sexta-feira, 30 de abril de 2021

“Que as mulheres não sejam criadas para serem criadas”...

 


“Que as mulheres não sejam criadas para serem criadas” - e eu acrescentaria: nem os homens para serem servidos 

    A frase e a ilustração são da Clara Não, feminista, ilustradora e escritora, é assim que se descreve no seu perfil do instagram onde conta com mais de 114 mil seguidores e tem muitas outras reflexões ilustradas que valem a pena uma visita atenta. Aqui fica mais uma: “não quero um cavalheiro, quero alguém que trate as pessoas com respeito, independentemente do género delas”.
 
   Num momento em que (felizmente) muito se fala da importância da saúde mental, deixo-vos alguns números e conclusões do Relatório Anual sobre a Igualdade de Género na UE de 2021 em que ficou claro que a pandemia exacerbou as desigualdades existentes entre mulheres e homens em quase todos os domínios da vida e por todo o mundo.

    -    Os Estados-Membros registraram um agravamento da violência doméstica, por exemplo com um aumento de 32% em França durante a primeira semana do confinamento, ou de 5 vezes mais casos na Irlanda durante a primeira quinzena (a APAV está neste momento a realizar um estudo e as conclusões sobre este assunto no nosso país serão publicadas em Maio).

    -    As mulheres estiveram na linha da frente na luta contra a pandemia: 76% dos trabalhadores do setor da saúde e da assistência social são mulheres, o que representou um aumento tanto do volume de trabalho, dos riscos sanitários e dos desafios em conciliar a vida profissional e familiar.

    -    As mulheres dedicaram, em média, 62 horas por semana a tomar conta de crianças (em contraste com 36 horas para os homens) e 23 horas por semana foram consagradas ao trabalho doméstico (em comparação com 15 horas para os homens).
 
    São vários os relatos que oiço de mulheres que têm de conciliar o inconciliável e que expressam a sua exaustão e por vezes outros sintomas. Nos jornais abundam manchetes como “Jovens mulheres estão a ser afectadas desproporcionalmentepela pandemia” ou “Covid-19: Pandemia faz descarrilar conquistas de igualdade” e as conclusões dos estudos relacionam este fenómeno com o facto de serem maioritariamente as mulheres a acumular papéis e tarefas.
 
   Eu pergunto-me porque sentem as mulheres um pouco por todo o mundo, e na generalidade dos casos, esta responsabilidade acrescida. Porque devem ser elas a cuidar da casa, dos filhos e por vezes de outros familiares dependentes que têm a cargo, a prestar assistência no ensino à distância das crianças, a prejudicar a produtividade e reduzir a progressão na carreira e o salário ou até a abdicar do trabalho ou de outros projetos em prol da família? Existe sem dúvida um conjunto de fatores que ajudam a responder a estas questões, mas hoje gostaria de falar apenas de um: o papel da educação diferenciada por género.
 
   As crianças são imersas e formadas pela linguagem, atitudes e ações das pessoas significativas que as rodeiam e é inegável que meninos e meninas continuam a ser tratados de forma distinta seja em casa, no espaço público ou na escola.

   A linguagem é fundamental na construção da identidade e também na construção das representações sociais de género. Por vezes são coisas pequenas que se dizem como “vais ajudar a mamã a fazer o jantar?” ou “vais ajudar o papá a lavar o carro?”(a primeira questão será, regra geral, colocada a uma menina e a segunda a um menino); os comentários e os olhares de reprovação quando não é a mãe a ir buscá-los à escola ou se chega atrasada, em contraste com o olhar benevolente se é o pai a atrasar-se ou a ter de sacrificar-se para ir buscar as crianças; a escolha dos brinquedos ou das atividades marcadamente femininas ou masculinas; um elogio que será focado numa qualidade relacionada com a beleza para as meninas e na força para os meninos.
 
   Eu sou mãe de um menino e fico deliciada ao ver que no parque ele tem interesse nas bicicletas e trotinetes dos outros independentemente da cor e feitio delas (sim, porque a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha) e assustada com os comentários de adultos relativamente a esse interesse: “mas olha que essa é cor-de-rosa, é de menina”. Por acaso não tem 2 rodas, um selim e um guiador? Fico igualmente deliciada ao observar a criatividade nos seus jogos de faz-de-conta que tanto envolvem cuidar de bonecas e realizar afazeres domésticos como dominar pistas de carros de corridas, e entristece-me pensar que um dia alguém lhe vai dizer que bonecas são para meninas.
 
   Se continuarmos a educar os homens para serem homens e as mulheres para serem mulheres, estamos a alimentar esta desigualdade e a certeza de que este tratamento diferenciado vai resultar em estatísticas como as que comecei por enumerar. Nas palavras de Nelson Mandela: A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.
 
  E se, em vez disso, educarmos as crianças para serem pessoas que respeitam outras pessoas, independentemente do género, idade, raça ou religião delas?


 
Drª Rafaela Lima
O Canto da Psicologia - Braga


terça-feira, 27 de abril de 2021

Exercício físico e o rendimento escolar...

 



As nossas crianças estão de volta à escola. Não raras vezes, com a falta de tempo e com o medo de contacto entre as crianças, os pais colocam o exercício físico para segundo plano. Em  casa e sem hipótese de “gastarem energias” pode tornar-se ainda mais difícil gerir ansiedades e défices de atenção no contexto escolar. A situação não é na melhor, mas face ao presente, é preciso compreensão e procurar alternativas de atividades que sejam seguras e ao mesmo tempo estimulantes para os mais pequenos. O exercício ao ar livre pode ser uma excelente alternativa e promovendo ao mesmo tempo a segurança.

É de reforçar, que o exercício é fundamental para a melhoria do estímulo cerebral, funcionamento cognitivo e para melhorar e otimizar a gestão do stress a ansiedade, decorrente em grande parte do confinamento.

A ciência já comprovou que o exercício físico regular promove melhoria do rendimento escolar, porque torna o cérebro mais rápido, ajuda a preservar as suas capacidades e permite aumentar a plasticidade do mesmo. Assim, em tempos que nos desafiam a todos, se queremos as nossas crianças mais atentas, mais concentradas e com maior capacidade de lidar com a responsabilidade e gestão emocional, devemos permitir que o exercício físico não saia das suas rotinas, coabitando lado a lado com os estudos.

 

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre



quinta-feira, 22 de abril de 2021

Liberdade Dentro da Cabeça...

 


Aproxima-se o dia 25 de Abril, o dia da Liberdade.

            O conceito de Liberdade dá para discorrer acerca de muito, dá para grandes debates a vários níveis mas, remetendo para esta área, dá também para pensarmos no que significa a Liberdade a nível pessoal e interno; o que é a liberdade na vida interna.

             Para nós (...) a saúde mental não consiste no indivíduo ser sólido assim como o granito ou rígido como uma estátua. A saúde mental consiste na pessoa ser capaz de se movimentar livremente dentro de si, e os movimentos de tristeza são tão importantes como os de alegria.(João dos Santos, 1988)

             Mas será assim tão simples entrarmos em contacto connosco próprios, compreendermos a tristeza e a alegria como parte integrante das nossas vivências? Sentirmos estes polos emocionais como saudáveis? Reconhecermo-nos nestes movimentos? Talvez nem sempre… mas certamente este será um dos objectivos da psicoterapia: tornarmo-nos capazes de nos movimentarmos livremente dentro de nós próprios! E eu diria que se somos capazes de o fazer dentro de nós também seremos capazes de o fazer fora de nós!

            No dicionário de Psicologia (Roland Doro e Françoise Parot, 2001), a definição do conceito de Psicoterapia engloba a ideia de liberdade: “...os critérios de cura variam segundo o processo psicoterapêutico e a teoria que o subentende: (...) liberdade interior e capacidade de ser feliz maiores, conhecimento mais fino de si, dos seus limites, das suas possibilidades.

          O processo psicoterapêutico é então mais do que a criação de uma narrativa, é a construção activa de uma nova forma de experiênciar o Eu com o Outro.

O terapeuta deve voltar-se para fora e estar emocionalmente disponível, o que significa ter os seus problemas internos suficientemente tranquilos para que eles intervenham o mínimo possível na sua relação com o paciente. Ao paciente é pedido que aja consoante ele próprio, que seja ele próprio, e que continue comprometido com as sessões de forma a que se construa este “monólogo a dois”.

             Posto isto, neste contexto faz-nos pensar que mais do que uma revolução é necessária a  coragem para investir na (re) descoberta de si e poder fazê-lo com um outro. Haja Liberdade!

 

Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 




quinta-feira, 15 de abril de 2021

Direitos humanos, éticos e saúde mental... O que é incapacidade funcional? #freebritney

 




 Quando se abordam os temas da saúde mental, várias questões vêm à tona, nomeadamente o que leva uma pessoa a ser considerada incapaz de ter autonomia e de ter liberdade de decisão, um dos princípios mais fundamentais dos direitos humanos, embora seja raro de acontecer, por vezes é decretada a incapacidade de alguém de forma a poder, garantir e salvaguardar a sua estabilidade e sobrevivência. Os casos mais comuns, em Portugal, relacionam-se com deficiências graves cognitivas (de mais de 60% de incapacidade), autismos, doenças de desenvolvimento, com ou sem doença mental grave, demências, ou outros estados mentais que efetivamente possam limitar a pessoa humana de tomar as melhores decisões para a sua própria vida. Inclusivamente pode-se avaliar que está em perigo a sua própria vida ou a dos outros devido à doença que altera a consciência da pessoa.

Neste sentido, normalmente membros da família, da pessoa incapaz, acabam por assumir essa responsabilidade, sendo que apoiam o familiar doente ou então, o mesmo é encaminhado para uma instituição de reabilitação, com equipas formadas para dar esse apoio continuado. Dado que é um direito fundamental humano, só mesmo em casos extremamente graves, de doença prolongada é que se decide sobre a incapacidade legal, de forma a proteger o paciente.

Agora imagine este cenário estar associado à famosa cantora Britney Spears, dos anos 2000, que iniciou a sua carreira na televisão ainda muito jovem, com apenas 5 anos, com o apoio dos pais e até incentivo. Esta realidade tem estado a causar a maior perplexidade no mundo, ainda hoje a cantora ganha milhões anuais, só pela sua marca, pelos sucessos das suas canções e performances. Contudo a realidade da cantora bilionária, é que está desde 2008, impedida de ter autonomia legal, ou seja, está a ser tutelada pelo próprio pai.

Recentemente, têm surgido vários movimentos contra esta medida decretada pelo tribunal nos Estados Unidos, os movimentos estão a ser desenvolvidos pelos fãs da mesma e são cada vez maiores, pelo que estão a gerar uma onda de indignação a nível mundial, no sentido de pressionar a Justiça Americana a dar independência jurídica à cantora.

Terá sido em 2008, após uma série de episódios e surtos, que revelaram a possível instabilidade mental da cantora, que seu pai, Jamie Spears, pediu a tutela temporária da filha e, desde então, ela não controla decisões relacionadas com a sua situação financeira ou com a sua carreira. Nos últimos doze anos, o seu pai e o seu advogado gerem não só os bens de Britney, como controlam a sua vida pessoal - podem limitar ou proibir as visitas, as entrevistas que dá e podem, supostamente, comunicar diretamente com os médicos e interferir no tratamento da cantora. A medida decretada pelo tribunal que devia ser temporária, está efetivamente a ser considerada final.

O choque desta medida, está relacionado com o facto de serem decisões que, habitualmente, são raras e apenas associadas a casos de gravidade extrema, com prova de incapacidade funcional relacionados, com demências, atrasos cognitivos e doenças mentais graves do ponto de vista estrutural, que impossibilitam a mínima funcionalidade para a sobrevivência do individuo.  

Uma das questões interessantes sobre esta matéria é a relativa a sua funcionalidade, estamos perante uma cantora que obteve enorme sucesso, muito fruto do seu próprio trabalho como os inúmeros documentários e provas factuais, que assim o revelaram ao longo dos anos, tal é o escrutínio destas figuras públicas. Então como se explica que uma cantora de sucesso que organizava e geria os seus próprios eventos, com as coreografias e com todo o processo que envolvia a sua carreira, tenha sido considerada incapaz de forma definitiva? Que o tenha sido em 2008, quando estava em crise psicótica (tentou agredir paparazzi e danificou um carro dos mesmos), parece que pode ter sido protetor, este apoio nessa altura. Contudo, desde então que ela estabilizou, já depois da crise, até realizou alguns concertos com milhares de pessoas, em Las Vegas o que gerou volumosas receitas de milhões de dólares, o que revela ter adquirido funcionalidade e alguma normalidade de forma a poder atuar, brilhantemente, em frente do público. Porém, curiosamente, não pode usufruir, nem pode aproveitar a sua riqueza financeira, fruto do seu trabalho, pelo que decidiu acabar com estas performances de forma a poder recuperar a sua independência.

Assim por motivos legais, as suas incapacidades mantêm-se, o que leva a uma serie de questões éticas, sobre o papel da avaliação médica e psicológica e do seu impacto, nos tribunais e o mais importante na vida dos sujeitos.

A àrea da saúde mental, assim como, todos os seus intervenientes especialistas, têm a missão ética de assegurar o bem-estar e promover, invariavelmente, a autonomia do paciente, aliás o grande objetivo terapêutico, de qualquer profissional de saúde mental é de estimular a independência do individuo, em determinados casos em que a doença mental está associada a deficit cognitivo, está possibilidade, está substancialmente reduzida. Contudo, quando existem competências cognitivas as possibilidades de melhoria dos pacientes são maiores. Terá realmente a cantora incapacidade funcional, como possivelmente os relatórios médicos e psicológicos referem?

 Além destas questões de ordem jurídica, médica e psicológica, existe outra questão que talvez, seja a mais importante neste caso público, que está relacionado com o papel da família. É importante sublinhar que foi o pai da cantora que pediu a tutela nos tribunais, logo quando a sua filha entrou em crise naquele ano, a mesma foi avaliada psicologicamente e os tribunais, assim decidiram com base nesses relatórios.

 Os pais são promotores de saúde mental nos filhos, ou pelo contrário, parece ser este o caso. Segundo a própria cantora houve sempre uma relação conflituosa entre ambos, o pai é descrito como sendo, muito controlador da sua carreira e da sua vida em geral.

De facto, quando a família não estimula a auto estima e a independência dos seus filhos, estes se desenvolvem com a noção de que não são bons suficientes, de que não são capazes. Se os pais consideram os filhos incapazes e os tratam, dessa forma, o mais certo é eles sucumbirem e, assim, agirem de acordo com estas expectativas. O amor parental, é fundador das bases psíquicas do ser humano, vai marcar o sentimento de que é amado e apreciado, a forma como tratamos os nossos filhos e se acreditamos ou não nas suas capacidades, de serem livres e capazes, vai influenciar essa mesma autoavaliação. Os pais narcísicos, não suportam que os filhos possam brilhar mais do que eles e possam ter asas para voar livremente. A criança quando se está a desenvolver exige muito dos pais, da sua atenção, precisa de se certificar que é amado e respeitado. Se assim for vai crescer com amor-próprio e confiante das suas capacidades. Todos os comportamentos, ações, e atribuições de carácter, persistentes e frequentes, dos pais para os filhos poderão ter consequências na construção de identidade das crianças e, posteriormente, no futuro adulto. O ser humano vai querer sempre se adequar às expectativas dos pais quer sejam positivas (conscientes) quer sejam negativas (inconscientes). Neste aspeto a equipa de médicos e psicólogos é fundamental, para trabalhar estes modelos com o paciente, promovendo uma nova relação. A situação familiar deve ser, sem duvida, a pior provação da Britney, a de ter uma família, que lhe retirou a liberdade e a possibilidade de ser uma adulta livre e cheia de vida.

 

Mafalda Leite Borges

Canto da Psicologia




quinta-feira, 8 de abril de 2021

Desconfinar a mente e as emoções...

 



“Desconfinar” é a palavra do dia.

Há um ano que acompanhamos, mais ou menos atentamente, mas transversalmente, a evolução das tendências nos múltiplos diagramas, gráficos, números e índices que nos apresentam, pendurados das comunicações oficiais sobre as implicações na Vida. Tornámo-nos especialistas em epidemiologia. Como quebra gelo, não falamos do tempo, falamos da pandemia, deste céu que nos caiu em cima, e do desconhecido, “para o que estaremos ainda guardados” diz a expressão popular.

Para nos protegermos, fomos forçados a confinarmo-nos. Sentimo-lo como uma imposição externa mas também construímos nós próprios barreiras, alicerçadas no medo, na auto-proteção, no dever filial ou cívico. Defendemo-nos. Com os recursos que temos, pessoais, familiares, sociais ou materiais, procuramos reagir, cada um ao seu estilo.

Sentimo-nos, contudo, limitados, constrangidos. Nem sempre temos uma narrativa para este conflito entre querer viver, protegendo-se do contágio, e querer viver, sem estes limites criados para nos defender. Por vezes é um discurso mudo que sentimos e que se desenrola dentro de nós, uma sensação de incompletude ou mesmo de mal-estar. Uma falta de ânimo ou ansiedade miudinha. Por vezes externalizamos, discutimos com quem está à nossa volta, com o teclado do computador ou a máquina do café. E voltamos a defender-nos.

O cenário deste diálogo é o da pandemia COVID-19. No entanto, esta vivência de constrangimento, de possibilidades limitadas, é comum a muitos de nós, ainda que a localização e a intensidade da dor sejam únicas. 

O plano de desconfinamento vem-nos trazer esperança, vem-nos alargar o horizonte de possibilidades. A rua, as escolas, os parques, as esplanadas, as livrarias, os ginásios, os museus..as pessoas... Elas estão aí e somos livres para as usar. Bem a propósito, no abril que simbolicamente associamos à liberdade de um povo, o nosso.

Dizia Frederico de Brito “Julguei ser um sonho/Mas foi realidade /E às vezes suponho/ Que não foi verdade! / Mas se alguém disser / “Não há Liberdade!”/ Eu posso morrer /Mas não é verdade!”.

E, no entanto, a liberdade, essa palavra grande que nos enche a alma de expetativas, nem sempre é sentida. Na minha perspetiva, a psicoterapia é, também, um caminho de desconfinamento, da nossa mente, das nossas emoções. É um caminho especial, porque se faz a dois. Exploram-se as restrições hétero e auto impostas, umas conhecidas de longa data, outras nem tanto. Descobrem-se os gestos usados uma e outra vez, cujo uso se fez hábito já sem sentido ou benefício. Acima de tudo, descobrem-se novos caminhos, novas possibilidades, embaladas pela confiança e pelo sentido de liberdade para as percorrer. Somos inspirados, paciente e terapeuta.

Fazem parte do nosso imaginário popular várias letras do António Variações. Recordo esta:

 Quero é viver/Amanhã, espero sempre o amanhã/ E acredito que será, mais um prazer/A Vida, é sempre uma curiosidade, que me desperta com a idade, interessa-me o que está p’ra vir/E a vida, em mim é sempre uma certeza/que nasce da minha riqueza, do meu prazer em descobrir/Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir” lindamente interpretada pelos Humanos .

Porque o potencial para sermos mais livres está em todos nós. Por vezes precisamos apenas de companhia no caminho.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia



terça-feira, 6 de abril de 2021

Exercício físico online...

 


Já abordei esta temática em textos anteriores, mas o tema continua atual. Numa altura em que distância social é imperativa,  procurar estratégias para  pessoas que pretendem continuar activas sem ir ao ginásio ou sair de casa é bastante importante.

Um estudo já com alguns anos, pretendeu testar os efeitos do treino intervalado de alta intensidade (HIIT) em casa e sem material. O estudo consistia no seguinte: dividiram mulheres em dois grupos: de um lado um treino normal de 30 minutos de caminhada, mais treino de musculação, do outro, treino HIIT feito em casa com 10 séries de 1 minuto, subidas num degrau e agachamentos com o peso corporal, com 1 minuto de intervalo. Tanto o treino tradicional, assim como o HIIT foram executados 3x por semana, durante três meses.

 No fim, o resultado dos dois grupos foi muito semelhante, havendo melhorias ao nível da performance e da massa muscular, entre outros fatores cardio-metabólicos.

Este estudo, mostra que em tempos de distanciamento, as possibilidades vão para além do convencional. Ao aluno, abre novas perspetivas, podendo treinar com pouco ou nenhum material. Aos profissional de exercício físico,  através das tecnologias,  cabe utilizar o treino online como forma de chegar ao domicílio dos alunos, procurando sempre utilizar as ferramentas adequadas.

 

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre

 

 


quinta-feira, 1 de abril de 2021

A esperança no futuro...

 



O ano começou com esperança, a vacinação para a COVID-19. Esperança num regresso à normalidade, esperança naquele reencontro com família e amigos, naqueles abraços e convivios. Esperança na liberdade de cada um.

Mas este processo é lento e moroso. Continuamos a deparar-nos com uma pandemia mundial que nos levou, mais do que uma vez, ao confinamento, ao teletrabalho, à escola a partir de casa. Mas mais impactante é o afastamento imposto dos nossos, família e amigos. Casais lidam com a gestão dos filhos e do próprio casal. Crianças privadas da brincadeira com os amigos e da rotina da escola. Adolescentes que não podem conviver uns com os outros.

Somos confrontados com preocupações que geram ou aumentam ansiedades e incertezas quanto ao futuro. O que nos trará o futuro?

Ninguém consegue responder com certeza a esta questão, mas há que manter a esperança num futuro melhor. E é mesmo a esperança que nos mantém positivos, que nos impulsiona a continuar, a ultrapassar as dificuldades que nos surgem. É ela que nos move e nos mantém vivos.

De acordo com Snyder, que nos trouxe a Teoria da Esperança, esta é um estado cognitivo positivo assente na expetativa de sucesso perante a determinação em alcançar objetivos e delinear planos para os conseguir.

A esperança é uma emoção positiva que ocorre geralmente quando somos deparados com circunstâncias negativas ou incertas. Como o que vivemos atualmente!

É um fator cognitivo mas tem uma qualidade afetiva única que nos dá motivação para procurar resultados futuros. É um estado que mantemos intencionalmente: decidimos ter esperança, muitas vezes, por medo das consequências reais que podem ocorrer caso não tenhamos esperança. Podemos ter esperança em relação ao que quisermos, em relação ao mundo, ao trabalho, à família e ao amor. Podemos ter esperança numa mudança em nós próprios!

Quem tem esperança, tem também o desejo e a determinação de que os seus objetivos serão alcançados, e tem ainda uma série de estratégias (e a capacidade para as procurar e encontrar) para atingir esses objetivos. A esperança permite-nos olhar os obstáculos com a confiança de quem vai conseguir ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à volta, a procurar formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja, a esperança não corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a determinado lugar, mas também às diferentes formas para lá chegar.

Para além de nos permitir evoluir, a esperança ajuda-nos a sobreviver. O instinto de sobrevivência no ser humano é de uma força quase inesgotável. No entanto, em oposição à esperança existem pessoas que perderam a vontade de viver. Várias pesquisas nesta área mostram que a desesperança está mais associada ao suicídio do que a depressão.

Na área da saúde, estudos demonstram que a esperança tem influência na eliminação ou redução de problemas físicos e psicológicos. As pesquisas de Snyder comprovam que a esperança ajuda a pessoa a reagir positivamente no caso de doenças e lesões. Também toleram melhor a dor. Têm maior capacidade e habilidade adaptativa para resolver problemas.

A esperança é a última a morrer… e se precisar de uma ajuda profissional para voltar a acreditar e a ter esperança no futuro, não hesite em contactar O Canto da Psicologia. Estamos cá para lhe dar Esperança!

 

Dra. Irina Morgado

O Canto da Psicologia