quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A delicada arte de amar...



O amor é delicado. Envolve respeito, atenção, cuidado, escuta, relação.


Em véspera do dia dos namorados, nada mais presente à nossa volta do que imagens e anúncios alusivos ao amor. Contudo, amor e enamoramento revestem-se não só de imagens e palavras, mas sobretudo do sentir e do estar (dentro de nós, dentro do outro).
A procura de um outro, seja numa relação de amor romântico ou de um outro tipo, faz parte da natureza humana. Ainda antes do nascimento, na relação diádica entre mãe e bebé, a dependência face ao outro, é rampa de lançamento para o vínculo afetivo.
Amar é, situar-se num lugar um pouco estranho, de alguma vulnerabilidade até, permitindo-se estar “ao cuidado de alguém”, ou melhor dizendo em comunhão com alguém, criando-se um espaço de intimidade (psíquica).

Sabemos hoje que as relações amorosas adultas são o palco das experiências relacionais da infância (Rusczynski, 2006). No entanto, os atores nelas envolvidos (o casal romântico), tem a possibilidade de criar na relação algo de novo, que seja complementar para cada um. Deste modo, e como refere Freud (1910) “É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto de primeira escolha amorosa. Porém, a líbido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente apenas o tomará como modelo, passando dele para outras pessoas estranhas (…).”. Falamos então de amor adulto quando se está perante uma relação madura, promotora de mudança (no self) e que simultaneamente responda às exigências atuais do amor adulto (Mesquita, 2010), onde se pode estabelecer uma relação complementar e não apenas para se sentir completo - estar com o outro para criar. No fundo somos todos seres desejantes de amor, como nos fala Coimbra de Matos (2004): “Quem procura o amor sempre o encontra, não fôramos todos seres disso desejantes. Desde que, à cabeça sejamos amadores; que o amor não se compra, nem se agradece, mas retribui-se. Quem ama sempre acabará por ser amado – desde que não desespere ou converta a falta e frustração em ódio e raiva.”

Importa então assinalar que o amor (amar alguém) inclui desejos e fantasias inconscientes associadas à infância, o que faz também deste sentimento algo único e idiossincrático, pois depende sempre do que cada pessoa “necessita”, e naturalmente procura no outro.
Amar é, confiar no outro, sendo que este sentir é aperfeiçoado quanto mais seguros na relação nos é permitido estar. É para isso novamente importante referir a noção de amor infantil. O lugar do amor do outro dentro de nós, ou seja, é essencial que ao longo do desenvolvimento do sujeito se crie uma constância (interna) do amor que outro (mãe, cuidador/a) tem em relação ao bebé/criança. Por outras palavras, numa fase inicial do nosso desenvolvimento é fundamental que aquele que cuida possa ter um comportamento previsível e dedicado, para que a segurança se instale. Progressivamente, este estado de segurança interna possibilita que o outro possa existir, mesmo quando ausente, o que leva a que, por exemplo, mãe e bebé se possam separar sem que este fique angustiado.

Nas relações amorosas adultas acontece algo semelhante. Numa fase inicial, a que podemos chamar de enamoramento/sedução, há que criar um espaço seguro, de intimidade, onde dois sujeitos (a díade) se conhecem e criam uma linguagem própria. Portanto a dança acontece, o movimento dos corpos (comunicação) é sintonizado, e o compasso e ritmo vão sendo pautados pela música que cada um traz para a relação.
Bom, retomando a premissa inicial, repito – o amor é delicado, e, fazendo minhas as palavras de Isabel Mesquita (2010), “Hoje digo que se eu escrever, um dia, um livro sobre o amor, terá 100 páginas, 99 das quais em branco e na última apenas escreverei: a grande vantagem do Amor é que pouco se sabe falar sobre ele e, como tal, andamos sempre dele à procura!”.






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