O amor é delicado. Envolve respeito, atenção, cuidado, escuta, relação.
Em
véspera do dia dos namorados, nada mais presente à nossa volta do que imagens e
anúncios alusivos ao amor. Contudo, amor e enamoramento revestem-se não só de imagens
e palavras, mas sobretudo do sentir e do estar (dentro de nós, dentro do
outro).
A
procura de um outro, seja numa relação de amor romântico ou de um outro tipo,
faz parte da natureza humana. Ainda antes do nascimento, na relação diádica entre mãe e bebé, a dependência face ao outro, é rampa de lançamento para o
vínculo afetivo.
Amar é,
situar-se num lugar um pouco estranho, de alguma vulnerabilidade até, permitindo-se
estar “ao cuidado de alguém”, ou melhor dizendo em comunhão com alguém, criando-se
um espaço de intimidade (psíquica).
Sabemos
hoje que as relações amorosas adultas são o palco das experiências relacionais
da infância (Rusczynski, 2006). No entanto, os atores nelas envolvidos (o casal
romântico), tem a possibilidade de criar na relação algo de novo, que seja
complementar para cada um. Deste modo, e como refere Freud (1910) “É
absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto de
primeira escolha amorosa. Porém, a líbido não permanece fixa neste primeiro
objeto: posteriormente apenas o tomará como modelo, passando dele para outras
pessoas estranhas (…).”. Falamos então de amor adulto quando se está perante uma relação madura, promotora de mudança (no self) e que
simultaneamente responda às exigências atuais do amor adulto (Mesquita, 2010),
onde se pode estabelecer uma relação complementar e não apenas para se sentir
completo - estar com o outro para criar. No fundo somos todos seres desejantes
de amor, como nos fala Coimbra de Matos (2004): “Quem procura o amor sempre
o encontra, não fôramos todos seres disso desejantes. Desde que, à cabeça
sejamos amadores; que o amor não se compra, nem se agradece, mas retribui-se.
Quem ama sempre acabará por ser amado – desde que não desespere ou converta a
falta e frustração em ódio e raiva.”
Importa
então assinalar que o amor (amar alguém) inclui desejos e fantasias
inconscientes associadas à infância, o que faz também deste sentimento algo
único e idiossincrático, pois depende sempre do que cada pessoa “necessita”, e
naturalmente procura no outro.
Amar
é, confiar no outro, sendo que este sentir é aperfeiçoado quanto mais seguros
na relação nos é permitido estar. É para isso novamente importante referir a noção de amor infantil. O lugar do amor do outro dentro de nós, ou seja, é
essencial que ao longo do desenvolvimento do sujeito se crie uma constância
(interna) do amor que outro (mãe, cuidador/a) tem em relação ao bebé/criança. Por
outras palavras, numa fase inicial do nosso desenvolvimento é fundamental que
aquele que cuida possa ter um comportamento previsível e dedicado, para que a
segurança se instale. Progressivamente, este estado de segurança interna
possibilita que o outro possa existir, mesmo quando ausente, o que leva a que,
por exemplo, mãe e bebé se possam separar sem que este fique angustiado.
Nas
relações amorosas adultas acontece algo semelhante. Numa fase inicial, a que
podemos chamar de enamoramento/sedução, há que criar um espaço seguro, de
intimidade, onde dois sujeitos (a díade) se conhecem e criam uma linguagem
própria. Portanto a dança acontece, o movimento dos corpos (comunicação) é
sintonizado, e o compasso e ritmo vão sendo pautados pela música que cada um
traz para a relação.
Bom,
retomando a premissa inicial, repito – o amor é delicado, e, fazendo
minhas as palavras de Isabel Mesquita (2010), “Hoje digo que se eu escrever,
um dia, um livro sobre o amor, terá 100 páginas, 99 das quais em branco e na
última apenas escreverei: a grande vantagem do Amor é que pouco se sabe falar
sobre ele e, como tal, andamos sempre dele à procura!”.
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