Em
pleno pulsar do mês de Julho, começa a pairar no imaginário colectivo uma
espécie de lugar ideal, aguardado, por muitos, ao longo do ano. A palavra
“férias” é o mote que se faz sentir, como que um
efeito anestésico, difundido um pouco por toda a parte.
Senão,
vejamos:
Na
cidade, os efeitos colaterais dos engarrafamentos dão lugar a uma cidade mais
fluida. Os serviços são postos em pausa e sugerem-nos que voltemos a contactar
lá para Setembro. As ofertas de emprego obrigam-nos a abrandar o rimo, com o
slogan “depois de Agosto é uma boa altura”. Aqui e ali, ouvem-se os desabafos
de que as férias são necessárias e de que já se está em “piloto automático”.
Há, por isso, uma tentativa de desligamento, mais ou menos consciente, que parece
envolver os vários planos de vida de cada um de nós – o plano exterior, no
impasse que se gera nestes meses, mas, fundamentalmente, num plano mais interior,
criando-se uma ilusão à volta deste momento do ano.
Para
uns, o desejo de que esta pausa obrigue a um recomeço, lá para o final do mês,
com os objectivos que não se cumpriram, os planos que não se concretizaram, os
assuntos que não se resolveram. Setembro, é, afinal, um bom mês para aqueles
que procuram adiar resoluções, mas, ainda assim, preservando a consciência
delas ou da sua necessidade. Para outros, as férias servem de mote a um plano
mais auspicioso: negar as evidências, tapar os olhos ao óbvio e procurar uma
tentativa de ludibriar o que já de há muito se arrasta e o que de pouco se
resolve, através de uma forma de pensamento mágico. São lados verdadeiramente
contorcionistas, estes que colocam nas férias todo o potencial de resolução do
que, ao longo de um ano, não se transformou.
Ora,
talvez aqui resida o perigo dos peixes-aranha: aqueles que, perante um mar
límpido e sereno à superfície, onde o perigo aparentemente não espreita, atraiçoam
quando menos se espera. Um pouco como nos malabarismos com que, tantas vezes,
nos vamos enganando: tentando contornar as ondas agitadas, numa tentativa de
fazer delas animais domesticados, mas não conseguindo prever os eventuais
perigos, que emergem precisamente de tudo aquilo que fica submerso, escondido no
inconsciente, como de que é também imagem o interior do próprio mar.
Por
isto, sugerimos-lhe que se vá lembrando dos peixes-aranha, assim como da
imensidão que se esconde em cada oceano, com todo o seu potencial de riqueza,
de perigo, de descoberta, como uma metáfora para pensar sobre si. Talvez os
mergulhos se tornem mais seguros, as férias mais saborosas e o ano que segue
mais suportável e nós estaremos sempre por aqui com os primeiro socorros indicados para estes males que se escondem na imensidão de um oceano...
Desejamos-lhe umas óptimas férias!!
Drª Joana Alves Ferreira
O Canto da Psicologia
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