quinta-feira, 13 de junho de 2019

Um paciente, um espaço terapêutico...




Mãe
“Não viste o buraco
Não tiveste tempo
 P´ra cuidar, p´ra apreciar, p´ra amar
Não tiveste tempo,
não arranjaste tempo
p´ra cuidar, p´ra apreciar, pra amar
Alienada da verdade
Não descobriste um momento
Não arranjaste um momento
Para aquilo que criaste
Não me deste intimidade
Não me deste estabilidade
Não me quiseste conhecer
Não tiveste tempo
Agora não tens mais esse tempo
Agora não consegues pedir mais tempo
Agora não dá p´ra voltar
Agora não podes mais voltar lá
Agora não podes dizer-te desiludida
Agora não podes dizer-te desiludida
Não quero a injustiça do teu sentimento
Nem as magoas que tu própria criaste
Não quero a tua moralidade a gritar-me
Não quero as tuas tristezas a afundar-me
Não podes voltar ao tempo onde não tiveste tempo
Não podes voltar ao tempo onde não arranjaste tempo
Por isso não me grites pela tua própria frustração
Por isso não me culpes pela tua falta de tempo
Por isso não me digas que sou aquilo
enquanto eu sou mais que isso
Não me diminuas por teres te diminuído.
Não precisas de voltar
Podes sempre tentar conhecer-me agora
Com o tempo que te resta
Podes sempre mudar o que ainda te resta
Ainda podes mudar o que te resta.

O conhecer-me fez me crer em algo mais
Descobrindo ideias e crenças falsas pelos demais
Abri uma porta desconhecida pela multidão que em mim vivia
E vi que em mim a luz sorria”

Poema de Inês R.






Quem nunca pensou ir à caixa das memórias e permitir que elas pudessem simplesmente fluir? Certamente, em alguns momentos, todos nós pensamos nisso… ou aconteceram-nos coisas, reais ou simbólicas, que nos fizeram ir lá espreitar… no entanto, há momentos, ou experiências demasiado dolorosas para serem vistas ou vividas. Não vemos só as memórias, sentimos a dor, sentimos a frustração, sentimos a mágoa… podemos até sentirmo-nos pequenos novamente, indefesos… ou podemos ficar simplesmente paralisados pelo medo da invasão ou do abandono.Aos poucos tem-se permitido mergulhar, numa nova relação, e sentir que poderá não estar sozinha e não se afogar no processo. Existiram e existem ainda momentos de dor, momentos de confusão, momentos em que nada parece fazer sentido, de zanga e abandono, mas podem já existir momentos em que é possível resignificar estas relações lá de trás, transformar estas relações não nas relações ideais mas nas relações possíveis.
Uma paciente, um espaço terapêutico, onde inicialmente pôde existir uma unidade existencial de relação, onde não houve uma diferenciação entre eu, não-eu… até poder existir, até podermos começar a caminhar como dois diferenciados, onde podemos pensar um caminho para a independência, para a re-elaboração, para a criação de um, ainda pequeno, mas possível, espaço de perdão e de integração. 





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