Dia 22 de Maio
Hoje, cheguei mais cedo. Questiono-me, ( já vou fazendo
isso)porque será? Não apanhei trânsito,
é uma hipótese! Saí mais cedo, é outra! Mas ficou claro para mim que uma das
regras deste processo é a pertinência de chegar exactamente a horas: nem antes,
nem depois da hora estipulada… logo, estes dez minutos que antecedem o meu
toque de campainha, a minha hora, estou por aqui na rua a divagar sobre a minha
antecipação de hoje.
Esta última semana foi um pouco atípica, reconheço. Para além da
confusão de processos no trabalho, a
minha irritante colega Maria, com a sua prepotência e arrogância constante, que
me tira do sério, o João, este meu filho
adolescente com uns incansáveis 16 anos, levaram-me ao limite.
Estou aqui de um lado para o outro, a fazer tempo, neste compasso
de espera que me irrita e que faz crescer em mim uma ansiedade desconhecida a
este nível. Porque estou assim? Ainda a semana passada eu me questionava sobre
estes meus “dizeres” a uma estranha! Hoje, aqui e agora, reconheço que me é
necessário este espaço, este tempo. Amanhã não sei se sentirei isto mas, hoje,
faz-me sentido. Preciso verbalizar o que me vai aqui dentro e que teima em me
desgastar.
Detesto lembrar e olhar para a Madalena de ontem, aos gritos
a discutir com o meu filho, descontrolada, a ver a Matilde com um ar terrivelmente
assustado, como se o futuro dela, ao olhar o irmão, não fosse de todo,
aliciante. Com os seus oito anos, ainda está longe da adolescência mas, o que
viu ontem, para já, deve impedi-la de crescer… menos mal, fico tranquila para
aquele lado… estas dores de crescimento deles, batem aqui ,nas minhas próprias
dores de crescimento e, às vezes, não sei o que fazer com elas.
E depois vem o pai que, com aquele ar de defesa de macho,
resolve devolver-me que talvez eu, euzinha, não esteja exactamente nos meus dias
e, para finalizar em grande e deitar mais achas à fogueira que me consome,
pergunta-me: não será que estás naqueles dias do mês? Merda!!!!! Mas ninguém
entende, o que de facto se está a passar? NINGUÉM?!?!?!?!?!?!?
Raios, que nunca mais passam os minutos!!!! E será que ela
me vai entender? Será que ela também me vai perguntar se “estou naqueles dias
do mês”? Eu não me entendo, de facto!! O que se terá passado comigo ontem? É
assim tão complicado o João ir ao aniversário do amigo lá para o Bairro Alto? É
assim tão difícil aceitar que ele é um adolescente e como tal está a
desafiar-se e a desafiar-nos??? Está a CRESCER, carambas!!!! Em contra partida parece que eu é que estou
a decrescer!!!!!
Ah!!! Boa!!! Está na minha hora! Vou tocar!
Bom dia Madalena!
Bom, nem sei o que dizer destes últimos 50 minutos. Ainda
vou aqui a remoer uma série de coisas que eu disse, que ela questionou e que me
levaram a ir lá bem distante, bem distante, a uma adolescência que eu, já nem
me lembrava de ter acontecido: a MINHA!
Curioso… tantas coisas que estavam por
aqui arrumadas e que já nem me lembrava: gargalhadas, risos, angústias, amores,
medos, insatisfação, inquietude… e que fantástico conseguir dar nomes às
coisas!!! Aqueles meus tremeres
constantes, quando alguém do sexo oposto me olhava e sorria e eu não sabia o
que fazer com as minhas mãos: ponho atrás das costa, não? Nos bolsos das calças?
Não, são demasiado justas para lá caberem e mais do que isso, tiram-me “o
cenário”… que giro!!!!! As desculpas
inventadas aos meus pais! A cumplicidade da minha mãe às “mentirinhas” sem
dano, que dava ao meu pai! Meu Deus!!!! Parece que foi há séculos!!!
Bom, e mais, fez-me sentido quando lhe disse, logo ao início, que hoje tinha
chegado 10 minutos mais cedo e ela devolveu-me: - Curioso, podemos pensar sobre isso! Mas, a sua vontade de vir cá hoje, é inquestionável, que lhe parece?
Parece-me mesmo muito bem!!! Bom, vou pensar um pouco mais na adolescência que eu já tinha
esquecido…
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