao bebé. Sabe-se que é este amor precoce que funciona enquanto motor de vida, pelo que, também aqui, é dele que se parece inspirar intervenções como esta.

Espera-se, pois, que intervenções como o Método Canguru continuem a inspirar e humanizar os serviços de saúde, relembrando e parafraseando António Coimbra de Matos: “mais amor, (para) menos doença”.

O Canto da Psicologia,


Dr.ª Joana Alves Ferreira






sábado, 15 de novembro de 2014

Saber dizer Não!

Sabe dizer Não?

Na caixa de perguntas desta semana, falamos-lhe da importância de saber dizer não. Três pequenas letras que têm uma força profunda no nosso psiquismo, mas que, tantas vezes, nos esquecemos de dizer.

Verdade seja dita: quantos são os dias em que chega a casa, depois do trabalho, irritado(a) com o chefe ou com a educadora dos seus filhos, porque gostaria de ter dito o que não disse, imposto o que não impôs, impedido o que permitiu? Quantos são os dias em que se "vinga" nas pequenas irritações quotidianas - excelentes escapes para as doses de agressividade que não emergem, comedidamente, no momento certo?

O trânsito é um excelente exemplo disso mesmo: como se a fúria de inúmeros condutores pudesse ser representada pelos "Não's" que ficam por dizer todos os dias e que se acumulam nas buzinas, nos acenos ou noutros comportamentos menos abonatórios. Mas, porque é tão difícil dizer não?

A explicação não é simples. Contudo, díriamos que, fundamentalmente, é porque vivemos numa sociedade que, cada vez mais, premeia a falta de limites, a ausência de regra ou de respeito pela individualidade, pelo outro. Neste egocentrismo generalizado, vive-se o espaço individual, ultrapassando a fronteira do espaço do outro, num movimento onde se diluem valores, onde se desvaloriza a empatia e o próprio crescimento. É também por isto que assistimos a um número crescente de pequenos tiranos, capazes de monopolizar o território familiar, transformando a saga dos pais numa luta constante pela satisfação imediata das suas vontades. Pais à beira de um ataque de nervos, que, adotando com a melhor das intenções um modelo educativo liberal e permissivo, vêem-se fechados num ciclo vicioso onde não imperam as contrariedades.

As consequências destes "não ditos" são, por isso, muitas. Sem eles, a criança não desenvolve a capacidade de esperar, de tolerar e de encontrar em si ferramentas alternativas para enfrentar os desafios que lhe vão surgindo. O "não" é, na verdade, um "sim" ao crescer!

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mobbing ou Violência no Trabalho


Na Caixa de Perguntas desta semana, falamos-lhe do Mobbing - uma realidade crescente nos dias de hoje, sobretudo num contexto de crise económica e social, onde impera a competitividade e a procura, muitas vezes, desesperada por assegurar um lugar (escasso) de trabalho.
Mas, o que é o Mobbing? Trata-se de uma forma de violência moral ou psíquica no trabalho: actos, atitudes ou comportamentos de violência moral ou psíquica em situação laboral, repetidos ao longo do tempo de maneira sistemática ou habitual, que levam à degradação das condições de trabalho idóneo, comprometendo a saúde, o profissionalismo ou, ainda, a dignidade.
O Mobbing diz respeito a um desejo de libertar-se da pessoa incómoda, através do afastamento ou da demissão, sendo a conduta do agressor mobiliza por este mesmo desejo. Afecta hierarquias e ocorre, em algumas circunstâncias, na vertical (de um patrão para um funcionário), mas é cada vez mais comum acontecer entre pares, isto é, colegas que se encontram numa mesma posição.
Naturalmente, tratando-se de uma forma de violência repetida, coloca um conjunto de dificuldades à vítima, que se traduzem num sofrimento tremendo. Entre os danos, destacamos: ansiedade, insónia, depressão, podendo mesmo chegar ao aparecimento de distúrbios emocionais.
Esteja atento!
O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira

sábado, 25 de outubro de 2014

Mudança de Hora ou Depressão Sazonal?


E quando o sol se vai embora...?

Em dia de mudança de horas, os ponteiros desalinham-se e a escala de cinzas assume o tom de Inverno (com o boletim meteorológico a anunciar o fim deste verão inesperado). Com tais reajustes, chegam, muitas vezes, as chamadas depressões sazonais ou simplesmente se acentuam estados depressivos latentes, dos quais vamos ouvindo falar, aqui e ali: "ando mais deprimido, este tempo não ajuda".

Não é desconhecido que as alterações sazonais têm impacto num conjunto de fenómenos da nossa vida e, no caso, parece existir um fundamento biológico para o que lhe falamos hoje. Algumas investigações revelam que a diminuição da duração da luz solar conduz o organismo a aumentar a produção de melatonina e a diminuir a de serotonina - hormona cuja produção é potenciada pela exposição à luz. Estas alterações são susceptíveis de despoletar sintomas como irritabilidade, cansaço, insónias, entre outros, estimando-se que afecta 7 em 10 trabalhadores.

Na verdade, não é por mera obra do acaso que a taxa de depressão nos países nórdicos é superior à de outros países, considerando que nos primeiros os dias são ocupados maioritariamente pelas horas de escuridão. Significa, pois, que os eventos sazonais têm um impacto significativo nos estados depressivos ou no agudizar dos mesmos!

Assim, imaginando o mundo visto pela lupa da Depressão, compreendemos que a vida ao redor é verdadeiramente sentida numa escala de cinzas... Coadunando-se o sentir interno com o que se vive ao redor, nestas mudanças de estação e de tempos...

Esteja atento à sua escala, nós por aqui continuamos com cor!

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira



Dia Mundial do Combate ao Bullying





Em dia de Respostas à nossa "Caixa de Perguntas" semanal, estamos por aqui a relembrar que esta semana se celebra o DIA MUNDIAL DE COMBATE AO BULLYING.

Portugal é um dos países com maior incidência desta problemática no contexto escolar. Bullying é um comportamento consciente, intencional, deliberado, hostil e repetido, de uma ou mais pessoas, cuja intenção é ferir outros. Violência e ataques físicos, ameaças e intimidações, exclusão do grupo de colegas, humilhações verbais, apelidos e insultos são algumas das formas desta prática.

É uma forma de pressão social, que acarreta muitos traumas na vida dos alunos que, diariamente, convivem com esta realidade. Na dinâmica do Bullying, alguém sofre de maneira directa as consequências da agressividade dos outros – a vítima, a qual vai julgando internamente que os adultos não serão capazes de compreender. Assim se vai silenciando uma dor que deixa mazelas!

Efetivamente, o Bullying pode ser, por si só, ser causador de perturbação emocional na vítimas, incluindo, também, a quebra do rendimento escolar. Baixa autoestima e Insegurança, Isolamento, Medo e Angústia são alguns dos sinais que podemos ir percepcionando nestas crianças. Simultaneamente, a falta de vontade em ri à escola, dificuldade de concentração e mudança de humor repentinas são outros dos sintomas que se podem verificar. Enquanto pai, enquanto educador, enquanto colega: esteja atento e não compactue com o sofrimento do outro!
Pelo combate ao Bullying e pelo bem-estar emocional de todos.


O Canto da Psicologia,


Dr.ª Joana Alves Ferreira









sábado, 4 de outubro de 2014

Grupo Terapêutico "Mulheres que Amam Demais"






O Grupo de Apoio a Mulheres que Amam Demais, nasce com o objectivo de potenciar e elevar em cada mulher, a sua própria capacidade de se amar, promovendo competências pessoais e emocionais - bloqueadas na dependência de relacionamentos dependentes e destrutivos - capazes de proporcionar uma aprendizagem ao nível de relacionamentos saudáveis consigo próprias e, com os outros.
Porquê?
Porque o AMOR não é, dependência afectiva!
Porque uma relação não é, sofrimento!
E porque para nós, o Bem-Estar é a base do Amor!

Inscreva-se no Grupo Terapêutico "Mulheres que Amam Demais" e AME-SE!!!!
| €15/sessão ou €110/conjunto de 8 sessões (frequência semanal) Grupo inicia a 22 de Outubro de 2014 em Lisboa (4a feira 20:30--22:00) e a 25 de Outubro na Margem Sul, Alcochete (sábado 10:00--11h30).
Mais informações e inscrições para info@canto-psicologia.com |


Deixamos-lhe o link do facebook para poder espreitar:

https://www.facebook.com/events/665622190211495/

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A escola e a separação...





A caixa das perguntas retoma hoje o seu trabalho habitual iniciado na segunda-feira: A Entrada na Escola e as Ansiedades de Separação.

A entrada na escola mete muitas mães e pais a arrancar cabelos. As dúvidas colocam-se desde cedo: Será que ele vai ficar bem? Será que vai aprender? Será que vai fazer amigos? Será que vai andar com más companhias? Mas sobretudo... Será que vou aguentar a sua ausência?

As angústias de separação não exclusivas à escolaridade nem tão pouco à entrada no Jardim de Infância ou no 1º ciclo. Elas expressam-se todos os anos aquando do regresso à escola, e com especial ênfase nos anos de transição: Jardim de Infância, Entrada no 1º Ciclo, Entrada no 2º Ciclo, Entrada no 3º Ciclo, Entrada na Faculdade.

Estes são aos de transição, cada um deles carregando o significado de separação/proximidade e dependência/independência. As mães e pais progressivamente ficam mais afastados das suas crias, os currículos escolares começam a complicar, têm de começar estudar sozinhos, têm de fazer escolhas e têm de demonstrar a responsabilidade de já não depender tanto dos pais. 

No JI e 1º Ciclo o que observamos com mais frequência são mães e filhos que choram compulsivamente. A mãe não consegue deixar o seu filho... justifica-se dizendo que é ele que chora. O filho só quer a sua mãe, esteve completamente dependente dela e do seu pai e desenvolveu um vinculo muito forte com eles. À porta da escola sente uma verdadeira angústia de abandono. No final do dia de aulas os pais retornam, a criança relacionou-se com os pares, aprendeu e conheceu. O retorno dos pais conforta-o. Amanhã talvez não chore. O aparecimento de angústias desta natureza (leia-se de separação) são completamente naturais em idades muito tenras e nestes contextos; a criança terá de abdicar da relação privilegiada que tem com os pais e terá de ganhar autonomia. Crescer não é fácil e só é possível na presença de uma revolução interna, a criança sabe-o; crescer doi. O que é mais preocupante não é a criança chorar durante o primeiro dia de aulas pela ausência da mãe, mais preocupantes são as formas como mãe e filho viveram as suas separações mais precoces, e se foram ou não estruturando um núcleo abandónico. Se esse núcleo se construiu entre mãe e filho as separações serão mais dolorosas, insuportáveis para ambos, e em vez de servirem de trampolim para o pensamento e autonomia servem para a inibição e dependência. Muitas vezes os pais esquecem-se da própria infância e como ela foi vivida, o que pode introduzir uma fissura na comunicação entre pais e filhos e que vai permitir com que as angústias da sua própria infância sejam repetidas aqui-e-agora tal como foram vividas lá-e-então.

No 2º Ciclo a história é outra... mãe e filho já conhecem a rotina habitual. Estão verdadeiros profissionais nos caminhos da separação. No entanto, muitas vezes a aproximação das aulas começa a despertar ansiedades logo desde o verão. A criança fica preocupada com a nova escola, já não terá um professor/a mas sim muitas, estes professores/as. Estes já não se aproximam tanto da imagem materna de outrora. Os professores/as tornam-se mais exigentes, menos afectivos, menos vigilantes. A criança preocupa-se com os novos amigos, sobre os perigos que a nova escola esconde, sobre os alunos mais velhos e sobre as notas... A mãe retrai-se ao vislumbrar esta ansiedade. O olhar da mãe e do adulto é cada vez menor sobre o seu filho. Será que vai comer bem? Será que fica na escola? Será que vai faltar às aulas? Será que os colegas vão tratá-lo bem? As possibilidades são infinitas, e as mães preocupam-se em conceber todas estas possibilidades por forma a melhor responder às situações. Por vezes não sabem como responder e angustiam-se. Será que fiz bem?

Parabéns! Agora tem um adolescente! A sua cria está a crescer e a sua ansiedade também. As questões que se colocam nesta idade são extremamente variadas. Para além do rebuliço próprio do adolescer, agora o seu filho terá de escolher a área de conhecimento que irá ditar o seu futuro. Mais uma vez as possibilidades são incontáveis. Alguns pais querem que sejam os filhos a escolher o seu futuro e orgulham-se da sua decisão, seja ela qual for. Outros parecem ser da mesma opinião ‘ele é que tem de escolher’, mas depois de alguma conversa percebemos que existem condições: ‘só não pode escolher artes’ ou ‘só não pode escolher áreas que não dão emprego’, ou ainda ‘desde que seja uma área que dê dinheiro’. Os pais começam a colocar condições à autonomia do filho. Outros pais ainda, já têm a decisão tomada desde cedo, nesse caso, o seu filho tem um projecto de vida que o antecede e que é imutável, ele terá de escolher o que foi escolhido por ele. As ansiedades de separação são colocadas nesta idade de formas muito diferentes; mais subtis, mais abstractas, mais autónomas. As questões ligadas à construção e estabilização da sua identidade e as decisões sobre o futuro colocam em jogo o processo de individuação e de independência das figuras paternas. Desta forma, pais e filhos mais uma vez são confrontados com a possibilidade de separação. O manejo desta ansiedade vai depender mais uma vez da forma como as separações anteriores - de pais e filhos - foram vividas.

A escolha de um curso e a entrada na faculdade acabam por ser a última barreira de dependência/independência entre pais e filhos, pelo menos, no que diz respeito à escolaridade. As questões que se colocam são muito mais maduras, mais adultas, mais independentes. A forma como um pai ou o seu filho vivem a entrada na faculdade desperta um conjunto de afectos e emoções complexos e por vezes paradoxais. Esta entrada acaba por ser fortemente conflitualizada. Um conflito que se coloca nos pais entre o orgulho e a angústia da separação, num jogo difícil que começa a despertar um verdadeiro síndrome de ninho vazio.

Brevemente voltaremos com referências mais práticas em relação ao que fazer nestes contextos.

Até já,

Dr. Fábio Mateus 
O Canto da Psicologia

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Regresso às Aulas e a Angústia de Separação



3, 2, 1 ACÇÃO!


Em jeito de antestreia, chegamos-lhe hoje à hora da recomendação do filme da semana, com um trailer que lhe é, seguramente, familiar. Diríamos que talvez tenha sido, já, personagem principal, realizador ou apenas figurante: mas, em todo o caso, asseguramos que conhece bem o filme que lhe trazemos hoje. O filme que Setembro evoca, os papéis que dele emergem e os cenários em que se multiplica. Eis, o esperado Regresso às Aulas! Está preparado para a acção?

Se desse lado já sente o pulsar dos mais pequenos, o frenesim do regresso ao trabalho, agudizado pelas “multitasks” que se apresentam em contra-relógio, então, garantimos-lhe que este filme é para si e, provavelmente, este argumento também. Nesta longa-metragem, não raras vezes surgem as conhecidas ansiedades que antecipam a iniciação escolar, seja ela em que fase da vida da criança ou do adolescente. Quer para os mais novos, quer para os próprios pais, os próximos dias serão vividos com a agitação da preparação de um ano que se avizinha com desafios, responsabilidades e exigências, que ditam o compasso do crescimento dos filhos e que, todos sem excepção, desejam que seja bem sucedido.

Não obstante, nas fantasias que antecipam este regresso, para uns, ou começo, para outros, emergem inseguranças, medos e dúvidas que, muitas vezes, não são verbalizadas, mas que passam numa espécie de comunicação inconsciente do sentir de cada uma das personagens deste filme. Sente-se esta inquietude na pressa pelos livros, na voracidade com que se quer levar todo o material escolar, nas perguntas sobre os colegas que irão surgir. Isto, nos mais “ousados” (e que ousados sejam), que, ainda assim, permitem deixar transparecer um lado mais angustiado que ganha expressão nestes cenários. Há, contudo, aqueles cuja comunicação é mais silenciosa, ficando-se pelas noites sem dormir, dores de barriga ou uma repentina dificuldade de deixar partir pelas manhãs pais e mães, num abraço que custa largar e nas lágrimas que escorrem sem pedir licença, deixando do lado dos crescidos a culpa por ter que ir. Todos eles, de uma forma ou de outra, enquanto crianças que são, experienciam a angústia das separações que se avizinham e das mudanças para um novo mundo desconhecido, lidando com ela da forma que podem ou que lhes é possível.

Para os pais, a tarefa nem sempre está mais facilitada: desengane-se se imaginou que para todos funciona a capa de super-herói. Em cada novo ano, em cada recomeço, vai-se reavivando a experiência “do largar a mão para o deixar crescer”, com tudo o quanto tem de bom, mas também de sofredor no que representa vê-los seguir.  Este seguir para longe de um olhar contentor que os pais sentem, naturalmente, como único – o seu. Este seguir para um  trajecto que se reconhece que não será sempre ideal e que trará as suas dificuldades, como, aliás, todas as etapas de crescimento dos filhos.

É também aqui que, tantas vezes, a trama se complica, quando a apreensão dos pais é passada para os mais novos, sem que dêem por isso, é certo, mas fazendo-lha chegar. Para garantir que esta longa-metragem seja um filme de acção, com muito afecto à mistura e que o final seja verdadeiramente feliz, sugerimos-lhe o fundamental: converse com o seu filho, dê espaço a que verbalize o que sente, leve até ele(a), devagarinho, as mudanças que se vislumbram, e na hora da despedida, com firmeza (aí sim, de super-herói), não se esqueça de lhe ressegurar que vai, mas que no final do dia estará ali para recebê-lo.

Boa jornada!

Dr.ª Joana Alves Ferreira 





quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Caixa de Perguntas: Angústias de separação no regresso à escola!




Caixa de Perguntas
Angústias de Separação no Regresso à Escola

Já se faz sentir o Setembro a pulsar no batimento cardíaco de pais e crianças, antecipando o (re)começo da escola, das rotinas e das responsabilidades! A cada novo ano os desafios multiplicam-se, as exigências somam-se e, nem sempre, os medos se substraem... 

A entrada para a escola - berçário, creche, escola primária - é um momento vivenciado pelos mais pequenos com "boas" doses de angústia, não obstante as que são sentidas pelos mais crescidos (entenda-se, os pais). Neste território onde as separações são difíceis, as frequências cardíacas entram em sintonia de um lado e do outro, acrescendo-lhe os medos e as dúvidas inquietantes que esta mudança transporta.

Na caixa de perguntas desta semana, estamos por aqui à espera que nos coloque quais são as suas, deixando-lhe hoje a pergunta e respondendo-lhe na sexta-feira... Por aqui ou por mensagem, poderá enviar-nos questões que não ficarão sem resposta, mas, enquanto isso, vamos preparando algumas estratégias para facilitar este processo, quer para pais, quer para filhos!

Até sexta!


Vamos falar sobre inteligência...





'Sobre a Inteligência: A Propósito das Dificuldades de Aprendizagem'

Como tem vindo a tornar-se hábito, hoje, Sexta-Feira, respondemos às questões colocadas na Segunda, na nossa Caixa das Perguntas.

Na realidade a definição de inteligência é muito mais complexa do aquilo que se poderia imaginar. Trata-se de um debate historicamente longo e que tem suscitando intensas discussões e divisões entre cientistas. A nossa posição contudo continua a ser a de maior simplicidade e que parece ser mais abrangente e prática, nomeadamente: a inteligência é a capacidade de adaptação ao meio.

Se tivermos como premissa básica esta ideia de inteligência enquanto adaptação então a noção de uma inteligência puramente genética torna-se problemática. É se fosse que seria necessário que os genes contivessem informação cristalizada e limitada. A inteligência, por outro lado, parece ser fluída e dinâmica. A nossa convicção (convenientemente suportada pela ciência), é que a inteligência é o produto da organização do funcionamento mental que se dá pela interacção entre as estruturas inatas e o meio externo. 

A criança aprende, apreende, desenvolve os saberes rudimentares e comportamentos inteligentes como Emílio Salgueiro (1996) descreve: 'diferenciando claramente entre o que é presença e ausência, entre o bem-estar e o mal-estar, entre o belo e o feio, entre o bom e o mau, entre o que causa mal-estar e o que traz alivio, entre o dentro e o fora, entre o que está em cima e o que está em baixo, entre o que está de um lado e o que está do outro, entre o interior e o exterior, entre o que entra e o que sai, entre o próprio e o outro, entre o alivio que vem do próprio e o alivio que vem do outro, entre o antes e o depois, entre pessoas e objectos inanimados, entre o amor e o ódio, entre construir e destruir, entre a verdade e a mentira entre a gratidão e a inveja, entre pessoas completas com pensar próprio e pessoas-parciais ou pessoas função, submetidas à vontade do outro, entre sentir e agir, entre liberdade e opressão, entre o homem e a mulher, entre filhos e pais'. Estes são os alicerces da lógica, do raciocínio, da abstracção, da simbolização, da memória, da atenção... enfim da inteligência.

É também muito comum associarmos a inteligência àquilo que chamamos capacidades cognitivas. Com efeito, estas capacidades (como são a memória, a atenção ou a percepção) parecem ser fundamentais para a capacidade de interacção e adaptação ao mundo. 

A capacidade de adaptação ao meio escolar exige a existência e robustez do desenvolvimento afectivo e cognitivo. De outra a forma a criança não conseguiria, por exemplo, prestar atenção/concentrar-se ou reter informação para processamento (memória). Parte daqui esta ideia de que o défice cognitivo, e portanto baixo Quociente de Inteligência (medida psicométrica), está ligado a dificuldades de aprendizagem.

Mas o que causa exactamente estas dificuldades? Sabemos que existem um conjunto de traços da personalidade que se encontram ligados a diferentes aspectos da cognição. A titulo de exemplo, observamos como a ansiedade e a atenção/concentração encontram-se extremamente correlacionados. De forma semelhante a depressão parece influenciar um conjunto abrangente de capacidades cognitivas (por exemplo a velocidade de processamento). Ambos, ansiedade e depressão, também parecem estar relacionados com dificuldades ao nível da memória a curto e longo-prazo. 

Daqui retiramos a importante conclusão de que o funcionamento da personalidade e as capacidades cognitivas estão intimamente ligadas, numa espécie de funcionamento mental composto onde os limites entre afecto e cognição se encontram esbatidos.

Apesar das dificuldades inerentes à definição e avaliação da inteligência temos hoje acesso a um universo de conhecimento muito lato que nos permite intervir e, acima de tudo, pensar a inteligência, o défice cognitivo e as dificuldades de aprendizagem. 

É de importância maior entendermos a inteligência como parte de um funcionamento mental regido pelas relações que se estabelecem entre o mundo interno e o mundo externo, entre o afecto e cognição. As dificuldades de aprendizagem inscrevem-se num universo muito maior que a simples avaliação de capacidades cognitivas, tendo por isso de ser pensado em termos mais globais, nomeadamente, nos termos da organização do pensamento e da própria personalidade.


O Canto da Psicologia 
Dr. Fábio Mateus

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre a Inteligência: A Propósito das Dificuldades de Aprendizagem






Dar inicio a mais uma Segunda-Feira a reflectir é sempre uma excelente forma de entrar na semana! Hoje, como de costume, a caixa das perguntas aqui d'o Canto volta a questionar.

A Inteligência é um termo que todos sabemos (ou julgamos saber) o que pretende definir. Mas afinal o que é a Inteligência? Será a inteligência genética e predeterminada desde o nascimento? O que influência a inteligência? O que é esta coisa que temos por hábito nomear quando queremos explicar algumas dificuldades de aprendizagem? O que entendemos por Quociente de Inteligência? Que testes são utilizados para a avaliar? E o que é que avaliam exactamente? Será um conceito assim tão importante? Porque é que embrulhamos o conceito de Inteligência juntamente com o de ansiedade? De que forma a inteligência está ligada à cognição? E o que é esta coisa a que chamamos défice cognitivo? 

E você? O que pensa sobre isto da Inteligência? Que questões, que experiências, que angústias tem para partilhar connosco? Pergunte! Como é habitual iremos responder a estas questões, e às suas, na Sexta-Feira. Até lá... questione!

O Canto da Psicologia


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Hiperactividade e Medicação...






E na segunda feira perguntamos! Hoje, sexta-feira respondemos!

Hiperactividade e medicação!

Na nossa caixa de perguntas desta semana, levantámos a questão da medicação precoce de inúmeras crianças e adolescentes, pelo diagnóstico de Hiperactividade e/ou Défice de Atenção!

Nos últimos anos, tem-se verificado um crescendo de crianças a quem se atribui este quadro, seja pela avaliação efectiva de técnicos de saúde, seja pela forma como este terminologia tem vindo a ser, no nosso entender, abusivamente utilizada por professores, pais, família e pela própria sociedade.

Os "reguilas" de outrora são os "miúdos concerta" da actualidade: crianças que, eventualmente, não serão tão diferentes das que também os pais terão sido, mas cuja indisciplina, inquietude, agitação, associado ao desejo impetuoso de subir muros e empoleirarem-se onde não devem, entre outras formas "estranhíssimas" de pôr os bichos-carpinteiros a mexer ... Hoje, são as crianças travadas pelas "pílulas mágicas"; são os indisciplinados, a quem cabe (aos próprios, mas sobretudo aos pais e professores) a justificação de um diagnóstico que clarifica qualquer dúvida que a falta de regras levante; são os "miúdos concerta", que, como o nome sugere, precisam de ser concertados, arranjados, como quando adquirimos qualquer coisa que chega com defeito de fabrico...

Mas, não será demasiado? O que mudou, afinal, no espaço de uma geração para rapidamente tudo ser solucionável por via de "pílulas magicas"?

A nosso ver, olhando para lá da palavra, dos nomes e dos rótulos, há em cada criança uma singularidade que faz dela especial e na qual vão surgindo, medos, angústias e dificuldades... Superáveis e não propriamente anuláveis - superáveis pela capacidade adaptativa da criança, pela forma como na relação é capaz de trabalhar as suas inquietações, caso seja contida e suportada, num trabalho de articulação contínuo entre pais, educadores, psicólogos e toda a rede que a envolve.

Que a Adrenalina, agora substituída pela Ritalina, possa ser trazida para uma Psicoterapia e, como diz o dito popular "a seu tempo, cada coisa no seu lugar"! Mas, é claro está, é preciso tempo, um tempo que não se coaduna com uma cultura do imediatismo.

E desse lado, enquanto pai, é capaz de esperar?

Drª Joana Alves Ferreira
O Canto da Psicologia

domingo, 10 de agosto de 2014

A nossa Caixa das Perguntas...





Ora O Canto da Psicologia na Segunda-Feira colocou enquanto tema para reflexão a Dislexia. E como já sabe na Segunda perguntamos e Sexta respondemos.

Saber ler, saber escrever, e saber contar/calcular são três capacidades essenciais ao desempenho académico e à integração na sociedade. São estes saberes rudimentares que nos permitem entender e estar em contacto com o mundo sociocultural que nos rodeia. O conhecimento sobre este sistema-património de signos e símbolos – letras e números – permeia o nosso tecido social e como tal achamo-nos obrigados a conhecer e a interpretá-los rápida e correctamente.

Utilizamos então as palavras Dislexia, Disortografia e Discalculia para designar dificuldades específicas na leitura, na escrita e na aritmética, respectivamente. As palavras de prefixo Dis- não se ficam por aqui; Disgrafia, Distimico, Disruptivo e Disfuncional são outras palavras que utilizamos para designar o que é irregular, o que não funciona apropriadamente ou o que sai da norma.

A Dislexia é apenas uma categoria de várias dificuldades de leitura. É que as dificuldades de leitura podem ser explicadas de formas muito diferentes. Uma criança poderá evidenciar uma perturbação da leitura porque demonstra dificuldades na codificação de informação para processamento (memória), ou porque demonstra ter dificuldades na manutenção da atenção, ou porque tem dificuldades de organização perceptiva. De forma semelhante, uma criança poderá demonstrar dificuldades na leitura simplesmente em contexto de sala de aula devido a um aumento da ansiedade. Os motivos são inúmeros, mas o que distingue a dislexia de outras dificuldades de leitura é uma perturbação da capacidade da criança na associação entre fonema (som-letra) e grafema (símbolo-letra). 

A título de curiosidade é interessante vermos como durante muito tempo julgou-se que a dislexia e a disortografia teria que ver com dificuldades de organização perceptiva uma vez que a evidência demonstrava trocas e inversões de letras na escrita (como por exemplo o ‘p’ com o ‘b’ com o ‘q’). Ligavam-se estas evidências a dificuldades de organização do esquema corporal ou até da lateralidade. A literatura não tardou em estabelecer inferências relativamente à personalidade do disléxico, como se existissem ‘personalidades disléxicas’. Alguns encontraram nestas dificuldades justificação para afirmar que o disléxico seria ‘trapalhão’ ou ‘desajeitado’. No entanto e apesar de existiram crianças com estas dificuldades observou-se que a dislexia não teria que ver com estas questões. 

A evidência neurocientifica demonstrou outras coisas... nomeadamente esta dificuldade em estabelecer ligações entre fonemas e grafemas. Desta forma a avaliação da dislexia deve ser um processo laborioso de demonstração desta dificuldade especifica. 

Hoje em dia sabemos que existe um perfil Disléxico e que consiste, de um modo geral, em: Dificuldades de Leitura (trocas, omissões, substituições, invenções); Baixa Fluência de Leitura; Baixa Consciência Fonológica; Perfil Cognitivo Normal/Superior; Organização Perceptiva Regular. É este o perfil distingue que o leitor disléxico de qualquer outro.

Ser-se disléxico é particularmente difícil, não só pelas dificuldades inerentes à leitura desajeitada, mas também porque provoca ansiedade e desconforto. Conhecemos pois crianças e adolescentes com verdadeiras fobias à leitura sentido-se envergonhados pelas dificuldades que apresentam. Sabemos como este tipo de dificuldades se manifestam ao nível da própria personalidade como que contaminando o funcionamento mental. É ainda angustiante para o disléxico esta sua dificuldade porque ele apresenta um perfil cognitivo normal/superior, que o torna o excelente a entender e a compreender o conteúdo dos textos. 

Neste sentido, a avaliação e despiste da dislexia deverá ser feito o mais cedo possível. Apesar do diagnóstico ser difícil antes da entrada no 1º ciclo (uma vez que as crianças ainda não sabem ler), sabemos que existem alguns indicadores precoces que são extremamente importantes para a prevenção destas dificuldades.

Existem hoje múltiplas técnicas e livros que se encontram facilmente em qualquer livraria e que podem ser utilizadas para ajudar o disléxico. Algumas centram-se precisamente na ligação entre o grafema, o som e motricidade. Outras têm um teor mais contextual intervindo dentro do triângulo escola-família-criança. 
Mas para que estas técnicas sejam adaptadas a cada situação é necessário que o encaminhamento seja adequado e que se estabeleçam articulações entre psicólogos e professores. 

Existe também um conjunto de medidas que podem ser tomadas pela escola no sentido de auxiliar estas crianças e adolescentes, podendo inclusivamente modificar-se o enunciado dos testes e o seu tipo de aplicação por forma a adaptar-se melhor às suas necessidades.

O Canto da Psicologia 

Dr. Fábio Mateus