O primeiro dia…
O coração palpita mal o clique
informático do “sistema nervoso pensativo e instintivo materno” ressoa de alto
a baixo nas instalações do corpo. Parece não haver controlo, ele vai e vem cada
vez com mais fúria e factualidade, à medida que a data se aproxima. E a
data…aquele dia no calendário tão diferente de todos os outros, tem um brilho provocante
e zombeteiro, condensando num número memórias, desejos, receios e ambições. Um
número…tanto poder. Anda-se para a frente a para trás e lá está ele no
frigorífico a provocar e a não se fazer esquecer.
Com passadas pesadas de
quem não tarda e jamais se abala, ele vem mal bate a meia-noite e sem abóboras
e varinhas de condão que deixem o João Pestana chegar. Nasce o dia do teu
primeiro dia…do meu primeiro dia…do nosso primeiro dia. E como o vemos de forma
diferente. É de certa forma o primeiro dia do resto da tua vida, que te sorri e
abre caminho a outros colos, a outros mimos e outros amores. E é, sem que eu
deseje que seja, o primeiro dia do resto da minha vida, de uma síndrome de
ninho vazio, de um medo avassalador de abrir os braços para o mundo e te deixar
caminhar e no fundo, mais uma vez, de ser mãe.
Irás para a escola, mas
mais parece que sou eu que tenho muito a aprender, que preciso de respostas
para as minhas perguntas tontas e que preciso de colo para acalmar e conter os
meus medos. Entrego-me ao entregar-te, mas sem te deixar tão pouco te
abandonar, pois nunca deixarei de olhar para trás mesmo gota a gota a visão se
turve e mesmo que venha uma em enxurrada.
Será um dia longo, em
que pensarei em ti ininterruptamente e tu pensarás em mim? Conto os segundos,
os minutos e as horas sem que estes pareçam passar. Gasto os olhares para o
relógio, já não tenho mais saldo para chamadas e não sei se mais alguém saberá
o que sinto agora.
Mas no fundo…é o teu
primeiro dia de escola e não imaginas como estou orgulhosa de ti.
O primeiro dia…quanta
angústia?
É sabido que para a
maioria dos pais os primeiros dias das novas fases dos filhos, são sentidos com
um doloroso “tem de ser está a crescer”.
Seja o primeiro dia da escolinha, o primeiro dia da primária, o primeiro dia na
casa dos avós e…claro, quando chega ao primeiro dia do seu casamento já a
conformidade se instalou e os ajudou a crescer com menos angústia e mais
confiança.
Mas o primeiro dia na
escolinha…esse é mesmo difícil. As angústias são imensas e crescem a cada
dúvida, a cada informação que não foi dada e a cada manifestação do bebé. Confiar
á primeira em quem cuida da criança é quase sempre uma missão difícil,
procuram-se pormenores, semelhanças, defeitos e qualidades tudo o que permita
tranquilizar os corações mais ansiosos e facilite o acreditar no colo estranho
de quem recebe. Os pais desejam acima de tudo que aquele colo seja uma extensão
do seu, sem o substituir, mas que contenha, acalme e proteja incondicionalmente
o seu rebento. É claro que nenhum colo é igual, são todos diferentes com cantos
e recantos em modelos exclusivos e de produção única. Mas algo é de todo
análogo entre colos - as intenções - que se projectam no olhar e sorrisos de
quem dá o melhor e deseja um futuro risonho, que de sala em sala fará de tudo
para garantir um crescimento sempre para cima e para a frente.
A adaptação
saudável e harmoniosa tem como base os sentimentos de segurança e confiança dos
pais e dos técnicos, que consequentemente transmitirão tranquilidade e
optimismo à criança.
A partir do
momento em que a criança é confiada a alguém que não os pais, as interacções
com estes tornam-se reduzidas e limitadas aos períodos de retorno ao contexto
do seu lar. Como tal, numa fase inicial pais e criança sentem perder as suas
referências o que promove alguma ansiedade e inquietação, que gradualmente se
dissiparão e darão lugar à confiança e tranquilidade.
Dicas para uma adaptação
saudável dos mais pequenos:
§ . Conheça a escola e a
educadora previamente e exponha as suas dúvidas e os seus receios;
§ . Planeie uma adaptação progressiva com a educadora -
no primeiro dia 2 ou 3 horas, depois até ao almoço e só depois o dia todo;
§ . Escolha um objeto querido pela criança que ela
possa levar consigo e que a apoie no momento de dormir;
§ . Demonstre uma atitude segura e tranquila na entrega
do seu filho, evitando a projecção das suas angústias e inseguranças;
§ . À chegada coopere com as
auxiliares e educadoras no momento da separação;
§ . No momento de a ir
buscar assuma uma postura calma e encare a situação com alguma segurança;
§ . Forneça ao educador
todas as informações importantes
sobre os hábitos e momentos diários da criança em casa, o mesmo fará o educador
em relação ao contexto de sala;
Dicas para
uma adaptação saudável dos ainda pequenos mas já crescidos:
§ Valorize a escola em casa e inclua-a no seu discurso diário de forma gradual
e moderada;
§ . O professor deve ser tido como figura de respeito e autoridade, mesmo
que na discordância de opiniões essa imagem fique fragilizada dentro de si como
encarregado de educação, resolva isso com o próprio não envolva o seu filho;
§ . Promova a responsabilidade individual na gestão
dos trabalhos de casa, acompanhe, supervisione e fomente a autonomia e
transmita confiança;
§ . Os momentos de fazer os
trabalhos de casa/estudo devem ser tranquilos, estipulados e organizados, numa
dedicação mútua entre pais e filhos;
§ . Uma semana antes da
entrada na escola comece a criar as rotinas
e introduza os horários que vão ser
mantidos durante o período escolar;
Respire
Fundo e Confie...
pode ser um início difícil mas tenderá a melhorar de dia para dia
pode ser um início difícil mas tenderá a melhorar de dia para dia
O Canto da Psicologia
Drª Joana Cloetens
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