quinta-feira, 6 de junho de 2019

Burnout e outras questões...








Muito se tem falado sobre burnout, agora que a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu este síndrome na Classificação Internacional de Doença, classificando-o como um distúrbio ocupacional, pertencente à categoria de problemas relacionados com o emprego e desemprego.

Designado como síndrome de esgotamento profissional, o burnout advém do stress crónico no local de trabalho e não deve ser utilizado para descrever experiências noutras áreas da vida que não o contexto profissional. Caracteriza-se de acordo com três dimensões: sensações de esgotamento de energia ou exaustão; aumento da distância mental do emprego ou sentimentos de negativismo ou de cinismo relativamente ao emprego; reduzida eficácia profissional. O reconhecimento deste síndrome pela OMS reveste-se de elevada pertinência e contribui significativa e positivamente para o cuidado com este aspeto da saúde mental, que, como tantos outros, é muitas vezes menosprezado e tem efeitos nefastos no bem estar físico e psicológico.

Não obstante, parece também muito pertinente abordar questões psicológicas associadas ao bem-estar no trabalho que podem eventualmente ser confundidas com o síndrome ou erradamente atribuídas a uma qualquer situação laboral adversa. Uma vez que o contexto profissional absorve tanto tempo da vida das pessoas e é onde diversas relações se estabelecem, constitui um terreno fértil para a expressão das vivências internas e experiências emocionais de todos que pertencem a esse contexto. Assume-se portanto como uma parte muito relevante para a vida das pessoas e o seu bem-estar. Por tudo isto muitas vezes a fronteira que separa o que é do foro pessoal do profissional torna-se pouco clara. É necessário estarmos atentos a outros fatores que possam estar implicados ao mal estar que se sente no trabalho.

No consultório são vários os casos com que nos deparamos. Como por exemplo, quando as pessoas deslocam massivamente determinadas necessidades pessoais e afetivas para o contexto do trabalho, seja com colegas, chefias ou clientes. Necessidades como o reconhecimento do outro ou o investimento narcísico pelo outro, quero dizer, o reconhecimento da realização correta de determinadas tarefas e das suas qualidades e competências mas também como algo que preenche um sentido de existir ao olhar do outro... algo que terá faltado nas relações pessoais e significativas. Algo que provoca um intenso sofrimento psicológico e que faz reunir doses substanciais de zanga e frustação, também estas deslocadas para o contexto profissional. Um deslocamento que está associado à fronteira algo frágil entre realidade interna e externa. Ou noutros casos, quando as queixas em relação ao trabalho aparecem mais imersas com outras questões do foro pessoal e intímo e é possível constatar que, à medida que essas questões são trabalhadas, a forma como as pessoas se situam em relação ao trabalho se vai transformando também e começam a sentir mais bem-estar no contexto profissional.

O que pretendo aqui é chamar à atenção para a necessidade de abordar e trabalhar sobre o funcionamento e situações anteriores à situação laboral, perceber que para além do stress no trabalho há outros fatores que impregnam este contexto de questões importantes e que precisam de ser olhadas e trabalhadas por si próprias. Falo da necessidade de diferenciar o que é imposto e provocado pela realidade externa do contexto laboral do que é do foro pessoal e que atua ou se revela nesse contexto, misturando-se com ele.







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