Vivemos, cada vez mais, numa sociedade
marcada por transformações profundas ao nível do avanço das novas tecnologias
veiculada a uma rápida acessibilidade de informação. Inevitavelmente, ficamos
perante um modo de viver e pensar substancialmente diferente daquele que se
vivia há uns anos atrás. Historicamente todos estes movimentos têm-nos
conduzido por um lado, à individualidade (ou singularidade) como também nos têm
conduzido a uma procura incessante e diria “exagerada” de uma rápida resolução
de problemas. Arriscaria até a dizer que vivemos numa sociedade ansiosa,
insegura, que procura uma satisfação imediata das suas necessidades, e igualmente a resolução rápida dos seus problemas (não esquecendo o facto de que também o poder económico diminuiu logo,certamente, também terá influência na
procura de soluções imediatas a baixo custo!). Acabamos por nos deparar com um certo paradoxo
pois, se por um lado a individualidade nos traria, inconsciente ou sub-
conscientemente, a capacidade de pensar por si mesmo, uma certa consciência de
si próprio, uma certa capacidade de olharmos para nós (e inevitavelmente para
os outros) e de nos relacionarmos (connosco e com os outros), surgem-nos cada
vez mais pessoas inseguras, ansiosas, somáticas, deprimidas, e com uma
certa dificuldade de integração da responsabilidade individual inerente a esta
liberdade de sermos “individuais”.
Na prática clínica deparamo-nos com um
número crescente de pedidos, pedidos estes em que se associam sintomatologias
acentuadas, em que vemos corpos “gritantes” e mentes com pouca capacidade de
pensar e digerir. Cada vez mais, deste lado, recebemos pessoas com quadros
sintomatológicos intensos, com fragilidades profundas, com necessidades de
reparação e integração do “EU”, arriscaria a dizer “urgentes” para aumentar o
bem estar mental e, muitas vezes, físico (necessidades estas que os
medicamentos não alcançam...). No entanto e paralelamente deparamo-nos com uma
controvérsia profunda, pois cada vez mais as pessoas que procuram ajuda, procuram
também soluções rápidas, “talvez meio mágicas?”. São crescentes as perguntas
como “O que é que eu posso fazer para resolver este problema?, ”, “Quantas
vezes preciso de vir cá para isto ficar resolvido?”, “Hoje até fiz uma lista e
preparei a sessão para ver se avançamos mais rápido”.
Quando falamos ou pensamos em psicoterapia poderíamos brincar e dizer que é um antónimo de rápido... falamos ou pensamos
num processo de co-construção, de estar e pensar sobre si, de olhar para
dentro, de gerir e confrontar defesas, angústias, por vezes traumas, memórias,
sofrimento, mas também alegrias, esperanças, sonhos... um processo de
re-encontro e de re-descoberta e descoberta do novo, do desconhecido, da possibilidade de
mudar, reparar, transformar e integrar. Não falamos certamente, na maioria dos
casos, de processos rápidos, mas poderemos afirmar que estamos perante
processos com um potencial de mudança altamente significativo para o bem estar
individual e relacional daqueles que nos procuram e que se permitem sentar,
estar e pensar...
Não estamos
perante o pronto a vestir ou pronto a comer ou pronto a resolver mas, o pronto
a pensar!
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