Diário de Uma Terapia
10 de Julho de 2013
Quando terminou a última sessão e
me dirigi às escadas, desta feita para
descê-las, saí com um estranho conforto aqui por dentro. O subir e descer escadas
nas visitas à psicóloga têm sido acompanhados por muitas emoções, é um facto: a
angústia de não saber o que dizer, a expectativa do que vou encontrar naquele
dia, o medo de chegar atrasada e de falhar, ou o turbilhão em que tantas vezes
saio porta fora, com tanto que pensar!
Mas, desta vez, em alguma coisa
tudo isto foi diferente. O que é curioso, porque falou-se em medos. Ou
resistências. (Bom, continuo a achar que são medos, sim, medos). E talvez fosse
suposto sair, sei lá, assustada. Mas a verdade é que, mesmo falando dos medos e
reconhecendo até que a psicóloga terá alguma razão quando me diz que tocar em
alguns assuntos é difícil para mim, mesmo sendo tudo isso verdade, houve um
conforto e uma serenidade que se instalou quando saí daquele espaço. Uma
espécie de sossego que me é estranho, porque, bem vistas as coisas, não me lembro da última vez que me senti
assim... Assim... E falta-me a palavra! Assim, num lugar que é sobretudo
agradável, que me fez conduzir até casa acompanhada pela Smooth FM, alheia ao
trânsito, ao condutor que apita furioso, à ambulância que passa em alta
velocidade. Eu, apenas eu, numa tranquilidade com que o meu rádio amigavelmente
se sintonizou...
-
Bom dia, Madalena!
E, realmente, nada como uma
sessão de psicoterapia para dar nome ao que se sente. É que a tal palavra que
me faltava, aquela que encaixaria como uma luva neste estado de espírito
entretanto descoberto e que não me surgia de maneira alguma é, para meu
espanto, ACOMPANHADA.
-
“Parece que esse lugar de que fala, onde é
possível viajar sozinha, é um lugar onde começa a sentir-se acompanhada, como
aqui, neste espaço, onde é possível pensar as coisas difíceis sem ter que ficar
absolutamente só com elas.”, disse-me a psicóloga!
E, de repente, recordo-me ainda
durante a sessão, que foi assim que terminou a última, precisamente com
qualquer coisa deste género a respeito de pensar as coisas difíceis... Que não
estaria sozinha nessa tarefa e que poderia contar com aquele espaço! Agora sim,
faz sentido! O que não deixa de ser espantoso, porque embora não tenha
conseguido lembrar-me da palavra ou da expressão que a psicóloga me disse, foi
mesmo assim que me senti, acompanhada. Acompanhada por uma nova forma de
relação, que ainda é difícil de compreender como funciona, mas que parece que
vai ganhando significado... Acompanhada como poucas vezes me senti, entre um
pai ausente e austero e uma mãe que, por vezes, parecia alienar-se um pouco de
tudo e de todos...
À essa equipe que merece a minha admiração e respeito, os meus parabéns mais uma vez! Só quem lida com psicoterapia, tanto como terapeuta, quanto como paciente, sabe o quão acompanhados nos sentimos quando a terapia começa a fazer sentido! É um lugar muito, muito especial! Todos deveriam fazer terapia...Um ótimo dia a vocês! Lila.
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