Seja na literatura, no cinema ou noutras
formas de metaforização da condição humana, o ciúme parece emergir como um tema
recorrente e apelativo. Talvez porque, na complexa trama das relações, o ciúme
ocupa um lugar de substantiva importância, permeando as mais diversas
interações entre pessoas.
Poderíamos pensar no ciúme como um afeto
que é parte integrante da estrutura do sujeito, aludindo à concepção freudiana
de que, em certa medida, este é um estado emocional que, tal como o luto, pode
ser descrito como normal, constituindo a própria realidade inconsciente do
sujeito. Mas, pensar nesta dimensão, implica desdobrá-la nas suas múltiplas formas
e expressões.
Na verdade, pensar no ciúme enquanto
reação à perda do objeto amado seria considerado uma resposta adaptativa e
ajustada, substantivamente diferente de outras formas de manifestação do mesmo,
onde o sofrimento decorrente deste estado afetivo é exacerbado e acompanhado de
uma angústia recorrente. Na expressão patológica do ciúme, a vivência deste
estado afetivo implica o mito de que irá ser-se traído, pelo que o sujeito vai atuando
esse medo através de uma procura ávida por sinais que o confirmem. A realidade
é, muitas vezes, amplificada ou mesmo confundida, fantasiada, sendo o outro o
receptáculo de angústias primárias e projeções maciças, cuja origem importa que
seja investigada e trabalhada.
Quando este fantasma permeia o vínculo do
casal, há um sofrimento inerente que, podendo ser mais ou menos exacerbado, se
transforma num modelo de relação aprisionante, impossibilitando a criatividade,
a liberdade e a complementaridade, tão necessárias a uma relação saudável.
Neste contexto, a terapia de casal pode
representar a possibilidade de encontrar novos caminhos, para que o espaço
entre o casal possa (re)construir-se como um lugar seguro, clarificando os
legados, as heranças, os fantasmas que cada um carrega da sua história e que
reatualiza na relação a dois.
Drª Joana Alves Ferreira
O Canto da Psicologia
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