Do
medo à esperança (de
Raquel Varela e António Coimbra de Matos). Frase muito apropriada nos tempos
atuais. Vivemos num período de reconstrução, renovação, das relações e da
confiança. No meio de tudo isto, surge a questão - “onde para a relação
terapêutica?”.
Diria
que nunca saiu do seu lugar, embora tempo e lugar sejam eles
agora diferentes, pautados por uma nova intimidade e limites ainda um pouco
desconcertantes. Terapeuta e paciente
puderam reinventar-se, mantendo a relação que os faz encontrar, num formato
novo e possível – “à distância de um click”. O mais importante, o
encontro (terapêutico), continua a possibilitar a existência de um espaço
seguro, co-construído a dois que permita entre muitas outras coisas, passar
“do medo à esperança”. Ora, o caminho faz-se caminhando, e de fato, que
bom que hoje a relação terapêutica, como muitas outras se puderam munir das
novas tecnologias. Não devemos esquecer, nem subestimar a importância do
contexto “face a face” do consultório, mas o amor terapêutico é passível de
criação, não fosse ele fértil e gerador de transformação!
De
repente parece que o outro nunca nos fez tanta falta. A saudade
(conceito tão português) apoderou-se de todos, fomos para a janela gritar “Vai
ficar tudo bem!”, com a esperança de que melhores dias viessem. Neste
período, agora mais estável, em que ficámos confinados, fomos sentindo uma
estranheza face à nova normalidade. Sentimo-nos frustrados porque não
podíamos fazer o que era habitual, sair de casa, estar com a família...este
sentimento não é de todo agradável, podendo gerar angústia, agressividade. Mas,
lembro-me também das palavras de Coimbra de Matos, “Não à frustração, sim ao desenvolvimento
da capacidade de espera”. E aqui podemos retomar à relação terapêutica,pois não será também ela digna de um tempo único e singular, propícia ao dar
tempo ao tempo?
Se
houve algo que o período de quarentena nos trouxe foi tempo, um tempo por vezes
desconhecido. Dizia-se em jeito de anedota “agora que tenho estado com a minha
mulher, até me parece alguém interessante”. Estar com o outro adquiriu uma nova
dimensão – “não te conhecia e vivo contigo”, “tenho saudades da escola e não
gostava de ir para a escola”.
O
medo – do vírus, de
ficar doente, de perder o outro – adquiriram uma certa legitimidade. Mas, há
que ver (e construir) o reverso da medalha, a esperança. E permito-me
ressaltar a coragem, “que é o oposto da cobardia (o medo intrínseco),
que é transmitida pela força dos maiores: os pais na vida, o psicanalista na
cura.” (Coimbra de Matos).
Retomando
a questão – “onde para a relação terapêutica?”, nós O Canto da
Psicologia, relembramos que continuamos aqui para si, à distância de um
click, bem como nos lugares habituais, de norte a sul do país.
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