O
processo de idealização de quem ou do que quer que seja, por inerência do
movimento, é um ensejo produtivo, expansivo e que rasga o horizonte interno e
externo do indivíduo e lhe assegura, ainda que transitoriamente, o experienciar
do seu potencial criativo de construção de um (seu) universo de possibilidades.
Dir-se-ia, no sentido lato, a paixão.
Pelo
contrário, o desencanto, enquanto desconstrução anacrónica e desorganizada do
ideal, apresenta-se como desvelar último do destemperamento e esvaziamento da
relação de objecto internalizada ou, até, em solução negativa, a regressão à
clivagem para a componente agressiva dessa relação, com o necessário sobrevir
das nuances paranóides, alicerçadas num clima afectivo intenso, de mágoa,
ressentimento e, amiúde, raiva narcísica. Pensar-se-ia, também pela toada da
narrativa, em decepção.
Ambos,
de forma mais ou menos velada, acabam por cumprir, aparentemente, duas
necessidades, mesmo inevitabilidades do psiquismo. Desde logo, asseguram os
movimentos progredientes e regredientes que traduzem o continuum de ligação-construção e o continuum de desligamento-destruição, respectivamente. Escrever-se-ia,
do eros e thanatos. Complementarmente, asseveram e testemunham a paradoxal
aspiração homeostática da nossa mente; i.e., a tentativa vã de um “para lá do
conflito”, mas, sobretudo, de um “para lá da angústia existencial”. Adite-se,
ainda, a este propósito, o quão inexorável é a relação entre esta busca e o
princípio biológico (celular) e da física (atómico). No fundo, a
consubstanciação última da ligação ontológica universal: psique-soma-cosmos.
Sugerir-se-ia, a unicidade.
Torna-se
portanto crucial admitir e aceitar o encanto e o desencanto, a paixão e a
decepção, a conquista e a perda, enquanto expressões primárias e últimas de uma
experiência subjectiva plena, profundamente humana, tradutora de uma inquietude
intelectual e afectiva vívida e de um inconformismo vivencial nato. É também
essa a função do empreendimento e espaço psicoterapêutico: a oportunidade única
de, gradualmente, acedermos à relatividade das nossas perdas e valia das nossas
conquistas. O acesso a uma ambivalência complacente de que - terminar-se-ia -
tudo isso, outrora como agora, é viver.
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