quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Psicoterapias e intervenções psicofarmacológicas...





Qual é exactamente a magnitude do efeito das psicoterapias? e das intervenções psicofarmacológicas?  e qual será a duração mínima destas intervenções? 

Na pratica privada, principalmente nas primeiras sessões de psicoterapia, é muito comum ouvir preocupações recorrentes acerca da eficácia da Terapia, da frequência da Terapia, e da duração da Terapia.
Em momentos de angústia aguda e de um sofrimento que se arrasta, por vezes durante décadas, não é de espantar que se procure uma solução rápida e eficaz. 
Nesse sentido, os técnicos a contactar são sobretudo médicos da especialidade de psiquiatria e psicólogos clínicos.
É certo que vão surgindo pelas vias públicas artigos que argumentam a eficácia dos processos terapêuticos, e aqui, n'Canto da Psicologia, existe o cuidado de transmitir ao público em geral essa mesma argumentação, com textos redigidos por psicólogos clínicos com experiência comprovada. 

Mas ainda assim, qual é exactamente a magnitude do efeito das psicoterapias? E das intervenções psicofarmacologicas? E qual será a duração mínima destas intervenções?
Hoje a nossa proposta é revelar os números que sustentam a argumentação teórica.

Na investigação em psicologia e em medicina, para além dos estudos individuais que podem ser efectuados com amostras específicas, uma metodologia muito utilizada são as chamadas 'meta-analises'; uma meta-análise é um método que procura sintetizar ou sumariar as descobertas de diversos estudos independentes.

Aqui, os resultados obtidos nos diferentes estudos são convertidos numa métrica comum, designada por 'magnitude do efeito' (effect size), que é expressa em desvios-padrão.
Esta métrica diz respeito à diferença entre os resultados dos indivíduos que se submeteram a tratamento e aqueles que não se submeteram (grupo de controlo).
Um resultado, relativo à magnitude do efeito (effect size), de 1.0 significa que a pessoa estará um desvio-padrão, mais 'saudável'.
Assim, no que diz respeito às meta-análises, um efeito de 0.8 é considerado um efeito grande, um efeito de 0.5 é considerado um efeito moderado, é um efeito de 0.2 é considerado um efeito pequeno.

De acordo com a primeira grande meta-análise sobre a eficácia da psicoterapia, que incluiu 475 investigações, no ano de 1980 (Smith, Glenn & Willer), observou-se uma magnitude de efeito de 0.85. Este resultado sugere que quem fez psicoterapia esta perto de uma diferença de um desvio-padrão em comparação com indivíduos que não o fizeram. Trata-se portanto de uma magnitude de efeito grande.

Lipsey & Wilson (1993) estudaram 18 meta-análises, observando um efeito de 0.8.
Abbass, Hancock, Henderson & Kisley (2006), sumariaram 23 meta-análises, compilando um total de 1431 processos terapêuticos de orientação psicanalítica. Observaram um efeito de magnitude de 0.59 em pacientes depressivos após 40 horas deTerapia, sugerindo um efeito moderado. No entanto, os mesmos autores verificaram uma magnitude de efeito de 0.98 após mais de 9 meses de Terapia com os mesmos pacientes.

De um modo geral a magnitude de efeito dos quadros sintomatológicos foi de 0.97 em Terapia inferior a 40 horas, e de 1.51 em terapias superiores a 9 meses.
Segundo a mesma meta-análise, pacientes com sintomas somáticos, tiveram um efeito de 0.81 após 40 horas de tratamento e de 2.21 após 9 meses; as perturbações da ansiedade tiveram um efeito de 1.08 após 40 horas de tratamento e de 1.35 após 9 meses.

Segundo Leichsenring, Rebung & Leibing, em 2004, e após análise de 17 estudos sobre a eficácia da psicoterapia psicanalitica, verificaram que apenas após 21 sessões, observa-se uma magnitude de efeito de 1.17.
Em artigo publicado na American Journal of Psychiatry, de Leichserning & Leibing, no ano de 2003, verificou-se um efeito de 1.46 após 37 semanas de Terapia.
Bateman & Fonagy em 2008, estudaram os efeitos a longo-prazo da Terapia psicanalitica, tendo avaliado pacientes após 5 anos do término das suas terapias em comparação com um grupo de controlo que não se submeteu a psicoterapia. Verificou-se que 87% dos indivíduos que não fizeram Terapia, mantinham os critérios de Diagnóstico para Perturbação da Personalidade. Relativamente ao grupo que passou pelo processo psicoterapeutico, verificou-se que apenas 13% preenchiam os critérios de diagnóstico.

Apesar das abordagens psicofarmacologicas serem amplamente utilizadas, e apesar de serem conhecidas pelos seus rápidos efeitos, a investigação não demonstra resultados animadores. Segundo artigo publicado na New England Journal of Medicine, pela FDA, a magnitude de efeito da fluoxitina (prozac) é de 0.26, o efeito da sertalina é de 0.26, do citalopram 0.24, do escitopram 0.31 e da duloxetina 0.30.

Parece-nos importante que perca um pouco do seu tempo e reflicta sobre estes resultados !

Dr. Fábio Mateus
O Canto da Psicologia



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