Vivemos este
período marcado por tantos constrangimentos, em que as condições da nossa
realidade foram significativamente alteradas e ficámos privados de tantas
coisas tão importantes, é como se o mundo de cada um tivesse encolhido um pouco
(ou muito… a medida vai de quem o sente). A necessidade de nos adaptarmos foi,
e é ainda, imperiosa, nesta fase já se pode sair de casa, desconfinámos, mas as
incertezas são muitas, não se sabe que consequências pode ter determinada saída
ou como irão correr as coisas de futuro.
A vivência da incerteza
e da ausência de controlo, características inerentes da condição humana,
intensificaram-se de tal forma que se impuseram no que é o dia a dia das
pessoas e se tornou difícil de afastá-lo da consciência (o que também é
importante, poder esquecê-lo).
O contacto
social, essencial para a vida, mental e física, tornou-se praticamente interdito,
ou pelo menos limitado. O que antes era consolo e alegria, como um abraço, pode
ser agora risco de contágio… Será prudente e necessário reduzirmos os abraços, limitá-los
relativamente ao número de pessoas, mas não será igualmente prudente e
emergente que continuem a existir? Tratar-se-á de dosear o que se faz, nivelar
o campo de ação, adaptar as expetativas e os objetivos de acordo com os novos
parâmetros? No sentido em que se minimizam os riscos e se escolhem as melhores
condições possíveis para manter aquilo que é salutar como o convívio com os
outros?
Se esta
incerteza e ausência de controlo que se impõem trazem dificuldades, ansiedade
por exemplo, por outro lado já nos são conhecidas, já lidávamos com elas, mais
ou menos conscientemente… poderemos então continuar a fazê-lo? E continuar a
viver da melhor forma possível?
Continuemos,
continuar também se impõe. Controle-se o que se pode (como os cuidados de
higiene por exemplo), e o que não se puder, que se aceite, ou se torne possível
aceitar, com relativa tranquilidade. Entenda-se e aceite-se que é natural que
se produza menos, que se alcance menos, que se “tenha menos cabeça”. É natural sentir mais ansiedade ou experienciar mais estados depressivos.
Que sentido pode
este período ter para cada um? Como é que este período e acontecimento pode
ligar-se à sua narrativa pessoal? Trouxe dificuldades, potenciou dores antigas,
fez reavivar feridas que pareciam saradas? Trouxe também algo de positivo? Foi
possível aproximar-se de alguém significativo, foi possível valorizar coisas
que faziam parte do quotidiano, mas passavam despercebidas (como as pessoas que
relatam que passaram a usufruir muito mais das suas casas), descobrir ou
redescobrir alguns gostos e aptidões? Foi possível, por ter revisitado algumas
feridas, ter-se a oportunidade de as sarar melhor? Poderá constituir-se como um
daqueles momentos da vida que, por muito desafiante também se reveste de
aprendizagem e potencial evolutivo?
São muitos os
aspetos que requerem reflexão, e uma coisa parece essencial, que os objetivos
de cada um, de toda a ordem, possam ser novos objetivos adequados à nova
realidade que se vive.
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