Todos os dias somos bombardeados com notícias que nos contam
sobre o “impossível” sobre o que consideramos que nunca pode acontecer, meninas
nigerianas, estudantes, sequestradas pelos terroristas, que lançou o movimento
internacional #Bringbackourgirls, catástrofes naturais, guerra, acidentes
graves nos transportes públicos, criança que cai num poço e fica desaparecida,
são tudo eventos traumatizantes que deixam consequências quer na vítima direta,
quer nos familiares próximos, cujos efeitos psíquicos podem ser avassaladores.
O nome científico para denominar a perturbação que se pode desenvolver após a
catástrofe é o Stress Pós Traumático, como o próprio nome indica consiste, num
trauma psíquico provocado por um evento externo que não é previsível, nem
controlado, dado fator de susto que provoca a experiência intensa e que impede
a capacidade de equilíbrio emocional, face ao medo, desamparo, impotência e
angústia da situação. A estrutura psíquica do individuo fica assim danificada,
provocando sintomas de desequilíbrio emocional frequentes, nomeadamente, ansiedade
permanente, perturbações do sono, com pesadelos ou mesmo flashbacks do
acontecimento, pensamentos intrusivos, estado de híper-vigilância, constante
alerta de que algo imprevisível pode ocorrer, taquicardíacas, tremores, incapacidade
de concentração, psicossomatizações.
A Associação Americana de Psiquiatria, define o conceito trauma
como uma experiência individual direta de um evento que envolva morte, ameaça
de morte ou ferimento grave, ou outra ameaça à integridade física; ou observar
um acontecimento de morte, ferimento grave ou ameaça à integridade de outra
pessoa; ou ter conhecimento de uma morte violenta ou inesperada, ferimento grave
ou ameaça de morte experienciada por um familiar ou amigo próximo.
As raparigas adolescentes que foram sequestradas em Abril de
2014, pelos terroristas na Nigéria, ainda continuam, pelo menos 112
desaparecidas neste momento, em Janeiro de 2019. O trauma de algumas que foram
resgatadas é incalculável sendo que trouxe consequências na vida das mesmas,
como por exemplo, algumas deixaram de estudar, uma vez que foram sequestradas
na escola. O stress que provoca estar no mesmo contexto do acontecimento traumático,
leva as vitima a evitarem as fontes associadas ao trauma.
O ser humano naturalmente procura uma homeostase, um equilíbrio
bio-emocional para poder funcionar no seu dia-a-dia. O impossível acontece
quando um evento imprevisível sucede e retira toda a confiança e tranquilidade
na vida e no seu natural curso, a capacidade do ser humano resistir e conseguir
regular as suas emoções, de modo a criar significado para a experiência, vai
depender da resiliência de cada sujeito, assim como, de fatores como
organização psíquica, personalidade e experiências de vida. Como tal esta
regulação e superação tem um caracter subjetivo, embora o apoio
psicoterapêutico, seja fundamental para apoiar a vítima em todo este processo. Perante
a ocorrência de um acontecimento traumático o sujeito reorganiza uma nova forma
de estar e de ver o mundo que o rodeia, o que pode gerar uma mudança
significativa nos seus padrões de funcionamento psíquico. Normalmente, sentimos
o mundo como um local seguro e relativamente controlável, considerando as mais
diversas ações e tarefas que desempenhamos durante o quotidiano, como
asseguradas por nós e, por isso, dentro do nosso controlo, pelo que decidimos o
que queremos e não queremos fazer, aquilo que pensamos e recordamos. No
entanto, na sequência de um acontecimento traumático existe um reajuste na
nossa maneira de ver o mundo, que leva o seu tempo a resolver.
Assim sendo uma construção de personalidade mais rígida ou
inflexível, poderá dificultar este processo de reajustamento do sujeito, dado a
necessidade implícita de controlo, por outro lado uma personalidade mais
plástica e adaptativa terá, á partida, outros recursos para que com o passar do
tempo, possa superar o evento traumatizante.
Drª Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia
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