quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Corpo e mente: mais sobre as suas estreitas ligações...







Hoje em dia é largamente aceite, tanto por profissionais de diversas áreas como na população em geral, que o corpo e a mente funcionam como um todo, intimamente interligados. De facto, todos nos apercebemos da forma como o que experienciamos e sentimos tem uma expressão corporal, através de algum tipo de sensação, algo que se passa no corpo. Por vezes é o estômago a ressintir o nervosismo, um aperto no peito a denunciar a vivência de alguma angústia ou as pernas a perderem a força quando infelizmente chega alguma notícia grave. António Damásio diz, no “Livro da Consciência”, que “o mundo das emoções é, sobretudo, um mundo de ações levadas a cabo no nosso corpo, desde as expressões faciais e posições do corpo até às mudanças nas vísceras e meio interno”. Depois, será processado a nível mental, de acordo com a estrutura cerebral, a personalidade e o funcionamento mental de cada um.

A Psicossomática debruça-se sobre a forma como o factor psicológico está implicado na doença orgânica. Neste campo não há dúvida que a dimensão relacional e o biológico são complementares, influenciando-se mutuamente. Sami-Ali, psicanalista dedicado à disciplina da Psicossomática, defende que as pessoas que têm um mundo imaginário mais rico estão mais protegidas de doenças orgânicas. Quer isto dizer que, pessoas que possuem melhor capacidade de pensar, de representar mentalmente e refletir sobre diferentes circunstâncias externas e/ou internas potencialmente perturbadoras do seu estado mental e físico, são mais capazes de elaborá-las e reagir adaptativamente às mesmas. Portanto, o que é passível de ser “digerido” mentalmente não necessita encontrar no corpo um escape, uma forma de expressão.

Recentemente, num sentido diferente e complementar surgiram descobertas das áreas da medicina e psiquiatria que vieram aumentar a compreensão sobre a relação entre corpo e mente. A comunidade científica parece unânime na afirmação de que o intestino funciona como um segundo cérebro. Percebe-se agora que não é só o cérebro a afetar o que passa a nível intestinal mas o contrário também acontece, o sistema nervoso entérico (conjunto de neurónios presente no sistema digestivo) também afeta o funcionamento cerebral, denominadamente a nível das emoções. Trata-se de uma comunicação bidireccional entre cérebro e intestino, podendo a informação ter origem tanto a nível intestinal como a nível do cérebro.

As bactérias existentes no intestino (flora intestinal) constituem um fator determinante no funcionamento do intestino e na forma como este comunica com o cérebro, sendo que atualmente é reconhecido o papel destas em doenças psiquiátricas. O psiquiatra António Sampaio esclarece que muitas das consultas de gastroenterologia são encaminhadas para psiquiatria. Explica também como o intestino pode afetar o bem estar psicológico, dando o exemplo da permeabilidade da membrana intestinal, que pode ser causada pelo excesso de toma de antibióticos. A permeabilidade da membrana permite que passem corpos estranhos para a corrente sanguínea que provocam reações inflamatórias e que por sua vez podem provocar redução na produção da serotonina (neurotransmissor ligado à depressão e ansiedade) ou no cortisol (hormona ligada ao stress).

Estes novos esclarecimentos alertam-nos e reforçam a necessidade do cuidado integral que a pessoa deve ter. A nível psicoterapêutico pode-se fazer bastante neste sentido, uma vez neste contexto é possível abordar os temas que estão desviados da consciência de uma forma contentora e transformadora, por consequência retirando ao corpo o peso dessas coisas não pensadas. Por outro lado fornece condições para a restituição da auto-estima, que fomenta o cuidado com o próprio. Sigamos então a confirmar e aprofundar a sabedoria do antigo provérbio “mente sã em corpo são”...



Drª. Filipa Rosário


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