Podia
escolher, exclusivamente, escrever sobre a beleza do Natal, as luzes, as
canções, a alegria da partilha, a gratidão e o amor que, sem dúvida,
caracterizam esta época festiva. Mas o fim do ano carrega nele, igualmente, uma
série de balanços, sendo que podem ser vividos por uns tranquilamente, mas por
outros, gera ansiedade consoante, a estrutura de personalidade, assim como, os
acontecimentos, experiências que foram ou estão a ser vividas.
Nem
sempre o Natal é um conto de fadas, o natal pode enaltecer a solidão mais do
que o sentimento de união, partilha. As saudades, de quem já não está, do que
foi, as lembranças e a nostalgia, traduzem e identificam estas épocas. Reflexões sobre o que concretizamos emergem. O
que desejamos para o ano que está a terminar, foi realizado? Conseguimos
avançar, evoluir? Parece que há uma certa exigência, mais do que nunca, para
fazer mais e melhor e ter “obrigatoriamente “de atingir resultados, ter sucesso,
vencer, mas a vida, por vezes, não é só feita de celebrações permanentes, existem
alturas em que somos colocados, em situações delicadas e, geralmente, não
estamos à espera do que nos pode acontecer, neste momento, instalasse a
frustração e a desilusão. Esta pressão que, de certa forma, foi incutida pela sociedade,
de estarmos sempre bem, no nosso melhor, é impossível e, até doentio estarmos “sempre
bem”, há alturas difíceis, desafiantes, existem momentos duros, nem sempre tudo
é um mar de rosas. Viver é uma soma de desafios, superações, algumas conquistas
e bons momentos. De facto, como
encaramos esses períodos difíceis, que às vezes, duram meses e anos, vai fazer
toda a diferença.
Assim sendo qual é a chave? Como devemos superar
os momentos duros, como lidar com essas emoções de ansiedade, medo, tristeza,
quando estas se tornam avassaladoras? Só existe uma forma é aceitar, porém essa
aceitação não vai ser imediata, uma vez que a fase do luto assim obriga, a
processar no seu devido tempo, mas sem dúvida que ignorar, negar, as nossas
emoções, não é de todo o caminho certo e, apenas leva a mais dificuldades. Ter
consciência e distinguir, o principio da realidade, da fantasia, compreender pensamentos
não são verdades, pode ajudar no processo. A psicoterapia tem aqui um papel
fundamental para poder catalisar, todo este caminho de orientação e de auto-regulação.
É
muito comum socialmente ouvirmos: “não chores, controla-te, não tenhas medo, não
fiques assim”, mas isto só acontece uma vez que, a maioria das pessoas aprende,
desde cedo a rejeitar as emoções mais intensas e, esse ignorar, só piora a
situação. Temos de aceitar que somos humanos, vulneráveis, sim, por vezes caímos,
estamos tristes, zangados, frustrados, faz parte do nosso constante processo de
crescimento. Embora na altura, em que vivemos os momentos difíceis, seja
difícil de aceitar, vamos acabar por aprender e ganhar maior sabedoria sobre o
que nos rodeia.
A vida irá nos colocar à prova, qual é o
tamanho do seu amor próprio? Qual é o seu auto diálogo, amoroso ou critico? O
nosso lado mais sombrio, deve ser integrado e amado, igualmente, tal como todas
as nossas outras facetas, não está errado sentir zanga, tristeza, ansiedade,
faz parte, é natural, não diz nada sobre o que somos, as emoções não são boas
nem más. As emoções, na realidade, são todas boas, necessárias e fundamentais
para o osso equilíbrio, homeostático, psíquico, somente a intensidade com que
são alimentadas, pelos nossos pensamentos é que pode gerar perturbações. Assim
sendo até felicidade a mais, pode ser negativa, uma vez que leva à ingenuidade,
ausência de prudência.
Deste
modo permita-se, a ser o que tiver de ser hoje, sem ter de refletir no que
podia ter atingido mais, às vezes, só estar presente e conseguir desfrutar do
agora, é já extraordinário, conseguir, apenas, aproveitar os pequenos momentos,
pequenas coisas do dia a dia, já é fazer imenso. Até só estar agora, a
ultrapassar o momento desafiante, já é um ato de coragem que deve ter orgulho,
é válido, é importante, mesmo que não esteja sempre a fazer “coisas” que a
sociedade impõe.
Numa era
cada vez mais narcísica, há uma ditadura da perfeição instaurada, como se fosse
tudo contabilizado, cronometrado sobre o que ter, o que fazer? Nesta azafama,
agora também, do natal esquecemos de estar apenas de corpo e alma no presente,
com quem amamos, em família, termos foco, somente, no que nos rodeia agora.
Podemos atingir mais? Penso que estar aqui é viver este desafio, mas não
esquecer do mais importante, que é ter tempo para divertir, brincar e não levar
tudo com tanta seriedade, que lhe escape o que realmente importa.
Mafalda
Leite Borges - Alcochete
Canto
da Psicologia