quinta-feira, 21 de junho de 2018

Os psicoterapeutas são seres da ciência ou da arte?






“Outro dia sonhei que estávamos de mãos dadas e havia muita confusão e pessoas na sala da consulta...”
“...Não sei se conhece aquele local Dra., já lá foi?”
“...Bom, a Dra. já deve ter ouvido um pouco de tudo, não é...”

Há muitas fantasias associadas à figura do psicoterapeuta que, muitas vezes, criam idealizações ricas que se tornam fundamentais no processo psicoterapêutico, outras expressam-se através de mitos, projeções ou  processos defensivos aos quais não nos conseguimos alhear.
Podíamos a partir daqui iniciar uma reflexão sobre aquilo que, entre psis e numa linguagem mais técnica, designamos como processo de transferência. Mas não! Esta síntese pretende trazer ao palco a pessoa do psicoterapeuta:

Quem ele é?
O que faz?
Que motivações tem?

São especialistas na arte de compreender e aceitar o outro, são empáticos e disponíveis, são simultaneamente provocadores e promotores do desenvolvimento e mudança. 
Um psicoterapeuta é um estudioso incansável e um curioso nato! A sua formação é muito específica e rigorosa que lhe permite ter uma compreensão mais alargada sobre o funcionamento psicológico dos outros e do seu também.

Os psicoterapeutas são capazes de identificar sintomas, angústias e sentimentos profundos. Toleram com maior facilidade a expressão de sentimentos negativos como a tristeza, a raiva, o luto e a agressividade, porque compreendem a sua essência.
O seu conforto é realizado com assertividade e com a certeza que o seu papel é estar ao serviço do outro. Observação, atenção, escuta, paciência e tolerância são palavras de ordem na sua rotina.

O guião escrito neste registo leva-nos a pensar que estamos a falar de seres com superpoderes ou que nos encontramos num filme da Marvel. Mas não! Os psicoterapeutas são filhos, pais, mães, colegas, amigos, namorados, maridos, mulheres, primos, vizinhos, pessoas que na rua passam tão despercebidas como outra qualquer. Têm as suas próprias fragilidades e sensibilidades, as suas manias e contrariedades, são humanos e assim sendo, não são perfeitos. No que diz respeito às suas características há muito a conhecer.  

Os psicoterapeutas são atraídos pelo trabalho em quem a expressão das emoções é notória e real. 

Os psicoterapeutas são motivados pelo desenvolvimento dos seus pacientes e nesse território sentem-se como peixes dentro de água. São facilitadores, contentores e tolerantes perante crises e confronto com o sofrimento. Celebram as conquistas dos seus pacientes e alegram-se com a sua autonomia e evolução. O acompanhamento do paciente no conhecimento das histórias que compõem o filme que é a sua vida, leva-os numa construção conjunta em que os cenários revelam aspetos internos e profundos.

Há quem diga que os psicoterapeutas são mais artistas do que cientistas porque, no seu trabalho, o processo criativo é uma constante que dificilmente atingirá um ponto de vista rígido ou de absoluta certeza. A constante descoberta funciona como catalisador para o exercício da profissão. 


Acredito que nós, psicoterapeutas, trabalhamos todos os dias numa sintonia de ciência com arte.




Dra. Fanisse Craveirinha




Sem comentários:

Enviar um comentário