Os pais precisam de harmonizar, na dinâmica específica da
relação parental, as suas crenças e práticas educativas, uma vez que constituem
uma coligação igualitária, ou seja, numa situação natural, e desejável, cada um
dispõe de 50% de responsabilidade educativa. De outro modo, será introduzido
algo muito artificial, inquietante e desarmonioso no desenvolvimento infantil,
dado que um dos pais não tem, na sua essência, um maior/menor valor do que o
outro. De facto, exceptuando os casos de negligência ou de quaisquer
maus-tratos face aos filhos, ambos os pais devem ser considerados e respeitados
por aquilo que são, na sua justa e equilibrada importância.
As conversações, em privado e regulares, são muito
importantes numa qualquer coligação, e designadamente na relação entre os pais,sendo importante realçar que existem, tipicamente, as perspectivas educativas
particulares da mãe e do pai, e a via virtuosa do meio, da conciliação,
operacionalizada pela procura activa de um acordo. Nesta articulação, é
necessário haver humildade, respeito e valorização de ambos os pais. Quando
assim suceder, as distintas perspectivas parentais não serão sentidas como
atritos indesejáveis, mas sim como elementos enriquecedores para uma visão
inicial alargada, a partir da qual se tornará viável escolher, de seguida, uma
orientação educativa melhorada, de síntese dos contributos maternos e paternos.
Infelizmente, a alternativa a essa conciliação passa, muitas
vezes, por «convidar» as crianças a escolher um dos lados do conflito parental.
Deste modo, ocorrerá uma situação propícia à expressão da terrível angústia de
ter que optar por um pai em detrimento do outro, na medida em que ao aliarem-se
a um dos pais, as crianças sentirão um inevitável e doloroso afastamento
relacional face ao outro progenitor conjugado com uma penosa sensação de culpa.
É importante frisar que é da relação com os pais - quer
permaneça ou não uma relação conjugal - que as crianças, realmente, dependem no
seu processo de crescimento físico e desenvolvimento emocional, cognitivo e
comportamental. Por isso, na eventualidade de um processo de divórcio, será
muito importante que os pais se concentrem naquilo que ficou da sua relação, ou
seja, nos papéis parentais que permanecem vivos, activos e relevantes. Caso
esse foco, da realidade, fique bem definido, o bem-estar de todos os elementos
da família será mais facilmente prosseguido e, em particular, o referente às
crianças; de outra forma, será instalado o mal-estar na família, sendo,
obviamente, os pais os responsáveis por resolver essa situação turbulenta do
melhor modo possível. Nestas circunstâncias, poderá ser crucial a realização de
um processo de consultas de aconselhamento parental, o qual facilite o
desenvolvimento de uma comunicação aberta, assertiva e de construção de
consensos educativos básicos entre os pais.
Concomitantemente, poderá ser
pertinente um eventual processo psicoterapêutico individual a algum elemento da
família (pai, mãe ou crianças), com o propósito de acolher e significar o
sofrimento decorrente de uma mudança muito tensa e conflituosa nas dinâmicasfamiliares, como infelizmente, acontece ainda, tantas vezes, nos divórcios…
Psicólogo Clínico
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