sexta-feira, 27 de maio de 2016

Os bichos carpinteiros da era moderna...







Hiperactividade com Défice de Atenção

A PHDA é daquelas categorias diagnosticas que passam por modas perigosas. Nos adultos encontramos modas semelhantes relativamente às perturbações bipolares e à depressão.
Inicialmente a moda era diagnosticar com muita frequência crianças com PHDA. A perigosidade desta prática ligava-se ao diagnóstico descuidado, à medicação desapropriada, às consequências da medicação e, frequentemente, à manutenção e agravamento do problema.
Passou-se para uma moda oposta, a PHDA passa a ser visto sobretudo por pais e psicólogos, mas também por professores e médicos, como algo que não existe, ou que, existindo, não corresponde à prevalência descrita.

O primeiro problema destas modas é considerar-se a PHDA como uma doença.
É preciso recordar que se trata de uma categoria que pertence ao eixo II do DSM (Manual Estatístico e de Diagnóstico), isto é, ao eixo das Perturbações Clínicas. Trata-se do eixo que inclui perturbações como a Enurese, os Terrores Nocturnos ou as Insónias. Perturbações estas, que julgo, nem mesmo um leigo hesitaria em entendê-las como sintomas e não como doenças.
Enquanto a palavra doença, deriva do latim, 'dolentia', referindo-se ao sentimento de dor ou sofrimento, a palavra sintoma refere-se às manifestações dessa dor (cair aos pedaços).

Partindo então do pressuposto de que a PHDA é um sintoma, qual é a doença?
Esta contudo não é uma pergunta de fácil resposta. Veja o leitor o seguinte, a dor de cabeça é um sintoma no entanto pode ser o resultado, a manifestação de inúmeras doenças.
Com a PHDA sucede algo semelhante.
Na verdade, os estudos de co-morbilidade associam a hiperactividade a todo o espectro da psicopatologia. Apesar desta ligação  extensa, existem maiores correlações entre hiperactividade, depressão e ansiedade.

Esta ligação próxima desta tríade não é de espantar. O que não nos espanta neste ligação tem que ver com os avanços dos estudos neurocientificos sobre a hiperactividade. Estes estudos têm sido de grande importância na medida em que demonstram que existem especificidades neuroanatomicas e neuroquimicas no cérebro de crianças hiperactivas. Já estes padrões de que vos falo parecem ter uma relação próxima com os padrões de adultos ansiosos ou deprimidos.

Aqui a questão passa por perceber que a criança hiperactiva, na realidade, está deprimida. Só esta constatação permite entender o porquê da hiperactividade ser medicada com psicoestimulantes.

A questão mais fundamental não se prende com a especificidade do diagnóstico de hiperactividade, mas sim com o significado do sintoma.
É que neste contexto a PHDA não passa de um sintoma cujo significado pretende ser anti-depressivo.
 A dispersão da atenção, a hiperassociação, a agitação, a irrequietude, servem apenas para fugir e dispersar, em vez de fixar e elaborar.



Dr. Fábio Mateus

O Canto da Psicologia



2 comentários:

  1. A sério? Um sintoma e não uma perturbação neurobiológica? Realmente existem modas perigosas... para todos os lados!

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  2. A sério? Um sintoma e não uma perturbação neurobiológica? Realmente existem modas perigosas... para todos os lados!

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