quarta-feira, 3 de abril de 2013




Crianças com a Cabeça na Lua!
(Hiperactividade e Deficit de Atenção)

No dia-a-dia de uma sala de aula, é frequente depararmo-nos com alunos agitados, que arrancam os brinquedos aos colegas, enquanto andam de um lado para outro, impossibilitados de permanecer sentados no mesmo lugar. Não obstante, raras são as vezes em que estes alunos conseguem terminar as tarefas que lhes são solicitadas, reagindo com agressividade. Mas, então, será que falamos de indisciplina?
Este que poderá ser um quadro frequentemente confundido com insubordinação, é característico de um distúrbio de atenção que atinge 5% das crianças e adolescentes em todo o mundo. Falamos-lhe, pois, da hiperactividade. Fruto da profunda transformação do paradigma social e cultural em que nos inserimos, esta é uma problemática do desenvolvimento infantil, cuja expressão tem vindo a ser manifestamente aumentada, exigindo respostas por parta das famílias, das escolas e dos técnicos de saúde mental.
Enquanto desafio que se coloca a todo o sistema familiar, a hiperactividade deve ser entendida sob vários prismas de leitura. Por um lado, importa considerar que para cada sintoma há uma causa, pelo que intervir no sintoma não é prognóstico de resolução. Manifestações como agitação, impulsividade e falta de atenção dão nos conta de um Ego que não está a exercer a função de inibição necessária, não se regendo pelo próprio princípio da realidade. Isto significa que, enquanto sintoma, a hiperactividade é representativa de uma falência na vida emocional da criança que está, naturalmente, associada ao próprio sistema familiar. A intervenção exige, assim, pensar o ponto de ancoramento da perturbação. Efectivamente, pensar a criança hiperactiva pressupõe, sempre, um modelo de intervenção estruturado, que tenha em consideração os palcos nos quais a criança se move (falamos, sobretudo, da família e  da escola). Considerando a conjuntura actual, onde a ausência de modelos organizadores marca transversalmente toda a sociedade, num trajecto cujas regras parecem padecer de uma infindável labilidade, torna-se imperioso relembrar às famílias o seu papel e a importância da forma como se colocam na relação com a criança para o seu equilíbrio emocional. Se a sintomatologia associada à hiperactividade é o veículo de comunicação da criança para fazer chegar ao mundo adulto o quanto se sente perdida com o excesso de informação a que fica diariamente submetida, por ainda não ter as condições psíquicas para processar e filtrar tudo aquilo que vê, ouve e sente sem entender, então, é necessário a existência de um “outro” adulto que possa ajudá-la a processar e a organizar toda a gama de excitação que invade o seu psiquismo diariamente.

Na verdade, a questão que se coloca está além das concepções neurológicas que se tecem a respeito da hiperactividade, residindo, pelo contrário, na imprescindibilidade de  considerar o sujeito psíquico, cujo crescimento interno está em suspenso, pela resistência que tais obstáculos exercem sobre a continuidade. Este entendimento é aquele que nos parece tornar possível o efectivo resgate da pessoa, colocando-a novamente em cena e possibilitando-lhe que se encarregue daquilo que é seu – o que não sucede quando a resolução tem como tónica a medicação. Na demanda de resposta simplificadas (mas, sabemo-lo, insuficientes), coloca-se o sujeito numa posição de impotência e passividade, impedindo-o de aprender a resolver conflitos a um nível intrapsíquico.

O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira

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