quarta-feira, 3 de abril de 2013



Quando olho, vejo-me, logo, existo!
A interacção entre a díade mãe-bebé.

Se na última rubrica lhe dizíamos Fui Amado, logo, Existo!, como forma de expressão de uma necessidade universal de ser amado para que efectivamente seja possível aprender a amar, hoje, em continuidade, voamos consigo até ao momento em que tudo acontece. Referimo-nos, pois, aos primórdios da existência, que se esgrime no balanceado jogo entre a díade mãe-bebé - porque é dessa troca comunicacional que se erguem os pilares estruturais da personalidade, porque a figura materna constitui a base do equilíbrio interno na construção do psiquismo.
É nesse embalo que germina a interioridade emocional da criança e a sua saúde mental. É nesse movimento, na sua continuidade e na sua constância, que se organiza o mundo interno, sendo a partir daí que muito do que somos fica arquitectado. Sabemos, por isso, que a interrupção dos cuidados maternais ou a pobreza dos mesmos abre fissuras que podem manifestar-se de imediato ou apenas em fases evolutivas posteriores, sob as mais diversas formas.
Não lhe falamos de mães perfeitas, mas de mães suficientemente boas: mães que se sintonizam com o seu bebé, interagindo, brincando e respondendo às suas angústias, num movimento distanciador entre o que são as necessidades e os desejos do bebé e as suas próprias vontades, respeitando-o enquanto ser autónomo e separado de si. E precisamente por isso falamos-lhe de “Mães suficientemente boas”, por aqui residir um espaço diferenciador entre os extremos não desejados e de mau prognóstico para o desenvolvimento sadio (mães que proporcionam ao bebé uma vivência abandónica ou, no oposto, mães que trespassam a relação com o bebé para uma dimensão intrusiva, de confusão entre os espaços). Serão, então, mães capazes de se dedicar a compreender o seu bebé, por forma a que este possa organizar o pensamento, a fantasia e o próprio sonho. Mas serão também mães capazes de reconhecer que, não conseguindo, precisam de ajuda, que estando bloqueadas, são capazes de mobilizar esforços no sentido de que outros reparem as suas carências e as dos seus filhos.
E, eis que! Vendo o rosto da mãe, o bebé se vê a si próprio. É a partir do que ali encontra espelhado, que se reconhece, a si e à sua existência. É então que, Quando Olho, Vejo-me, logo, Existo!

O Canto da Psicologia,
Drª Joana Alves Ferreira

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