“A música não mente e tem a capacidade de mudar o mundo.” Jimi Hendrix
A relação entre o ser humano e a música é intima, intensa e antiga. Mais de que
uma arte a música é uma linguagem que mexe com o sentir,
com as emoções. Também as expressa. Também as embala e acompanha. Quem nunca
sentiu uma canção a brincar
com o seu coração? Seja num
tom festivo ao compasso da alegria ou num ritmo mais pausado sustendo o choro
solitário durante
de uma melodia melancólica, a música tem o poder de nos partir ao meio, ou
de juntar as diversas partes, fazendo as emoções aflorarem frequentemente de uma
maneira mais eloquente do que os gestos ou as palavras.
Esta arte de combinar sons e silêncios
vai além da técnica complexa necessária para uma exemplar
performance, é contato interno e externo com os
mundos, é ponte de comunicação até onde não existe
fala, propicia a escuta sensível daquele que ouve e é ouvido através da melodia, aguça os sentidos da alma.
Vários investigadores tentaram
compreender a essência da relação especial que o ser humano desenvolveu com a música e o porquê desta ter um impacto tão especial no seu sentir.
Merriam e Freire (1992) classificam a
música segundo
as funções que
desempenha nas sociedades. Os autores identificam dez funções sociais básicas da música: (1) função
de expressão emocional;
(2) de prazer estético; (3) de divertimento;
(4) de comunicação; (5) de representação simbólica; (6) de reação física; (7) de estabelecimento de
conformidade com as normas sociais; (8) de validação das instituições sociais e dos ritos religiosos;
(9) de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura e, (10) função
de contribuição para a integração da sociedade. Os autores referem
ainda que a música é o mais límpido espelho dos hábitos e costumes da sociedade em que
está inserida.
Para Wazlawick (2006) a música
interliga-se intimamente
não só com a cultura, fazendo parte desta, mas
também com a
identidade dos indivíduos, pois está inserida nas variadas atividades
(sociais e pessoais) que os homens desempenham, inscrevendo múltiplos significados, referenciais,
materiais e simbologias. Este autor refere ainda que quando vivenciamos a música
não nos
relacionamos apenas com a matéria musical em si, isto é, o tom, a duração, a intensidade, o timbre, o ritmo, e as suas relações, mas com toda uma rede de
significados construídos no mundo social, seja nos contextos coletivos mais
amplos, seja nos contextos singulares.
Já Sekeff
(2007) afirma que falar sobre emoção e música
é mergulhar
no campo da complexidade humana pois a emoção musical resulta de uma complexa reacção tanto orgânica quanto psíquica. Assim, o objeto sonoro assume
e dispara uma série de sensações fisio-psicológicas, as quais, através da percepção, vislumbram outras formas de
representação, numa
construção simbólica
entre sensações, percepções, representações, pensamentos e imagens que se
formam a partir dos dados do ambiente ou da memória, imaginadas e combinadas
complexamente. O autor vai mais longe e afirma que através da música o ser humano pode satisfazer algumas
das suas necessidades de equilíbrio, por meio das expressões, trazendo à consciência emoções profundamente intensas, o que
proporciona uma descarga
emocional. Este efeito catártico tem o potencial de devolver ao homem
o seu estado harmonioso. Talvez por este motivo tantas vezes intuitivamente
digamos que a música é terapêutica. Promove o encontro com o nosso mundo interno.
Vários são os estudos que indicam que a música estimula a comunicação entre as pessoas,
favorece a catarse, a introspecção, a reflexão, possibilita o surgimento de recordações e promove a expressão de sensações e emoções que muitas vezes não podem ser expressas por meio da
fala ou da linguagem verbal. Faz parte de nós e nós fazemos parte dela. Esta dança entre a música e o ser humano, para além de bela, é útil, aquece a alma, apazigua, alivia,
enriquece. Então,
deixemo-nos levar por ela.
“ Prefiro a música porque ela ouve o meu silêncio e ainda traduz o que eu sinto
sem que eu precise de o explicar” François Guizot
Drª Dina Cardoso
O Canto da Psicologia
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