A realidade da Perturbação do Espetro do Autismo está cada vez mais presente na nossa sociedade, os números
aumentam e continua a incerteza da causa específica pela qual esta patologia
surge. Será genético? Será que a culpa é
minha? Será que não o acompanhei o suficiente? Estes são pensamentos que
por vezes inundam os pais, os cuidadores destas crianças… Muitas das vezes
surge a negação em primeira instância. Afinal de contas quando se pensa ter o
“bebé ideal”, aquele com que os pais sonharam… sem aviso prévio, sem que nada o
fizesse prever, alguém diz que o filho apresenta uma patologia que o irá
acompanhar para o resto da vida… O meufilho é autista… e agora?
A partir daí os pais passam por
muitos processos, o luto do objeto idealizado, para passarem a aceitar o objeto
real. Depois desta fase chegam as dúvidas, as projeções para um futuro incerto:
Que dificuldades o meu filho irá ter?
Será que vai falar? Será que vai conseguir fazer o mesmo que os outros fazem?
Será que vai conseguir brincar com as outras crianças? Qual será a melhor
escola? Será que vai ser aceite pelos outros? O que lhe vai acontecer quando eu
não estiver por perto? Estas e muitas outras questões surgem no pensamento
dos pais ao longo da vida. A ansiedade é muita e aparece em diversos momentos,
como quando não se verificam evoluções, quando na escola dizem que parece que
está a regredir, tanto na aprendizagem, como no comportamento e nas relações
interpessoais com os pares e, por vezes, a única solução que parece chegar de
todas as partes é a medicação, aquela
palavra terrível que invade os pais de uma enorme preocupação, medo e
sentimentos de angústia e impotência (será
que vai ter de tomar isto para o resto da vida?).
Todos parecem saber o que é melhor
para o seu filho… E quando a criança/jovem não consegue lidar com todos os
estímulos externos que surgem ao mesmo tempo num local público? Quando da sua
forma particular de o fazer, seja através das estereotipias ou das vocalizações
extremas… E os pais nestes momentos reparam nos olhares e comentários
“discretos” de quem está à volta e que parece não compreender – aqueles pais não sabem controlar os filhos,
de certeza que não o sabem educar ou se fosse o meu filho não fazia estas “birras”. É nestes momentos que a empatia
da parte do outro parece ser reduzida, por vezes nula… Mas, torna-se importante
esclarecer algumas questões:
- se os pais têm impacto no desenvolvimento das
crianças? Claro que sim, como em qualquer criança!
- Estas crianças têm de ter
regras? Claro que sim, como qualquer criança!
- Estas crianças sentem o amor,
carinho e afeto que lhe damos e sentem falta dele? Claro que sim, como qualquer
criança!
Mas… nem sempre tudo é controlável nestas crianças, nem sempre é
possível controlar o sofrimento em que se envolvem em determinadas situações,
com determinados estímulos.
E aqui, dirijo-me particularmente aos pais; estes pais, futuros pais, os pais que se
sentem perdidos, os pais que querem aprender, os pais que procuram ajudar e que
querem ajuda, os pais que procuram saber. Estes pais merecem e precisam desse suporte!
Merecem e precisam , acima de tudo, de compreensão e empatia. Merecem e precisam de apoio de profissionais
que os ajudem a conseguir ajudar, lidar, criar e desenvolver os seus filhos. Os profissionais de saúde, os psicólogos, são igualmente essenciais para contenção e suporte destes pais, dando estratégias, escutando angústias e medos, contendo as suas
incertezas. Os Psicólogos ou Técnicos de Saúde Mental são essenciais para os filhos e imprescindíveis para os pais!
Drª Rita Rana
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