“Outro dia sonhei que estávamos de mãos dadas e havia muita confusão e pessoas
na sala da consulta...”
“...Não sei se conhece aquele local Dra., já lá foi?”
“...Bom, a Dra. já deve ter ouvido um pouco de tudo, não é...”
Há muitas fantasias associadas à figura do psicoterapeuta que, muitas vezes,
criam idealizações ricas que se tornam fundamentais no processo
psicoterapêutico, outras expressam-se através de mitos, projeções ou processos defensivos aos quais não nos conseguimos
alhear.
Podíamos a partir daqui iniciar uma reflexão sobre aquilo que, entre psis e numa linguagem mais técnica,
designamos como processo de transferência. Mas não! Esta síntese pretende trazer
ao palco a pessoa do psicoterapeuta:
Quem ele é?
O que faz?
Que motivações tem?
“Os psicoterapeutas estão altamente motivados para cuidar de outras pessoas”.
(Nancy McWilliams)
São especialistas na arte de compreender e aceitar o outro, são empáticos e
disponíveis, são simultaneamente provocadores e promotores do desenvolvimento e
mudança.
Um psicoterapeuta é um estudioso incansável e um curioso nato! A sua formação é
muito específica e rigorosa que lhe permite ter uma compreensão mais alargada
sobre o funcionamento psicológico dos outros e do seu também.
Os psicoterapeutas são capazes de identificar sintomas, angústias e sentimentos
profundos. Toleram com maior facilidade a expressão de sentimentos negativos
como a tristeza, a raiva, o luto e a agressividade, porque compreendem a sua
essência.
O seu conforto é realizado com assertividade e com a certeza que o seu papel é
estar ao serviço do outro. Observação, atenção, escuta, paciência e tolerância
são palavras de ordem na sua rotina.
O guião escrito neste registo leva-nos a pensar que estamos a falar de seres
com superpoderes ou que nos encontramos num filme da Marvel. Mas não! Os
psicoterapeutas são filhos, pais, mães, colegas, amigos, namorados, maridos,
mulheres, primos, vizinhos, pessoas que na rua passam tão despercebidas como
outra qualquer. Têm as suas próprias fragilidades e sensibilidades, as suas
manias e contrariedades, são humanos e assim sendo, não são perfeitos. No que
diz respeito às suas características há muito a conhecer.
Os psicoterapeutas são atraídos pelo trabalho em quem a expressão das emoções é
notória e real.
Os psicoterapeutas são motivados pelo desenvolvimento dos seus pacientes e
nesse território sentem-se como peixes dentro de água. São facilitadores,
contentores e tolerantes perante crises e confronto com o sofrimento. Celebram
as conquistas dos seus pacientes e alegram-se com a sua autonomia e evolução. O
acompanhamento do paciente no conhecimento das histórias que compõem o filme
que é a sua vida, leva-os numa construção conjunta em que os cenários revelam aspetos
internos e profundos.
Há quem diga que os psicoterapeutas são mais artistas do que cientistas porque,
no seu trabalho, o processo criativo é uma constante que dificilmente atingirá
um ponto de vista rígido ou de absoluta certeza. A constante descoberta
funciona como catalisador para o exercício da profissão.
Acredito que nós, psicoterapeutas, trabalhamos todos os dias numa sintonia de
ciência com arte.
Dra. Fanisse Craveirinha
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