quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Melhor Parentalidade: “Aquilo que não gosto em ti corrijo em mim”





A propósito das reações que temos quando algo no outro, nos aflige ou nos perturba, é difícil compreender, mas por vezes, quando de forma sistemática e intensa emocionalmente, algo nos irrita, na outra pessoa, isso pode sinalizar que temos algo, em nós, que necessita de ser resolvido.

Normalmente a zanga, a irritação, a frustração fazem parte das nossas experiências e vivências emocionais quotidianas, é impossível e até seria doentio estar sempre bem, com boas emoções, não é disso que se trata, neste caso, a questão é quando alguém suscita em nós grande zanga e irritação de uma forma sistemática e frequente. Isto é uma repetição de queixas que podem estar a mascarar o que sentimos sobre nós próprios, que pode ser verdade. Todas as nossas emoções são fundamentais para o nosso equilíbrio homeostático, precisamos de nos zangar, de chorar, de rir, para que possamos sentir paz.
Contudo a forma como vemos o mundo e a realidade está intrinsecamente relacionada, com a maneira como nos vemos, a nós próprios e nos relacionamos connosco, uma vez que se não me sentir bem comigo, se passar a vida com uma auto-conversa depreciativa e crítica sobre a minha pessoa, então apenas poderei dar isso aos outros, mais crítica, julgamento e insatisfação.

Na parentalidade isto manifesta-se ainda mais, se escolho exercer uma parentalidade baseada na crítica, no julgamento e na exigência, então o mais certo é ter crianças com baixa auto estima e elas, também, vão ser adultos críticos e severos consigo e com os outros. A maior parte dos problemas de educação das crianças prendem-se com falta de estímulo, atenção e elogio direcionado à criança que ainda esta a construir a sua auto estima e a sua segurança interna. Pais insatisfeitos e pouco conscientes acabam por, automaticamente, projetar as suas próprias inseguranças nos seus filhos. Por vezes temos receio de assumir características que rejeitamos ou consideramos erradas e inaceitáveis nos outros, tal é o receio de podermos identificar, em nos próprios, esses mesmos traços. Quanto maior a rigidez identitária maior será a falta de tolerância para aceitar o que é diferente, não certo, nem errado, apenas diferente.

A forma como os pais pensam sobre os filhos e como os tratam, vai influenciar todos os relacionamentos futuros, assim como, a saúde psicológica de cada um.

Ao longo do desenvolvimento da criança organiza-se um processo mental sobre o que esperar dos comportamentos dos mais familiares, normalmente mãe, pai, denomina-se de vinculação, sentido de pertença e de segurança. As figuras centrais que estão maioritariamente com a criança, principalmente nos primeiros três anos de vida, vão criar dinâmicas relacionais que irão moldar o sentido de identidade, segurança e de amor-próprio na criança, bem como no futuro adulto. Sentimentos como sou especial, amável, tenho importância na vida dos meus familiares, a minha voz conta, sou compreendido, quando estou aflito tenho onde possa obter conforto emocional. Se algo corre mal sei que tenho palavras e ações que revelam apoio esperança e não critica, julgamento e severidade. Estas são as melhores heranças que os pais nos podem dar, a segurança do conforto emocional, do amor incondicional, que não quer nada em troca a não ser a felicidade dos seus filhos. Contudo por vezes há incapacidade de desenvolver este amor incondicional devido a falhas que foram criadas no desenvolvimento e que impossibilitam esta disponibilidade.

Assim sendo as expetativas que os pais criam, mesmo antes do nascimento do bebe, vão criar um ninho psicológico onde o mesmo se irá adaptar. A criança procura sempre se adequar às expetativas dos pais, quer sejam, positivas, negativas, conscientes, inconscientes. Por exemplo, se os pais assumirem a crença de que as crianças são difíceis e que o filho\a é difícil e tem mau feitio, o mais certo é essa criança desenvolver essas mesmas características. Quanto mais vincado, consistente e frequente for o sentimento\crença mais a criança irá assumir comportamentos semelhantes que se coadunam com o que esperam dela, isto porque, os pais são como um espelho onde o bebe\criança se pode ver refletido e, assim, construir a sua própria identidade. O que as figuras de vinculação sentem que são (essencialmente boas pessoas, imperfeitos, mas conscientes, resilientes e positivos) é o que vão transmitir tendo consciência ou não aos seus filhos, sem pensar muito no assunto. Assim sendo quando as figuras de vinculação estão bem nutridas, com uma boa auto-estima, tem auto conhecimento, consciência das suas vulnerabilidades e trabalham no sentido de promoverem a melhor parentalidade que é possível, normalmente irão desenvolver crianças mais inteligentes emocionais e mais flexíveis, no que concerne a adaptabilidade emocional e a regulação da frustração. Não se trata de perfeição, pais perfeitos, trata-se de capacidade de análise e procura de dar o nosso melhor nas relações, mesmo sabendo que vão existir falhas e momentos menos bons. Neste sentido quanto mais forem capazes de lidar com as suas próprias frustrações, conseguirem ser resilientes e otimistas, mais os filhos vão se desenvolver tendo por base estas formas de funcionamento psicológico.




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