Quando olho, vejo-me, logo, existo!
A interacção entre a díade mãe-bebé.
Se na última rubrica lhe dizíamos
Fui Amado, logo, Existo!, como forma de expressão de uma necessidade universal
de ser amado para que efectivamente seja possível aprender a amar, hoje, em
continuidade, voamos consigo até ao momento em que tudo acontece. Referimo-nos,
pois, aos primórdios da existência, que se esgrime no balanceado jogo entre a
díade mãe-bebé - porque é dessa troca comunicacional que se erguem os pilares
estruturais da personalidade, porque a figura materna constitui a base do
equilíbrio interno na construção do psiquismo.
É nesse embalo que germina a
interioridade emocional da criança e a sua saúde mental. É nesse movimento, na
sua continuidade e na sua constância, que se organiza o mundo interno, sendo a
partir daí que muito do que somos fica arquitectado. Sabemos, por isso, que a
interrupção dos cuidados maternais ou a pobreza dos mesmos abre fissuras que
podem manifestar-se de imediato ou apenas em fases evolutivas posteriores, sob
as mais diversas formas.
Não lhe falamos de mães
perfeitas, mas de mães suficientemente boas: mães que se sintonizam com o seu
bebé, interagindo, brincando e respondendo às suas angústias, num movimento
distanciador entre o que são as necessidades e os desejos do bebé e as suas
próprias vontades, respeitando-o enquanto ser autónomo e separado de si. E
precisamente por isso falamos-lhe de “Mães suficientemente boas”, por aqui
residir um espaço diferenciador entre os extremos não desejados e de mau
prognóstico para o desenvolvimento sadio (mães que proporcionam ao bebé uma
vivência abandónica ou, no oposto, mães que trespassam a relação com o bebé
para uma dimensão intrusiva, de confusão entre os espaços). Serão, então, mães
capazes de se dedicar a compreender o seu bebé, por forma a que este possa
organizar o pensamento, a fantasia e o próprio sonho. Mas serão também mães
capazes de reconhecer que, não conseguindo, precisam de ajuda, que estando
bloqueadas, são capazes de mobilizar esforços no sentido de que outros reparem
as suas carências e as dos seus filhos.
E, eis que! Vendo o rosto da mãe,
o bebé se vê a si próprio. É a partir do que ali encontra espelhado, que se
reconhece, a si e à sua existência. É então que, Quando Olho, Vejo-me, logo,
Existo!
O Canto da Psicologia,
Drª Joana Alves Ferreira
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