quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O meu filho é autista... e agora?








A realidade da Perturbação do Espetro do Autismo está cada vez mais presente na nossa sociedade, os números aumentam e continua a incerteza da causa específica pela qual esta patologia surge. Será genético? Será que a culpa é minha? Será que não o acompanhei o suficiente? Estes são pensamentos que por vezes inundam os pais, os cuidadores destas crianças… Muitas das vezes surge a negação em primeira instância. Afinal de contas quando se pensa ter o “bebé ideal”, aquele com que os pais sonharam… sem aviso prévio, sem que nada o fizesse prever, alguém diz que o filho apresenta uma patologia que o irá acompanhar para o resto da vida… O meufilho é autista… e agora?

A partir daí os pais passam por muitos processos, o luto do objeto idealizado, para passarem a aceitar o objeto real. Depois desta fase chegam as dúvidas, as projeções para um futuro incerto: Que dificuldades o meu filho irá ter? Será que vai falar? Será que vai conseguir fazer o mesmo que os outros fazem? Será que vai conseguir brincar com as outras crianças? Qual será a melhor escola? Será que vai ser aceite pelos outros? O que lhe vai acontecer quando eu não estiver por perto? Estas e muitas outras questões surgem no pensamento dos pais ao longo da vida. A ansiedade é muita e aparece em diversos momentos, como quando não se verificam evoluções, quando na escola dizem que parece que está a regredir, tanto na aprendizagem, como no comportamento e nas relações interpessoais com os pares e, por vezes, a única solução que parece chegar de todas as partes é a medicação, aquela palavra terrível que invade os pais de uma enorme preocupação, medo e sentimentos de angústia e impotência (será que vai ter de tomar isto para o resto da vida?).

Todos parecem saber o que é melhor para o seu filho… E quando a criança/jovem não consegue lidar com todos os estímulos externos que surgem ao mesmo tempo num local público? Quando da sua forma particular de o fazer, seja através das estereotipias ou das vocalizações extremas… E os pais nestes momentos reparam nos olhares e comentários “discretos” de quem está à volta e que parece não compreender – aqueles pais não sabem controlar os filhos, de certeza que não o sabem educar ou se fosse o meu filho não fazia estas “birras”. É nestes momentos que a empatia da parte do outro parece ser reduzida, por vezes nula… Mas, torna-se importante esclarecer algumas questões: 

- se os pais têm impacto no desenvolvimento das crianças? Claro que sim, como em qualquer criança! 
- Estas crianças têm de ter regras? Claro que sim, como qualquer criança! 
- Estas crianças sentem o amor, carinho e afeto que lhe damos e sentem falta dele? Claro que sim, como qualquer criança! 

Mas… nem sempre tudo é controlável nestas crianças, nem sempre é possível controlar o sofrimento em que se envolvem em determinadas situações, com determinados estímulos.
E aqui, dirijo-me  particularmente aos pais; estes pais, futuros pais, os pais que se sentem perdidos, os pais que querem aprender, os pais que procuram ajudar e que querem ajuda, os pais que procuram saber. Estes pais merecem e precisam desse suporte! Merecem e precisam , acima de tudo, de compreensão e empatia. Merecem e precisam de apoio de profissionais que os ajudem a conseguir ajudar, lidar, criar e desenvolver os seus filhos. Os profissionais de saúde, os psicólogos, são igualmente essenciais para contenção e suporte destes pais, dando estratégias, escutando angústias e medos, contendo as suas incertezas. Os Psicólogos ou Técnicos de Saúde Mental são essenciais para os filhos e imprescindíveis  para os pais!


Drª Rita Rana


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