quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Uma coligação natural: os pais...






Os pais precisam de harmonizar, na dinâmica específica da relação parental, as suas crenças e práticas educativas, uma vez que constituem uma coligação igualitária, ou seja, numa situação natural, e desejável, cada um dispõe de 50% de responsabilidade educativa. De outro modo, será introduzido algo muito artificial, inquietante e desarmonioso no desenvolvimento infantil, dado que um dos pais não tem, na sua essência, um maior/menor valor do que o outro. De facto, exceptuando os casos de negligência ou de quaisquer maus-tratos face aos filhos, ambos os pais devem ser considerados e respeitados por aquilo que são, na sua justa e equilibrada importância.

As conversações, em privado e regulares, são muito importantes numa qualquer coligação, e designadamente na relação entre os pais,sendo importante realçar que existem, tipicamente, as perspectivas educativas particulares da mãe e do pai, e a via virtuosa do meio, da conciliação, operacionalizada pela procura activa de um acordo. Nesta articulação, é necessário haver humildade, respeito e valorização de ambos os pais. Quando assim suceder, as distintas perspectivas parentais não serão sentidas como atritos indesejáveis, mas sim como elementos enriquecedores para uma visão inicial alargada, a partir da qual se tornará viável escolher, de seguida, uma orientação educativa melhorada, de síntese dos contributos maternos e paternos.

Infelizmente, a alternativa a essa conciliação passa, muitas vezes, por «convidar» as crianças a escolher um dos lados do conflito parental. Deste modo, ocorrerá uma situação propícia à expressão da terrível angústia de ter que optar por um pai em detrimento do outro, na medida em que ao aliarem-se a um dos pais, as crianças sentirão um inevitável e doloroso afastamento relacional face ao outro progenitor conjugado com uma penosa sensação de culpa.

É importante frisar que é da relação com os pais - quer permaneça ou não uma relação conjugal - que as crianças, realmente, dependem no seu processo de crescimento físico e desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental. Por isso, na eventualidade de um processo de divórcio, será muito importante que os pais se concentrem naquilo que ficou da sua relação, ou seja, nos papéis parentais que permanecem vivos, activos e relevantes. Caso esse foco, da realidade, fique bem definido, o bem-estar de todos os elementos da família será mais facilmente prosseguido e, em particular, o referente às crianças; de outra forma, será instalado o mal-estar na família, sendo, obviamente, os pais os responsáveis por resolver essa situação turbulenta do melhor modo possível. Nestas circunstâncias, poderá ser crucial a realização de um processo de consultas de aconselhamento parental, o qual facilite o desenvolvimento de uma comunicação aberta, assertiva e de construção de consensos educativos básicos entre os pais.

Concomitantemente, poderá ser pertinente um eventual processo psicoterapêutico individual a algum elemento da família (pai, mãe ou crianças), com o propósito de acolher e significar o sofrimento decorrente de uma mudança muito tensa e conflituosa nas dinâmicasfamiliares, como infelizmente, acontece ainda, tantas vezes, nos divórcios…


Psicólogo Clínico




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