quinta-feira, 5 de maio de 2016

O que dizem os meus neurónios espelho?






Conhecer os neurónios espelho e a intersubjectividade

Mês Maio era chamado por Ovídio de “o mês do conhecimento”.

Estamos no mês Maio que simboliza o conhecimento, a primavera, o nascimento da esperança da alegria. O mês das gotas, das flores amarelas, dos passarinhos que cantarolam, dos dias cada vez mais compridos. É o mês da mãe, da natureza, da fertilidade, da alegria, do entusiasmo relacional! Depois do Inverno rigoroso, vem agora uma brisa com cheiro a maresia, tão merecida, que nos aquece a alma e nos deixa embevecidos com tanta beleza. É o mês do conhecimento na medida em que a luz, promove a sabedoria e a procura de atingir descobertas sobre si próprio e sobre o outro. Podemos estar apaixonados pela vida, pelas pessoas, pelos nossos sonhos, é tempo de arriscar e de buscar novos horizontes!

Nesta procura sabemos, porém, que o ser humano necessita de sentir que partilha estados emocionais com os outros e que é, verdadeiramente, compreendido no seio das suas relações intimas. Só somos felizes quando partilhamos a nossa felicidade...!

 Estas interações emocionais têm sido bem exploradas, pela neurociência, com a descoberta dos neurónios espelho que são, no fundo, o que nos permite dar significado à nossa vida. É na partilha das emoções, na empatia, que podemos construir pontes de entendimento mútuo que nos enriquecem e nos alegram. Sem os neurónios espelho não era possível sentir a dor ou a alegria do outro, bem como, compreendermos e construirmos a nossa identidade com base no nosso relacionamento com os outros, o que denominamos de interação intersubjectiva. Gallese foi o cientista que verificou a existência de neurónios espelho, no ser humano, e referiu que permitem o desenvolvimento da capacidade de estabelecer comunicações intersubjectivas, sendo que uma das principais características consiste na leitura das intenções do comportamento do outro. Sem estes neurónios a comunicação emocional, íntima e empática seria impossível.
Quando o sujeito observa uma acção praticada por outro, os neurónios responsáveis pelo desencadear daquela acção tornam-se activos, mesmo que não esteja fisicamente a vive-la, o que por outras palavras demonstra, que esta estimulação implícita e inconsciente, permite ao sujeito penetrar no mundo mental do outro, sem ter de explicitamente passar pela mesma vivência. O mesmo se passa na interacção precoce quando o bebé observa o comportamento do cuidador como um espelho onde se vê reflectido, o que permite construir um conhecimento sobre si próprio e consequentemente sobre o outro. Tal fenómeno possibilita a diferenciação do interno e do externo, ou seja do self e do outro.

Neste sentido, os neurónios espelho só são activados em contexto da interacção de uma relação com o si e o outro, sendo que é a acção que possibilita o início das ligações sociais, pelo que esta intimamente ligada a dimensões inter-individuais tais como; sensações, afectos e emoções.

Outros cientistas, nomeadamente o etólogo Hobson, explorou as diferenças entre primatas e humanos e verificou que o ser humano tem a capacidade de partilhar pensamentos e emoções com outros, bem como a necessidade de se associar socialmente a outros e de sentir que é compreendido numa comunicação emocional única. Esta comunicação intersubjectiva possibilita o desenvolvimento do pensamento em si e depois da linguagem e consiste no aspeto humano que mais nos diferencia dos primatas. Os primatas não passam tempo a focar o olhar no outro de forma apaixonada ou a desenvolver interacções “face a face” numa comunicação emocional única e excepcional. A capacidade de estabelecer relações intersubjectivas e de partilhar e relacionar estados afectivos consiste num princípio básico da vida mental humana sem o qual não existe estruturação do pensamento, nem partilha de significado comunicacional.

Deste modo a felicidade, a vida, só ganha dimensão quando a partilhamos com os mais significativos, que este mês esteja repleto de amor e entendimento e que todos possam desfrutar de relacionamentos frutíferos!


Dra. Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia

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