quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres...





A violência contra a mulher é a mais frequente forma de violência de género. Este fenómeno é hoje mundialmente reconhecido pelos organismos de Saúde e de Direitos Humanos como um problema social grave. Nos países ocidentais, sob forte influência da mobilização feminista, a violência contra as mulheres tornou-se, nas últimas décadas, alvo da preocupação dos mais diversos fatores sociais. 

É crescente a preocupação com este fenómeno, mas, assustadoramente, parece ser directamente proporcional o número de casos que os meios de comunicação denunciam a este respeito diariamente. Será o reflexo de um fenómeno que continua a crescer ou a expressão de uma maior capacidade de intervir e/ou denunciar estes casos? Efectivamente, os números impressionam pela amplitude a que a violência tem chegado, inclusivamente no ambiente familiar, sendo muitos os casos em que é o parceiro a promove.
Frequentemente, este desastre social parece assentar no paradigma “mau com ele, pior sem ele”. Trata-se, portanto, de um fenómeno complexo, para o qual converge a história de vida, quer da vítima, quer do agressor, na forma como se constituem casal. 

Em muitos casos, percebemos a presença do desamparo e da violência na história de um ou mesmo de ambos, produzindo marcas na sua constituição psíquica que influenciam o vínculo na relação amorosa. Nesse sentido, situações traumáticas, como maus-tratos durante a infância e/ou abusos de diversos tipos (emocional, físico e sexual), têm sido considerados fatores presentes na história de vida de homens que perpetuam violência contra as suas parceiras íntimas, tratando-se por vezes de situações traumáticas na elaboradas que produzem uma compulsão à repetição. Podemos pensar, a partir de aqui, que se trata de uma espécie de “aprisionamento psíquico”, que exige uma elaboração interna dos lugares da história de cada um e, consequentemente, da forma como estes produzem uma repetição no aqui e agora. 

Nesse sentido, numa semana em que se assinala o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, não podemos deixar de assinalar a importância desta data e do papel que as demais instituições e organismos sociais e políticos têm tido na construção de um lugar para pensar e intervir sobre este “teatro de guerra” familiar - cujas consequências são, tantas vezes, alargadas a outros protagonistas, também eles vítimas desta violência - mas assinalando e reforçando, paralelamente, a necessidade de que este trabalho externo possa ser acompanhado de um trabalho interno, que permita não apenas “estancar” o sofrimento, mas, sobretudo, elaborá-lo, como forma de que este não se repita. 






quinta-feira, 21 de novembro de 2019

"Casa de pais, escola de filhos...."







“Se calhar há coisas que passam um bocadinho dos meus limites”
M,16a

Numa oscilação entre o adulto que está por existir e a criança que já não existe, o retrato do adolescente parece poder recair no vazio. No caminho das transformações, a falta da paixão e ingenuidade da infância, abre espaço para o espelhar das inseguranças do que é ser-se adulto. Numa sociedade global e contemporânea em que cada vez mais se instalam momentos de fragilidade, em que vivemos da cultura do imediato, da chupeta da televisão, da cada vez maior inexistência de ideais partilhados, onde os gostos e opiniões passam a ser momentâneos, descartáveis e provisórios – como as stories do instagram-, onde se venera e gratifica o individualismo, em que se atenuam as imagens estruturais do trabalho, da família e dos laços humanos, não terá também mudado o sofrimento psicológico?
Na procura de algo que satisfaça no imediato, na fuga constante ao aborrecimento e ao tédio, na procura do outro para iludir os sentimentos depressivos e o verdadeiro contacto com o próprio, como se desenvolve a capacidade de estar só e com o outro? Onde fica o terreno para construir o processo identitário individual e relacional?
Na inerente transformação da entrada para a adolescência em que impera o desafio da identidade, em que é preciso sentir-se em casa dentro do próprio corpo, ter uma bússola orientadora do caminho que se vai seguir (ou que pelo menos permita que se possa ir descobrindo) e em que é imperial  reconhecer-se (o próprio) e ser reconhecido/visto (pelo outro), quais são os modelos que estamos a construir?
Desvalorizamos, inconscientemente, o adolescente, porque não é adulto, responsabilizamo-lo, porque não é criança, queremos que cresça e que faça, que seja e que planeie, que suporte e dirija, mas não validamos quando sente, quando pensa, quando quer, quando projecta (porque é criança e não adulto)… não abrimos assim espaço para a psicopatologia? Será o sofrimento calado, bebido, consumido, cortado, apenas uma fase? Ou será um grito do desespero, do desamparo, da insegurança?
            Cada vez mais predominam, nesta fase de desenvolvimento, as chamadas “patologias do agir” – toxicomanias, alcoolismo, perturbações/distúrbios alimentares, comportamentos autodestrutivos (que podem potenciar o suicídio) e híper sexualizados, depressões entre outras. Entre o desejo de experimentar e descobrir, na fantasia idealizada da ausência de limites, não serão estes quadros uma tentativa de limitar a experiência?
            Estaremos a estruturar futuros adultos com recursos psíquicos frágeis?
            Sendo esta uma fase de tantas transformações aliada a todas as mudanças sociais e culturais envolventes da época que vivemos, onde fica o espaço para a estruturação do psiquismo?

            Servirá, assim, o contexto psicoterapêutico para ajudar a ouvir aquilo que está escondido pelo agido.








quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Tempo gasto em exercício...







Já pensou na quantidade de coisas que pode fazer em 5 anos? Pense nisso, reflicta e agora leia o resto do texto. 

Um recente estudo, levado a cabo durante 20 anos e envolvendo quase 4 milhões de pessoas veio confirmar que fazer atividade física de forma regular previne a morte prematura por causas gerais e/ou por doenças cardiovasculares. Mesmo para quem se desculpa com a falta de tempo, o estudo revela que a partir do momento em que o indivíduo se começa a mexer, a melhoria da qualidade de vida aumenta , ou seja, não há um mínimo a ser feito, é preciso é começar. Até os chamados atletas de fim de semana, tiveram uma diminuição de mortalidade prematura perto dos 30%.

Se pensar no tempo que precisa semanalmente para fazer exercício, e colocar na balança, o tempo que pode ter a mais de anos de vida com qualidade, cerca de 5 anos a mais de esperança média de vida, com toda a certeza que vai querer começar a mexer-se mais e melhor já hoje. Lembre-se que o tempo “gasto” com exercício, é um investimento a curto, médio e longo prazo na sua saúde e longevidade.



Bons treinos 

Hugo Silva


Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Álcool, um agente de regulação emocional...






A dependência do álcool, e os problemas relacionados com o consumo do mesmo, têm uma forte incidência na nossa cultura e constituem um grave problema de saúde pública; afeta não só o indivíduo, nas dimensões física, mental e emocional, mas também a sua família e a sociedade. É uma perturbação que se encontra implicada em problemas como a violência, acidentes rodoviários e a baixa produtividade ou a abstinência no trabalho.

Vários autores de uma linha psicanalítica (como Philip Flores e Ana Mónica Dias) se questionaram sobre este fenómeno no sentido de trabalharem sobre a sua compreensão e tratamento e afirmam que a instalação do alcoolismo acontece como um movimento de auto-cura ou auto-reparação, uma vez que o álcool produz fortes efeitos nos estados emocionais e afetivos e por isso atua muitas vezes como um agente de regulação emocional.

Constata-se de facto que o uso do álcool aparece muitas vezes associado ao alívio da dor emocional, em estados depressivos e/ou de ansiedade. Mesmo que só por momentos, este serve bem o objetivo de escapar a sentimentos de privação, vergonha ou inadequação. Observa-se que pessoas com dificuldade em estabelecer ligações reguladas emocionalmente no seio das suas relações intímas têm grande tendência a compensar tal dificuldade com o recurso ao álcool e drogas numa tentativa de se autorepararem.

Segundo diversos estudos, as pessoas dependentes de álcool revelam habitualmente elevada instabilidade emocional, têm tendência a experienciar afetos negativos tais como a tristeza, o medo, o embaraço, a raiva, a culpabilidade e a sentirem-se inseguros, incompetentes, nervosos e preocupados. Têm também dificuldade em controlar os impulsos e em lidar com situações de stress. Alguns destes aspetos também já exacerbados pelo própria dependência, trata-se de um tipo de “automedicação” com elevados efeitos secundários.

Denota-se que na grande maioria dos casos de alcoolismo existe uma falha nas relações significativas, nas suas funções essenciais de providenciar um ambiente empático, tranquilo e seguro, onde existe reconhecimento do próprio e do seu valor, em suma um ambiente que possibilita a construção saudável da auto-estima. Entende-se que os vínculos estabelecidos nas relações íntimas estejam caracterizados por insegurança, ansiedade e pouca confiança nos outros.

Estes dados, provenientes da observação clínica e de reflexões teóricas e empíricas, confirmam a necessidade do tratamento psicoterapêutico de pessoas dependentes de álcool, onde se constrói uma nova relação que possibilitará elaborar as falhas ocorridas e construir um novo modelo de relação e do próprio, e constituem como que um mapa para o tratamento onde estão devidamente sinalizados os diferentes aspetos que constituem (potenciais) fragilidades da pessoa e são portanto essenciais para o eficaz tratamento desta problemática.








quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Por onde andam os afectos na Era do Burnout?




Habituámo-nos a viver em contra-relógio como se a vida fosse uma autêntica gincana que nos coloca em prova todos os dias. Na contemporaneidade que nos caracteriza somos guiados por uma bússola que nos impele a correr de manhã à noite. 

O contra-relógio começa cedo pela manhã, e os desafios são muitos, mesmo antes de nos encontrarmos no local de trabalho, seja pelo trânsito que nos acompanha desde a porta de casa à folia de deixar os miúdos na escola. 
Quando finalmente chegamos ao local de trabalho, a luta contra o tempo é maior ainda e a competição direccionada aos outros ou a nós próprios, não nos deixa esquecer que a corrida continua.  Aqui, os desafios são outros, são mais complexos, mais conflituosos, mais exigentes e também mais impossíveis! 

Os psicoterapeutas, recebem em consulta e cada vez em maior número, vários casos de ansiedade, depressão e exaustão mental relacionados com a actividade profissional, por excesso de trabalho ou por conflitos interpessoais. São vários os quadros psicológicos e físicos que têm proveniência no desgaste emocional e no desequilíbrio provocado pela vida profissional. 

Com especial atenção a este fenómeno, a OMS incluiu, este ano, o ´Burnout´na nova classificação internacional de doenças. Esta síndrome apresenta uma vasta sintomatologia que se estende por um longo período de tempo. Sensação de cansaço permanente, baixa produtividade, apatia e isolamento social, alteração do sono e alimentação, dores de cabeça ou musculares, sentimentos de inutilidade e fracasso, sentimento de realização profissional muito baixo, tristeza e irritabilidade, são alguns sinais que podem indicar a presença de um stress excessivo e patológico.
Como pode a vida profissional ter um impacto tão nocivo e condicionar o funcionamento psicológico?

O ser humano necessita, à partida, de condições básicas emocionais para conservar a integridade e equilíbrio psíquico - sentir um bem estar interno individual onde o desejo, a ambição, o sonho e a esperança assumem o papel de protagonistas é uma dessas condições. Sentir-se ligado afectivamente aos outros e criar vínculos que se expressam em relacionamentos mais ou menos íntimos é essencial e ajuda a manter as estruturas psíquicas saudáveis.
Por outro lado e, também com vista à manutenção do equilíbrio interno, utilizamos um conjunto de mecanismos psicológicos que nos protegem de possíveis situações desestruturantes provenientes de diversos eventos da vida.

No Burnout percebemos que estes elementos estão completamente desajustados, seja por défice ou por excesso. 

As actividades laborais caraterizam-se atualmente por elevada contenção e inibição, escassez de criatividade e falta de interações interpessoais sadias, onde a competição toma o lugar da cooperação, a ausência de investimento cria apatia e a esperança é suprimida. Este contexto promove a presença de movimentos defensivos de forma exagerada e desencadeia o aumento do sofrimento,criando uma vida psíquica vazia e desprovida de sentido. Psicologicamente, a pessoa deixa de desejar, investir e arriscar, muitas vezes anulando do seu dia-a-dia as actividades que mais prazer lhe trazem.

É irónico que o lugar e o tempo dos afectos se torne cada vez mais raro quando a Era da tecnologia nos trouxe mais conforto, mais proximidade e autonomia. Era de esperar que o mundo digital promovesse e facilitasse o contacto com os afectos. Mas não! Os afectos são substituídos por vínculos frágeis, robotizados, empobrecidos e pouco criativos. Os relacionamentos e os investimentos individuais são mascarados e virtuais no estar e no sentir.

Contrariamente ao que viver em contra-relógio favorece, são os afectos autênticos e ricos – composto emocional primordial, aqueles que sustentam o equilíbrio, a lucidez e a saúde mental.






terça-feira, 5 de novembro de 2019

Paradigma do treino de força...






O paradigma do treino de força continua a mudar. Um grande estudo elaborado na Suécia, acompanhou mais de 1 milhão de adolescentes, onde foram testados níveis de força e capacidade aeróbia. Estes adolescentes, foram depois acompanhados ao longo de 30 anos.

Os resultados após 30 anos de acompanhamento foram claros:

- Maior risco de invalidez para participantes com menores níveis de força;
- Mais baixas médicas para quem apresentava menores níveis de força;
- Mais problemas psiquiátricos associados a baixos níveis de força;
- Maior taxa de invalidez, quando combinados baixos níveis de força e capacidade aeróbia;
- Obesidade na adolescência acarreta maiores riscos de incapacidade, absentismo e invalidez na idade adulta;

Nunca nos devemos esquecer que os jovens de hoje, serão os adultos de amanhã. Devemos ter a consciência coletiva que o exercício regular, funciona como um fator de longevidade, autonomia e qualidade de vida a médio/longo prazo.



Bons treinos

Hugo Silva


Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre