quarta-feira, 3 de abril de 2013




Desempoeirando o Divórcio dos Pais...

Não é raro encontrar adultos cuja vivência de separação dos pais, na infância ou na adolescência, assinalou profundas fissuras, que tardiamente aparecem (aos olhos do próprio, daqueles que o rodeiam ou, quem sabe, por entre as paredes de um consultório de psicoterapia), sob a forma de bloqueio relacional.
Num país onde as taxas de divórcio são crescentes, mais do que desconstruir o novelo em que se vão tecendo tais cenários, importa considerar o impacto que a separação dos pais tem no mundo interno da criança. Não pretendemos, porém, assumir uma leitura idealizada, pois que sabemos, que em muitas circunstâncias, a possibilidade de separação é, até, reparadora da saúde mental dos protagonistas e dos mais pequenos, tantas vezes oprimidos pelo vendaval parental. Por outro lado, seria igualmente redutor pensar que o divórcio encontra equivalente directo em trauma (expressão que é, por vezes, levianamente utilizada, sem que percebamos o que efectivamente estamos a classificar).
Não haverá uma fórmula que delimite quais as consequências emocionais da separação dos pais ou que eventuais dificuldades psicológicas emergirão. Há, num outro sentido, protagonistas que preservam as suas características individuais e particulares, que em muito contribuem para a resolução de um momento de ruptura, como sucede num processo de separação. Assim, tomando como verdade que qualquer situação de contenda conjugal tem repercussões de maior ou menor gravidade nos filhos, o potencial de resolução do conflito interno dependerá, sempre, da estrutura que serve de base à organização psíquica da criança, bem como da forma como a relação com aqueles pais se encontra estruturada.
Em todo o caso, a vivência de um sentimento de culpa é irremediavelmente inevitável, sendo a partir do mesmo que o aparelho defensivo da criança se mobiliza para a resolução do conflito que aquela fonte de tensão despoleta. A forma como a culpabilidade é gerida internamente depende, como supracitado, da estruturação interna até aí edificada. É, todavia, possível identificar uma constelação de sintomas relativamente frequentes, como tristeza, apatia, inibição, insucesso escolar, somatizações (enurese, tiques, etc.), os quais, encetando o sofrimento psíquico, constituem os pilares para a depressão infantil. Na adolescência, quando não é de todo possível pensar e integrar a culpa, irrompem comportamentos agidos ou pré-delinquentes.
Em circunstâncias como as descritas, em que uma separação é representativa de uma vivência dolorosa e inibidora do crescimento interno, importa intervir, num trabalho que deve acontecer em articulação com a criança e os pais, envolvidos por um bem maior: a saúde mental do filho.

O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira 

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