No dia 16 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Voz! Por aqui, todos os dias, vozes mais alto se levantam... e essas, muitas vezes não se ouvem...invadem, no silencio, o espaço mental de cada um e precisam que alguém lhes dê voz...
- Ás vezes não as consigo calar! - Dizia-me alguém
referindo-se às vozes que o dominavam diariamente - Elas mudam constantemente!
- Como assim?
- Destabilizam-me;
geram em mim um imensurável eco de medo, raiva, angústia e pavor ; um tico e um
teco constante dentro da minha cabeça como se eu, não tivesse voz ! E fico assim, entregue a estas guerras
vocais, que são tudo menos musicais, e que preencham este mundo interno meu que
não vive, sobrevive!
Um grilo falante habita em nós desde que a tomada de
consciência de um pensamento poderoso mas silencioso, se apodera do nosso
cérebro perpetuando memórias e encetando diálogos internos; uns dirão é a Voz
da Consciência, outros, o superego em acção!
Criando um teatro interno, cada um de nós escolhe os seus
actores e dá vida à personagem dando-lhe a voz que quiser, colocando no tom e nas palavras uma emoção
modelada a partir da interacção social interiorizada de acordo com o poder
significante que cada um foi tendo no
decorrer das nossas vidas! Os modelos, inspiradores do enredo, como os pais ou professores (superego) em
alguns sujeitos assumem uma presença com um tal grau de importância e
superioridade que em extremo de patologia manifestam-se na consciência através
de alucinações sonoras!
Numa hierarquia mental em que as personagens introjectam papeís , há um inconsciente em cada sujeito
com a sua própria voz, o seu próprio tom e o seu lugar definido.
Vivemos presos a estas vozes, umas doentes e outras saudáveis;
umas consistentes e outras frágeis; em extrema característica patológica, por
razões que ainda hoje os neurocientistas vão pesquisando, limitados por estas
vozes que comandam, ficamos entregues a
químicos e a medidas médicas às vezes demasiado extremadas mas que, de alguma
maneira, promovem alguma autonomia e
funcionalidade!
E as outras? As que, de uma maneira ou de outra se encaixam num padrão saudável de comportamento mas são tão poderosas que nos fazem questionar sobre a nossa própria sanidade mental e limitam as nossas vivências diárias?
Essas coabitam internamente numa relação estável e raramente são questionadas!
- a voz desafiante : Tenho que chegar aquela esquina antes
que o carro passe por aquele poste senão eu morro;
- a voz que incapacita: Não faças! Vais-te dar mal;
- a voz que intimida: Experimenta! Estou a avisar-te! Vão-te
despedir!
- a voz que anula: Hum! Nem tentes! Não vais conseguir!
- a voz que deprime: Nunca vais ser capaz!
- a voz que deprecia: não mereces esse amor!
E estas andam por aqui num compasso diário, com livre trânsito, assumidas enquanto "normais", rodopiando num universo mental, dificultando ainda mais a noção de precariedade emocional não justificando a procura de ajuda.
Essas sim, são perigosas!! pense nisso...
Drª. Ana de Ornelas
O Canto da Psioclogia
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