quinta-feira, 12 de maio de 2016

As notas musicais das emoções...


 “A música não mente e tem a capacidade de mudar o mundo.Jimi Hendrix



A relação entre o ser humano e a música é intima, intensa e antiga. Mais de que uma arte a música é uma linguagem que mexe com o sentir, com as emoções. Também as expressa. Também as embala e acompanha. Quem nunca sentiu uma canção a brincar com o seu coração? Seja num tom festivo ao compasso da alegria ou num ritmo mais pausado sustendo o choro solitário durante de uma melodia melancólica, a música tem o poder de nos partir ao meio, ou de juntar as diversas partes, fazendo as emoções aflorarem frequentemente de uma maneira mais eloquente do que os gestos ou as palavras.

Esta arte de combinar sons e silêncios vai além da técnica complexa necessária para uma exemplar performance, é contato interno e externo com os mundos, é ponte de comunicação até onde não existe fala, propicia a escuta sensível daquele que ouve e é ouvido através da melodia, aguça os sentidos da alma.
 
Vários investigadores tentaram compreender a essência da relação especial que o ser humano desenvolveu com a música e o porquê desta ter um impacto tão especial no seu sentir.

Merriam e Freire (1992) classificam a música segundo as funções que desempenha nas sociedades. Os autores identificam dez funções sociais básicas da música: (1) função de expressão emocional; (2) de prazer estético; (3) de divertimento; (4) de comunicação; (5) de representação simbólica; (6) de reação física; (7) de estabelecimento de conformidade com as normas sociais; (8) de validação das instituições sociais e dos ritos religiosos; (9) de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura e, (10) função de contribuição para a integração da sociedade. Os autores referem ainda que a música é o mais límpido espelho dos hábitos e costumes da sociedade em que está inserida.

 Para Wazlawick (2006) a música interliga-se intimamente não só com a cultura, fazendo parte desta, mas também com a identidade dos indivíduos, pois está inserida nas variadas atividades (sociais e pessoais) que os homens desempenham, inscrevendo múltiplos significados, referenciais, materiais e simbologias. Este autor refere ainda que quando vivenciamos a música não nos relacionamos apenas com a matéria musical em si, isto é, o tom, a duração, a intensidade, o timbre, o ritmo, e as suas relações, mas com toda uma rede de significados construídos no mundo social, seja nos contextos coletivos mais amplos, seja nos contextos singulares.

Já Sekeff (2007) afirma que falar sobre emoção e música é mergulhar no campo da complexidade humana pois a emoção musical resulta de uma complexa reacção tanto orgânica quanto psíquica. Assim, o objeto sonoro assume e dispara uma série de sensações fisio-psicológicas, as quais, através da percepção, vislumbram outras formas de representação, numa construção simbólica entre sensações, percepções, representações, pensamentos e imagens que se formam a partir dos dados do ambiente ou da memória, imaginadas e combinadas complexamente. O autor vai mais longe e afirma que através da música o ser humano pode satisfazer algumas das suas necessidades de equilíbrio, por meio das expressões, trazendo à consciência emoções profundamente intensas, o que proporciona uma descarga emocional. Este efeito catártico tem o potencial de devolver ao homem o seu estado harmonioso. Talvez por este motivo tantas vezes intuitivamente digamos que a música é terapêutica. Promove o encontro com o nosso mundo interno.

Vários são os estudos que indicam que a música estimula a comunicação entre as pessoas, favorece a catarse, a introspecção, a reflexão, possibilita o surgimento de recordações e promove a expressão de sensações e emoções que muitas vezes não podem ser expressas por meio da fala ou da linguagem verbal. Faz parte de nós e nós fazemos parte dela. Esta dança entre a música e o ser humano, para além de bela, é útil, aquece a alma, apazigua, alivia, enriquece. Então, deixemo-nos levar por ela.




Prefiro a música porque ela ouve o meu silêncio e ainda traduz o que eu sinto sem que eu precise de o explicarFrançois Guizot 

Drª Dina Cardoso
O Canto da Psicologia


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