Conhecer os neurónios espelho e a intersubjectividade
Mês Maio era chamado por Ovídio de “o mês do
conhecimento”.
Estamos no mês Maio que simboliza o conhecimento, a
primavera, o nascimento da esperança da alegria. O mês das gotas, das flores
amarelas, dos passarinhos que cantarolam, dos dias cada vez mais compridos. É o
mês da mãe, da natureza, da fertilidade, da alegria, do entusiasmo relacional! Depois
do Inverno rigoroso, vem agora uma brisa com cheiro a maresia, tão merecida,
que nos aquece a alma e nos deixa embevecidos com tanta beleza. É o mês do
conhecimento na medida em que a luz, promove a sabedoria e a procura de atingir
descobertas sobre si próprio e sobre o outro. Podemos estar apaixonados pela
vida, pelas pessoas, pelos nossos sonhos, é tempo de arriscar e de buscar novos
horizontes!
Nesta procura sabemos, porém, que o ser humano necessita de
sentir que partilha estados emocionais com os outros e que é, verdadeiramente,
compreendido no seio das suas relações intimas. Só somos felizes quando
partilhamos a nossa felicidade...!
Estas interações
emocionais têm sido bem exploradas, pela neurociência, com a descoberta dos
neurónios espelho que são, no fundo, o que nos permite dar significado à nossa
vida. É na partilha das emoções, na empatia, que podemos construir pontes de
entendimento mútuo que nos enriquecem e nos alegram. Sem os neurónios espelho
não era possível sentir a dor ou a alegria do outro, bem como, compreendermos e
construirmos a nossa identidade com base no nosso relacionamento com os outros,
o que denominamos de interação intersubjectiva. Gallese foi o cientista que
verificou a existência de neurónios espelho, no ser humano, e referiu que
permitem o desenvolvimento da capacidade de estabelecer comunicações intersubjectivas,
sendo que uma das principais características consiste na leitura das intenções
do comportamento do outro. Sem estes neurónios a comunicação emocional, íntima
e empática seria impossível.
Quando o sujeito observa uma
acção praticada por outro, os neurónios responsáveis pelo desencadear daquela
acção tornam-se activos, mesmo que não esteja fisicamente a vive-la, o que por
outras palavras demonstra, que esta estimulação implícita e inconsciente,
permite ao sujeito penetrar no mundo mental do outro, sem ter de explicitamente
passar pela mesma vivência. O mesmo se passa na interacção precoce quando o
bebé observa o comportamento do cuidador como um espelho onde se vê reflectido,
o que permite construir um conhecimento sobre si próprio e consequentemente
sobre o outro. Tal fenómeno possibilita a diferenciação do interno e do
externo, ou seja do self e do outro.
Neste sentido, os neurónios
espelho só são activados em contexto da interacção de uma relação com o si e o
outro, sendo que é a acção que possibilita o início das ligações sociais, pelo
que esta intimamente ligada a dimensões inter-individuais tais como; sensações,
afectos e emoções.
Outros cientistas, nomeadamente
o etólogo Hobson, explorou as diferenças entre primatas e humanos e verificou
que o ser humano tem a capacidade de partilhar pensamentos e emoções com
outros, bem como a necessidade de se associar socialmente a outros e de sentir
que é compreendido numa comunicação emocional única. Esta comunicação
intersubjectiva possibilita o desenvolvimento do pensamento em si e depois da
linguagem e consiste no aspeto humano que mais nos diferencia dos primatas. Os primatas
não passam tempo a focar o olhar no outro de forma apaixonada ou a desenvolver
interacções “face a face” numa comunicação emocional única e excepcional. A capacidade
de estabelecer relações intersubjectivas e de partilhar e relacionar estados
afectivos consiste num princípio básico da vida mental humana sem o qual não
existe estruturação do pensamento, nem partilha de significado comunicacional.
Deste modo a felicidade, a vida, só ganha dimensão quando a
partilhamos com os mais significativos, que este mês esteja repleto de amor e
entendimento e que todos possam desfrutar de relacionamentos frutíferos!
Dra. Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia
Sem comentários:
Enviar um comentário