Passamos pelo luto para celebrarmos a vida
“O homem vê no mundo
aquilo que carrega no seu próprio coração” Goethe
Podemos considerar o Luto como um processo saudável
do funcionamento psíquico. Estamos a falar dos lutos psicológicos que não
implicam, necessariamente, uma perda física concreta. As pequenas mortes
simbólicas as idealizações, relações, expectativas, fantasias, memórias que
necessitam de ser arrumadas e compreendidas. Precisamos do luto para integrar
as emoções e as memórias mais intensas e ansiosas. Este luto simbólico,
organizado, repleto de significado vai apaziguar a dor e trazer novas formas de
crescimento e de entendimento de nós próprios. Então porque fugimos deste luto interno?
Porque não lhe damos espaço para acontecer? As mudanças, transições carregam em
si lutos uma vez que “obrigam” a pessoa, a mudar, a crescer, a evoluir a ver
noutra perspetiva. Como Freud pugnava existem dois caminhos para a mudança um é
o da livre vontade e o outro é através do sofrimento que nos empurra para agir
em torno da alteração - “Quando a dor de
não estar a viver for maior do que o medo da mudança, a pessoa muda.” Freud -
Quando algumas memórias não são aceites e integradas,
para que sejam naturalmente evocadas sem nos causarem angústia, tristeza, paralisia,
medo, podemos acabar por nos deixar arrebatar. Por isso o trabalho
psicoterapêutico ser tão enriquecedor. Para evoluirmos necessitamos de nos
libertar dos caminhos superficiais e procurar os mais profundos, que nos levam
a lugares maravilhosos de consciência ampliada e de auto-conhecimento. O início
da adolescência é marcado pelo luto da infância e o desejo da total
independência, já na fase adulta fazemos o luto da idealização e entramos na
maturidade que pode ser, essencialmente, admitirmos que necessitamos uns dos
outros para sermos felizes. A maturidade implica aceitarmos o que somos sem os
moldes que nos querem colocar.
Depois do Luto precisamos de celebrar a vida, as
nossas vitórias e os nossos sonhos. Como Augusto Cury referiu em Sonhar é Preciso;
“ Sem sonhos, as pedras do caminho
tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são
insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em
fonte de medo.” O Sonho é fundamental, assim como a esperança de que
melhores fases virão! Por isso celebramos e cuidamos da nossa “casa interna”,
tornando-a sólida, acolhedora e sustentadora de todas as nossas emoções. Só
quando nutrimos bem a nossa casa e aprendemos a cuidar de nós próprios é que podemos
realmente cuidar dos outros. Por isso trata bem de ti, por mim, que eu trato
bem de mim, por ti.
Drª Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia
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